Essencial à sobrevivência, rio Nilo influencia política regional
15 de janeiro de 2013"A água é o único fator que poderia levar nosso país a uma nova guerra", declarou certa vez Anwar al Sadat, ex-presidente do Egito e Prêmio Nobel da Paz. Tal ameaça preocupa ainda hoje a Etiópia, país que, assim como Egito, compõe a bacia do Nilo, o mais longo rio do mundo. A Etiópia vive uma situação paradoxal: apesar de o país ser a fonte de mais de 80% das águas do Nilo, sua população não tem permissão para utilizar o rio para irrigar suas terras.
Isso porque, de acordo com uma lei britânica dos tempos coloniais, o Egito tem concessão para receber a maior parte dessas águas. Segundo a mesma lei, acordada entre Egito e Reino Unido, o governo egípcio pode vetar tentativas de outros países da bacia do Nilo de utilizar as águas do rio para projetos de irrigação.
Utilização dos recursos hídricos
A Etiópia planeja explorar mais seus rios, incluindo o Nilo. Existem planos para a construção de seis usinas hidrelétricas, e a irrigação agrícola deve ser intensificada. Tais iniciativas são fundamentais para o país, um dos mais pobres do mundo. Muitos de seus habitantes não têm acesso à água limpa ou à energia elétrica.
Com a expansão das redes etíopes de irrigação, o volume da água do Nilo no Egito poderia diminuir, explica o especialista em África Oriental Stephan Roll, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (Stiftung Wissenschaft und Politik, em alemão). Além disso, a Etiópia teria condições de controlar o fluxo de água, o que o governo egípcio tenta evitar.
O Nilo cobre quase toda a demanda de água do Egito. Aproximadamente 95% dos egípcios vivem em uma área que representa apenas 5% do território do país, nas regiões do vale e do delta do Nilo. O rio irriga as plantações, fornece água para as indústrias e abastece a população.
Devido a tal dependência, não surpreenderia se alguns egípcios imitassem Saddat e considerassem a possibilidade de uma ação militar para garantir o abastecimento hídrico do país através do Nilo.
Iniciativa para a Bacia do Nilo
A partir de 1999, Egito, Etiópia e os outros oito países às margens do Nilo debateram, através da Iniciativa para a Bacia do Nilo, uma redistribuição das águas do rio, sem chegar a resultados concretos.
Em 2010, um acordo (River Nile Basin Cooperative Framework, em inglês) foi assinado por cinco desses países – Etiópia, Ruanda, Uganda, Quênia e Tanzânia. Posteriormente, o Burundi também se juntou ao grupo.
A iniciativa ameaçou provocar uma crise na região, a qual observadores dizem que, em caso extremo, poderia levar à guerra. Entretanto, especialistas acreditam que o conflito poderia ser evitado.
“Temos que levar em consideração o fato de que a maioria desses países não tem condições de mobilizar seus exércitos", considera Soeren Schollvin, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga). "É mais provável que uma crescente escassez de água na África Oriental aumente a solidariedade entre os países", completa Roll.
Roll também discute a ideia de um mercado de água da África Oriental, que proporcionaria a compra e o comércio do precioso líquido pelos países. Na opinião do especialista, isso também ajudaria a evitar conflitos.
Autor: Martin Schrader (rc)
Revisão: Luisa Frey