Fim das plataformas?
25 de junho de 2010A cena se passa no Oceano Atlântico, a algumas centenas de quilômetros da costa brasileira. A bordo do ISUP Constructor, um guindaste pesado se movimenta. Com quatro cabos, ele segura tubulações que pesam várias toneladas.
O mergulho começa, e segue até três mil metros de profundidade. No fundo do mar, robôs-mergulhadores já aguardam a estrutura. Com seus braços mecânicos, eles puxam a tubulação, para encaixá-la na abertura do poço, de onde, no futuro, devem borbulhar óleo e gás.
O que soa como cena de filme de ficção científica é a visão de um pequeno grupo de uma empresa especial e de pesquisadores. O nome do projeto é ISUP, sigla em alemão para Sistema Integrado para Produção Submarina de Óleo e Gás.
É a visão de uma fábrica de extração de óleo instalada no fundo do mar, de uma plataforma de exploração, onde não trabalham seres humanos, mas robôs – que são controlados remotamente a partir de uma sala. Um longo cabo de fibra óptica mantém os robôs conectados à plataforma submarina.
Montagem das conexões
"A vantagem de uma plataforma de exploração como essa é que se sai da superfície do mar", disse Michael Wiedicke, geólogo marinho do Centro Geográfico de Hannover, e especialista em matérias-primas. Pois na superfície as plataformas estão sujeitas a tempestades e ondas: somente em 2005, mais de dez plataformas de exploração de petróleo foram destruídas no Golfo do México devido a furacões. "Mas também em outras regiões, como as cobertas por gelo, é difícil deixar plataformas por um longo período de tempo."
A montagem de uma plataforma no fundo do mar precisa ocorrer praticamente por si própria — em se tratando de uma profundidade tão grande, o ser humano pode apenas intervir por meio de controle remoto. E, por isso, os conectores pré-fabricados podem se encaixar como uma cápsula na estação espacial.
O centro: bomba multifásica
Por exemplo, a bomba precisa ficar estar fixada numa estrutura de metal no fundo do mar. Axel Jäschke, especialista em técnica submarina da fabricante de bombas Bornemann, é um dos que desenvolveram esse equipamento. A bomba é submersa por um guindaste. "À medida em que vão afundando, as peças conectoras vão se encaixando, mais ou menos simultaneamente", explica.
Um exemplar está à mostra numa planta industrial nas proximidades de Hannover. Um cilindro de cinco metros de altura que tem uma missão muito especial: transportar uma mistura de gás natural, petróleo, água marinha e metano, sem qualquer perturbação, 24 horas por dia. É o que Jäschke chama de bomba multifásica, desenvolvida ao longo de quase dez anos.
Vencendo barreiras
O que acontece se a bomba ou outro componente falhar? Sven Hoog, da empresa de engenharia Impac, responsável pela automação da estação submersa, responde com tranqüilidade: "Nós podemos substituir peças debaixo d´água, que são operadas por robôs que fazem as trocas, em caso de necessidade", esclarece.
Com instalações como a ISUP, a indústria do petróleo pode, no futuro, desbravar reservas que estão em grande profundidade e que, até agora, eram muito caras para serem exploradas. Mas isso não muda nada quanto à limitação das reservas petrolíferas: "Nós já ultrapassamos o pico", diz o especialista em matéria-prima, Michael Wiedicke.
As reservas de petróleo até agora não exploradas ficam nas margens continentais, isto é, na área de transição do litoral até águas profundas, como o Atlântico no Brasil, onde foram encontradas, recentemente, grandes quantidades de óleo e gás.
Matéria-prima
Uma estrutura como a ISUP poderia evitar uma catástrofe como a vista no Golfo do México? Naturalmente que não, assegura Michael Wiedicke: "O que aconteceu no Caribe foi o afundamento de uma plataforma de petróleo." A tarefa deles era fazer uma abertura, cimentar uma tubulação, instalar válvulas de segurança e fechar as fendas adjacentes. ISUP, por sua vez, é o substituto da plataforma de exploração, que é colocado mais tarde, quando o poço é aberto novamente para a exploração do petróleo e gás.
Wiedicke não concorda com as críticas contrárias à exploração de matéria-prima em solo submarino por razões ecológicas. Segundo ele, ela é semelhante à exploração em terra: quem extrai matéria-prima, interfere na paisagem. Para Wiedicke, o desafio é limitar essa intervenção de modo tolerável e responsável.
Autor: Mabel Gundlach (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer