Estudantes de Ayotzinapa foram vítimas de ataque coordenado
24 de abril de 2016Passados 19 meses da desaparição de 43 estudantes em Iguala, no sul do México, o grupo de especialistas internacionais designado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) assegurou neste domingo (24/04) que houve coordenação entre policiais e o crime organizado no ataque aos jovens.
"A polícia e o crime organizado atuaram na noite de 26 de setembro de 2014 numa zona de 80 quilômetros, o que gera a certeza de uma coordenação perfeita para evitar a passagem dos ônibus nos quais viajavam os estudantes", disse a ex-procuradora colombiana Ángela Buitrago durante apresentação de relatório final do chamado Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI).
Apesar de o primeiro relatório do GIEI já ter mencionado um ataque coordenado contra os estudantes, na versão final foi apontado que tanto a polícia municipal de Iguala, no estado de Guerrero, quanto a Polícia Federal instalaram postos de controle em diversos pontos para evitar a passagem dos ônibus.
O documento também afirma que as investigações identificaram provas da participação da polícia municipal de Huitzuco, cidade próxima a Iguala, onde os 43 estudantes da escola de formação de professores de Ayotzinapa desapareceram.
Suspeitos torturados
Os especialistas afirmaram que ao menos 17 das dezenas de detidos por suposto envolvimento no desaparecimento dos estudantes foram torturados, tendo sido verificados sinais de espancamento, feridas, cortes e arranhões. Um dos suspeitos disse ter sido quase asfixiado com um saco plástico.
As alegações poderiam colocar em risco qualquer chance de condenação no caso, especialmente porque a versão oficial sobre os acontecimentos se baseia em grande parte no depoimento de suspeitos que agora dizem terem sido vítimas de tortura. Segundo o governo, policiais corruptos entregaram os estudantes a membros de uma gangue, que os mataram e queimaram seus corpos num depósito de lixo.
O GIEI reclamou da dificuldade de obter informações do governo e criticou as investigações por parte da Procuradoria Geral como falhas e incompletas. Segundo os especialistas, as autoridades se atêm à própria versão sem investigar o possível envolvimento da Polícia Federal e do Exército.
Devido às falhas e à demora da Procuradoria Geral, o grupo interdisciplinar também afirmou não ter conseguido confirmar qual foi o destino dos 43 estudantes. Em seu primeiro relatório, de setembro do ano passado, os especialistas já haviam questionado a investigação do procurador-geral Jesús Murillo Karam, próximo ao presidente Enrique Peña Nieto, que apontou que os jovens foram queimados num lixão na cidade de Cocula.
O relatório final do GIEI indica que um dos estudantes mandou uma mensagem de celular a seus pais horas depois do momento em que supostamente o grupo teria sido morto.
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