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Espanha expande benefícios para frear aumento da pobreza

Stefanie Müller lr
6 de junho de 2020

Coronavírus agravou a situação do país, que tem segunda maior taxa de desemprego da União Europeia. Em dez anos, número de famílias em situação de vulnerabilidade cresceu 67%.

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Coronavirus Spanien Alicante Rotes Kreuz bei der Essensverteilung
Voluntários da Cruz Vermelha distribuem refeições na EspanhaFoto: Rotes Kreuz Madrid

Padre Angel sabe que a pobreza na Espanha existia muito antes de a crise do coronavírus atingir o país. Em sua congregação em Madri, ele vem tentando há anos fazer o que o estado não é capaz. Além da Caritas, o Mensajeros de la Paz, do Padre Angel, está entre as muitas organizações do país que distribuem alimentos, prestam aconselhamento pastoral e abrigam os sem-teto.

"Nunca houve tanta pobreza como agora", diz o homem de 83 anos. "Antes da crise do coronavírus, costumávamos distribuir cerca de cem pacotes de café da manhã por semana; agora é a mesma quantidade por dia".

Os números atuais não estão disponíveis, mas um relatório do banco central espanhol de 2018 aponta que a pobreza aumenta desde 2009, principalmente na faixa etária entre 45 a 54 anos. Há mais de 10 anos, 720.000 famílias eram afetadas pela pobreza – nove anos depois, eram 1,2 milhão.

Spanien  Padre Ángel  Madrid
O Padre Angel, da Mensajeros de PazFoto: Mensajeros de Paz

Durante muito tempo, o Estado relutou em introduzir benefícios sociais para os mais vulneráveis. Em 2011, muitas vítimas da crise financeira global e da corrupção na Espanha saíram às ruas para exigir uma ordem econômica mais justa. Isso não aconteceu até que um governo de coalizão de esquerda assumiu o cargo em janeiro, e deu os primeiros passos em direção a mais justiça social.

Embora questionados por muitos espanhóis, a Comissão Europeia é a favor dos benefícios sociais que a Espanha está concedendo, apesar do alto déficit público. Esses benefícios são apenas para pessoas cuja renda anual bruta não excede 16.000 euros (91.000 reais) ou para famílias com quatro membros e uma renda agregada inferior a 45.000 euros anuais.

Cerca de 850.000 famílias devem ter direito a 462 euros mensais (2.600 reais) em benefícios sociais a partir de junho. Cada criança que vive em uma família pobre aumentará o pagamento de benefícios em 130 euros (740 reais) por família afetada.

Classe média na fila da sopa

A igreja de Padre Angel, no centro de Madri, está aberta a pessoas em situação de vulnerabilidade. Lá, pode-se tomar banho, usar a internet e até cortar o cabelo, tudo gratuitamente.

"Queremos devolver alguma dignidade ao maior número possível de pessoas, para que não tenham vergonha de comparecer a uma entrevista de emprego", afirma.

A Espanha tem a segunda maior taxa de desemprego da UE, de 17%, à frente apenas da Grécia. Além disso, estima-se que a economia informal represente 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do país – o que evidencia como a economia ainda é ineficiente.

"Ao contrário da crise financeira global de 2008, a pandemia atual também está trazendo famílias de classe média para as filas de sopa", alerta Maria Blanc Fernandez-Cavada, da Caritas em Madri.

"O governo espanhol tem a oportunidade única de mudar para uma economia mais sustentável e tornar nossa rede social mais resiliente", disse o vice-presidente espanhol Pablo Iglesias.

Parte da população não tem acesso a benefícios

Mas nem todos os necessitados têm ou terão acesso aos benefícios sociais. As estimativas sugerem que há meio milhão de migrantes no país sem autorização de residência e essas pessoas ficam de fora.

A Cruz Vermelha Espanhola (Cruz Roja) calcula que terá que ajudar mais 2,4 milhões de pessoas a lidar com as consequências da pandemia, fornecendo assistência psicológica e material.

Segundo a instituição, mulheres e crianças são as mais afetadas pela pandemia, que deve levar a demissões em massa nos próximos dois meses. Uma das que já sofrem é Carmen Perez - o nome foi alterado para proteger seu anonimato –, de 40 anos.

Perez tem dois filhos, de 9 e 11 anos e é mãe solteira. Ela trabalha em uma agência de comunicações em Madri, onde tem visto uma queda drástica de demanda desde março. Ela precisou aceitar um trabalho temporário e suas economias estão esgotadas.

"Se eles me despedirem, terei que voltar para meus pais", diz. No momento, ela consegue sobreviver porque seu proprietário concordou em reduzir temporariamente seu aluguel em 20%.

"Não tomamos precauções para momentos como estes, os alemães são melhores nisso", afirma Villena, acrescentando que espera que alguma reflexão finalmente se concretize na Espanha, na esteira da atual crise.

Padre Angel, por sua vez, observa que nada é mais importante que o próprio povo: "Isso é o que as 30.000 mortes causadas pelo coronavírus nos mostraram de uma maneira muito dramática".

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