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Jorge Luis Borges

14 de junho de 2011

Falecido há 25 anos, o escritor argentino Jorge Luis Borges continua sendo traduzido e estudado no mundo todo. Na Alemanha é publicada uma seleção de ensaios não editados em livro pelo autor.

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Jorge Luis Borges em 1983Foto: picture-alliance / KPA/TopFoto

"Nem sequer me agrada a ideia de ser lembrado depois de morto. Eu espero morrer, esquecer e ser esquecido", disse o escritor argentino Jorge Luis Borges numa entrevista em 1979. Mas 25 anos depois da sua morte, a obra dele segue válida e atual, a ponto de não se imaginar a literatura universal sem ele.

O erudito de memória excepcional e aguda inteligência, o leitor incansável e viajante a quem sempre importava voltar a Buenos Aires hoje descansa num cemitério em Genebra, cidade onde faleceu aos 86 anos.

"Sempre imaginei o paraíso como uma espécie de biblioteca", disse Borges. As da vida terrena, ao menos, ele se encarregou de encher com numerosos títulos, e a eles somam-se ainda os volumes escritos pelos estudiosos de sua obra.

O autor de El Aleph e Ficciones é muito mais que um narrador, ensaísta e poeta fascinante. Borges é também um pensador sempre atual, de muitas facetas por descobrir. Na Alemanha, é motivo de estudo e análise em seminários e teses de doutorados que tratam de seu impacto na literatura latino-americana e universal.

Homenagens

"O interesse do mundo acadêmico pela obra de Borges tem aumentado", disse o professor Alfonso de Toro, diretor do Centro de Investigação Ibero-Americana da Universidade de Leipzig e especialista na obra do escritor argentino. "Ele não é somente um literato, mas também um pensador, um filósofo, um autor que deu novo significado a gêneros literários, que tudo desmontou e criou. E isso é muito atraente para os alemães."

Alfonso de Toro, professor da Universidade de Leipzig e especialista na obra de Borges
Alfonso de Toro, professor da Universidade de Leipzig e especialista na obra de BorgesFoto: Alfonso de Toro

Homenagens de todos os tipos, por todo o mundo, relembram Borges neste dia 14 de junho, data em que se completam 25 anos de sua morte. A fundação que leva o nome do escritor e é dirigida pela viúva dele, María Kodama, resolveu chamar o ano de 2011 de "Ano Borges". Em Veneza, inaugura-se um labirinto que levará o nome do argentino, e suas obras serão reeditadas em diversos idiomas.

Borges em alemão

Borges começou a ler muito cedo. "Não me recordo de uma época em que não sabia ler ou escrever", comentou numa entrevista. Lia em espanhol e inglês, idioma de sua avó materna. Entre as primeiras obras que leu estão as histórias dos irmãos Grimm, na versão inglesa.

Durante a adolescência na Europa, aprendeu a língua alemã à sua própria maneira, lendo Heine com um dicionário inglês-alemão sempre por perto. Mais tarde traduziu, entre outros, Kafka e inclusive dedicou um poema ao idioma alemão.

Na Alemanha, todas as obras de Borges foram reeditadas e completadas com novos manuscritos, em uma coleção de ótima qualidade. A editora Hanser, que qualifica Borges como o "maior escritor argentino e um clássico da literatura universal", publicou há alguns meses Ein ewiger Traum [Um eterno sonho, numa tradução livre]. A obra é uma seleção de ensaios não editados em livro pelo autor. "É uma variedade de textos quase desconhecidos, publicada pela primeira vez em alemão", assinala a editora.

Para Alfonso de Toro, as melhores traduções de Borges são as publicações em alemão, francês e inglês. "As traduções para o alemão são impecáveis, muito boas. É um prazer ler Borges nesse idioma", indica.

Gisbert Haefs: tradutor da obra de Borges para o alemão
Gisbert Haefs: tradutor da obra de Borges para o alemãoFoto: Gisbert Haefs

O responsável pelas traduções é o escritor alemão Gisbert Haefs, que desde 1981 transcreve e revisa a obra de Borges: existe a edição de bolso da editora Fischer, composta por 20 volumes; a nova edição de capa dura da Hanser, que soma 13 volumes e alguns extras, como o livro de ensaios e uma seleção de diálogos; e a edição anterior, também da Hanser (1981-1987), que reúne oito volumes sob direção de Haefs.

Desafio empolgante

A tarefa de traduzir as obras de Jorge Luis Borges fez de Haefs um grande conhecedor e admirador do argentino. Ele destaca sobretudo "a perfeição literária, o imaculado cumprimento de suas ideias. Claro que estas sempre foram fascinantes para mim: o filosófico-fantástico, o espelho, os tigres, os labirintos, a erudição do ensaísta, a elegante serenidade do poeta".

O trabalho é monumental e ao mesmo tempo estimulante. "Para um tradutor, é desafio empolgante reconstruir tudo isso num outro idioma. Mas, apesar da complexidade das ideias, a linguagem de Borges é sempre muito clara, aguçada e quase simples, a ponto de nunca ser necessário se perguntar o que ele está querendo dizer", afirma Haefs.

Borges, diz Haefs, nunca deveria deixar de ser lido, traduzido, estudado ou publicado porque é um perfeito artista. "Dentro dessa perfeição literária, Borges nos conta sempre as mesmas coisas, sobre a vida e a morte, sobre as preocupações de todas as gerações."

Autores: Victoria Dannemann (br)
Revisão: Alexandre Schossler