Eleições 2009
7 de setembro de 2009Nunca tantos eleitores de origem migratória estiveram habilitados a votar como nas eleições parlamentares alemãs de 27 de setembro próximo. Se somente estes cidadãos (filhos de imigrantes nascidos no país ou estrangeiros que adquiriram a cidadania alemã) pudessem votar, os partidos conservadores União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) teriam 10% a menos de votos, enquanto os social-democratas obteriam 3% a mais de votos do que têm entre toda a população do país.
Esse foi o resultado de um estudo realizado por Andreas Wüst – titular da cadeira de Pesquisa Comparada de Comportamento Político, na Universidade de Mannheim – entre mais de mil eleitores alemães de origem migratória.
Segundo Wüst, a pesquisa conseguiu definir o comportamento eleitoral de dois grandes grupos migratórios: os Aussiedler, migrantes descentes de alemães do Leste Europeu, e o grupo de trabalhadores estrangeiros provenientes do sul da Europa e da Turquia.
Mobilidade nas preferências
Wüst constatou que, no caso dos Aussiedler e de seus descendentes, há uma preferência clara pelos partidos conservadores da União CDU/CSU. Os trabalhadores estrangeiros e seus descendentes votam, por outro lado, nos partidos de esquerda e, sobretudo, nos social-democratas (SPD).
Há anos que Wüst investiga o comportamento eleitoral de pessoas naturalizadas e de imigrantes. Os resultados do recente estudo foram semelhantes aos de pesquisas anteriores realizadas há sete e há dez anos.
Os resultados da atual pesquisa apontaram, no entanto, para uma mobilidade nas preferências. "Por exemplo, no caso da predileção dos Aussiedler e seus descendentes pelos conservadores, vê-se que o automatismo de votar na União CDU/CSU diminuiu. Há mais cautela por parte desses eleitores, que não dizem mais automaticamente que votam na CDU/CSU. Mas, caso o nome de um partido tenha que seja mencionado, a grande maioria opta pela CDU/CSU", explica o professor.
Proximidade dos sindicatos
Por outro lado, a opção social-democrata por parte de outro grupo também não é de todo segura. "Vê-se claramente que o SPD tem problema em sensibilizar os grupos de descendentes de turcos e pessoas do sul da Europa. Estes precisam ser objetivamente mobilizados nas últimas semanas da campanha eleitoral, para que se tenha realmente certeza de que vão às urnas", diz Wüst.
O grupo dos naturalizados não é marcado por padrões clássicos de explicação, como a regra de que um profissional liberal vota, tendencialmente, na CDU/CSU ou no Partido Liberal Democrata (FDP), enquanto um trabalhador ou empregado simpatiza com o SPD.
Segundo Andreas Wüst, as preferências dos imigrantes podem ser explicadas, entre outros motivos, pela política dos diversos partidos em relação aos respectivos grupos de migrantes. É a política praticada pela União (CDU/CSU), favorável aos Aussiedler, que faz com que o grupo prefira os conservadores.
"No caso dos Gastarbeiter ou trabalhadores convidados, é a política xenófila do SPD e dos Verdes que os atrai. Além disso, a proximidade de vários imigrantes – que trabalharam durante muito tempo como Gastarbeiter – dos sindicatos é outro fator que os leva a votarem nos social-democratas. Organizações sindicais estão na linha de frente dos partidos. Lá nasceu um vínculo de longo tempo, como também uma proximidade com os social-democratas", afirmou o pesquisador.
Letra "C" afasta muçulmanos
O estudo da Universidade de Mannheim apontou também que existem rejeições claras por parte dos migrantes e descendentes. A distância do grupo de trabalhadores da União (CDU/CSU) é especialmente grande. Isso remonta à política tendencialmente cautelosa praticada no passado pelos conservadores em relação aos estrangeiros, disse Wüst.
Outro motivo é o fato de os partidos CDU/CSU carregarem a letra "c", de "cristã", em sua sigla, explicou. Em outros países, existe a possibilidade de que se vote, simplesmente, em um partido conservador. "Na Alemanha, por outro lado, temos um partido democrata-cristão, o que dificulta, principalmente para muçulmanos, que também votem no partido".
A participação nas urnas dos imigrantes naturalizados é, segundo a pesquisa, semelhante àquela de pessoas sem origem migratória. Mas, mesmo se o grupo de imigrantes eleitores continue crescendo, com uma porcentagem eleitoral de cerca de 6'%, sua participação não é decisiva nas eleições. Apesar disso, todos os grandes partidos alemães se esforçam atualmente por ganhar a preferência dos naturalizados.
Autora: Daphne Grathwohl/Carlos Albuquerque
Revisão: Soraia Vilela