Mudanças climáticas
8 de março de 2007Em matéria de proteção climática, já está mais do que na hora de se tomar providências. Temores que medidas drásticas possam vir a prejudicar a conjuntura não têm fundamento, segundo afirma um dos autores do relatório, Ottmar Edenhofer, economista-chefe do Instituto de Pesquisas de Impacto Climático de Potsdam.
"Economias de mercado reagiriam de forma absolutamente flexível, se houvessem novos desafios", declarou Edenhofer ao jornal Frankfurter Rundschau (23/02). "Não é verdade que a redução de CO2 significa prejuízos para o desenvolvimento", acrescentou o economista.
"Proibir lâmpada incandescente não tem sentido"
Os custos das medidas de proteção climática na indústria, domicílios, transporte, uso e aproveitamento da terra são estimados por Edenhofer em 1% do Produto Nacional Bruto (PNB). "As medidas são possíveis com custos relativamente baixos", afirmou o economista ao Frankfurter Rundschau, advertindo que os governos deveriam iniciá-las o mais rápido possível. Para outros pesquisadores climáticos da ONU, segundo o relatório da organização, estes custos se elevariam até 4% do PNB.
A discussão sobre "desistir da desistência" da energia atômica é criticada por Edenhofer como "debates hipócritas". A energia atômica "não pode contribuir para proteção climática", afirmou Edenhofer à TV pública ARD, acrescentando que "ela irá, também futuramente, apenas preencher um nicho".
Para evitar a catástrofe climática que se anuncia, três outros passos são mais importantes: o aproveitamento de energias renováveis, a melhoria da eficiência energética dos edifícios e a separação e depósito subterrâneo dos CO2 liberado pelas termelétricas. A proibição de lâmpadas incandescentes, como na Austrália, é comentada por Edenhofer como "completamente sem sentido".
"Estratégia multigás"
Segundo a terceira parte do Relatório de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, divulgado parcialmente na quarta-feira (21/02), a emissão de gases do efeito estufa tem que diminuir, substancialmente, até 2020, para que processos irreversíveis sejam evitados, como o derretimento da camada de gelo da Groenlândia e a acidez dos oceanos. Até 2030, 16 trilhões de dólares (12 trilhões de euros) devem ser investidos, especialmente em tecnologias de baixo CO2.
O relatório afirma que a comunidade internacional não deve somente se concentrar no gás prejudicial ao clima CO2. Em vez disso, uma "estratégia multigás" deve restringir o aumento de metano, óxido nitroso e outros gases do efeito estufa na atmosfera. Com isto, não somente carros e termelétricas estariam na mira dos pesquisadores climáticos, diplomatas e políticos. Metano e óxido nitroso provêm, sobretudo, da pecuária, do cultivo do arroz irrigado, respectivamente, da aplicação de adubos de nitrogênio na agricultura.
Combustíveis orgânicos e automóveis híbridos
Segundo os pesquisadores, a concentração de CO2 na atmosfera deve ser estabilizada em, no máximo, 420 ppm (partes por milhão de molécula de ar). Atualmente, este valor é de 383 ppm e aumenta, anualmente, em 2,5 ppm. A advertência do Conselho sobre o Clima da ONU: esta meta só pode ser atingida "se agirmos da forma mais conseqüente possível", conseguindo assim controlar o aumento do aquecimento global em, no máximo, dois graus Celsius.
A ultrapassagem deste limite de temperatura deve ser evitada, segundo os cientistas, pois as conseqüências das mudanças climáticas se tornariam incontroláveis. Segundo os autores do total de seis estudos, até 2050, a redução dos valores da emissão de gases deve ficar entre 48% e 86%, tendo como base os valores do ano 2000.
O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), colegiado internacional de cientistas, reunidos pelas Nações Unidas, recomenda ainda uma série de medidas. A elas pertencem o aumento do emprego de biocombustíveis, de automóveis híbridos, de novas usinas atômicas, mas também a reorganização do cultivo do arroz para espécies que não precisam de água para crescer, diminuindo assim a produção do gás prejudicial ao clima metano.