Latinobarômetro
3 de dezembro de 2010Nos 15 anos em que o Latinobarômetro – uma sondagem socioeconômica sobre a América Latina – publica seus relatórios anuais, esta é a primeira vez que a democracia recebe tanto crédito da população. Apesar dos efeitos ainda perceptíveis da crise econômica em diversos países do continente, o apoio à democracia tende a aumentar, conclui o Latinobarômetro 2010, divulgado nesta sexta-feira (03/12).
Em 2009, quando os efeitos da crise econômica iniciada em 2008 se fizeram sentir nos países da América Latina e do Caribe, o Produto Interno Bruto (PIB) regional sofreu uma queda de 1,9%, o que corresponde a uma diminuição de 3% do PIB per capita. A recessão afetou os mercados de trabalho da região, fazendo a taxa de desemprego regional aumentar de 7,3% em 2008 para 8,2% em 2009.
Na segunda metade do ano passado, a América Latina começou a se recuperar, um processo consolidado ao longo de 2010. Segundo o Latinobarômetro, os prognósticos para o ano corrente indicam um aumento de 5,2% do PIB regional (e de 4,1% do PIB per capita). O aquecimento da conjuntura econômica no continente se refletiu de forma positiva sobre o mercado de trabalho, de modo que se espera para 2010 uma redução de 7,8% da taxa de desemprego.
Otimismo realista
De forma geral, existe – portanto – uma base real para o otimismo dos latino-americanos em relação a suas economias. No Brasil, só 14% da população considera a situação do país má ou muito má. Pelo contrário, 38% de entrevistados brasileiros consideram o quadro econômico do país bom ou muito bom.
O Brasil é sucedido pelo Uruguai (36%) na lista que se encerra com cinco países onde o otimismo econômico é bastante baixo: Nicarágua (9%), El Salvador (9%), México (8%), República Dominicana (7%) e Guatemala (5%). Na América Latina como um todo, 17% dos entrevistados acreditam que a economia tende a melhorar.
Quanto ao principal problema do país, na menção espontânea dos entrevistados, a delinquência e o desemprego continuam liderando a lista. Nos últimos anos, a preocupação com a criminalidade entre os latino-americanos aumentou sensivelmente: em 2009, este era apontado como o principal problema em sete países; em 2010 já são dez países a destacar a delinquência.
Ao mesmo tempo, o desemprego tende a se tornar menos importante na menção espontânea de problemas nacionais. No último ano, o número de países onde a falta de trabalho era considerada o mais grave problema diminuiu de seis para três. No relatório de 2010, os brasileiros mencionaram a saúde como o principal problema nacional, distinguindo-se da maioria dos outros países latino-americanos.
Apoio à iniciativa privada
O otimismo do Brasil em relação ao futuro se manifesta em diversos níveis da sondagem realizada entre os países latino-americanos. O país lidera a lista de maior expectativa econômica para o futuro, com 70% de entrevistados que acreditam num futuro melhor. Quanto ao otimismo em relação ao futuro dos filhos, o Brasil também registra a maior percentagem (6,4%).
Quanto ao sistema econômico, o capitalismo parece convencer os latino-americanos em grande medida. A maior confiança na economia de mercado se registra no Paraguai (65%), no Brasil (63%), no Uruguai, na Venezuela, na Colômbia e na Nicarágua (em todos 62%).
Segundo o barômetro de 2010, 71% dos latino-americanos afirmam acreditar que "a empresa privada é indispensável para o desenvolvimento do país". No Brasil, essa opinião foi expressa por 75% dos entrevistados, uma cota menor que em sete outros países.
Mesmo nos países com a menor aprovação da iniciativa privada – Peru (61%) e Guatemala (59%) – a maioria da população se mostra satisfeita com a economia de mercado. A valorização das empresas pela população atinge agora o ponto mais elevado desde 2004, quando a medição desse quesito foi introduzida no Latinobarômetro.
De 2009 para 2010, essa valorização aumentou pelo menos 10 pontos percentuais em seis países da região. Além disso, o Brasil é o segundo país onde mais se destaca o benefício das privatizações (51%), logo após o Equador (53%).
Democracia em alta
Apesar de o Brasil ser um dos países latino-americanos mais críticos em relação à democracia, 66% dos entrevistados não apoiariam de forma alguma um governo militar. Nesse ponto, o Brasil é o décimo país da lista encabeçada pela Costa Rica, onde 90% rejeitam essa forma de governo.
Após investigar durante 15 anos a postura dos latino-americanos em relação à democracia, o Latinobarômetro aponta em seu relatório de 2010 algumas causas para a crescente rejeição a ditaduras no continente.
Isso tende a ocorrer em países que enfrentam mudanças estruturais na sociedade, com alterações da Constituição e das leis, como no caso da Bolívia. Ainda há países – como o Chile – que tiveram alternância de facções políticas no poder, um fator também interpretado pelo Latinobarômetro como instrumento de consolidação da democracia.
No Brasil, por sua vez, essa tendência se deve à política de inclusão de cidadãos historicamente discriminados, seja por fatores econômicos, seja por sociais. Em 2010, a confiança dos entrevistados brasileiros nas instituições democráticas também cresceu substancialmente, com um aumento de 12 pontos percentuais para o Congresso, 9 pontos para o Judiciário e 8 pontos para o governo.
O país com o maior índice de aprovação do governo também é o Brasil, com 86% dos entrevistados apoiando o presidente Lula ao término de seu governo. Em 11 dos 18 países latino-americanos, mais da metade dos entrevistados aprova o governo. Os índices mais baixos de aprovação são registrados no Peru (30%) e na Argentina (40%).
Brasil visto como líder regional
Há anos, o Brasil é apontado pelos latino-americanos como líder da região. Este ano essa foi a avaliação de 19% dos entrevistados, uma porcentagem um pouco superior à de 2009 (18%).
Na opinião de 61%, a influência do Brasil sobre o continente é positiva; nesse ponto, o país só fica trás dos EUA (67%). O terceiro lugar fica com a Venezuela, cuja influência sobre o continente é considerada positiva por 41% – ou seja, menos da metade – dos entrevistados
Isso se reflete diretamente na popularidade dos líderes políticos desses países no continente. Entre o total dos entrevistados latino-americanos, 73% aprovam o presidente norte-americano, Barack Obama, cujo índice de rejeição é de 17%. Lula é o segundo mais popular, com 67% de apoio dos latino-americanos e 16% de desaprovação. Já o venezuelano Hugo Chávez conta com 33% de simpatia e 53% de repulsa dos cidadãos dos países da região.
O Latinobarômetro conclui, por fim, que o líder regional continua sendo "sem dúvida" o Brasil, que alcança os EUA e seu presidente em imagem positiva, convertendo-se em líder da população latino-americana, para além de sua liderança internacional.
A sondagem do Latinobarômetro 2010 foi feita por meio de 20.204 entrevistas nos 18 países latino-americanos entre 4 de setembro e 6 de outubro.
Autora: Simone Lopes
Revisão: Alexandre Schossler