Escócia sai à procura do monstro do lago Ness
30 de maio de 2024No verão de 1934, o barão escocês Sir Edward Mountain reuniu uma equipe de 20 pessoas para descobrir a verdade sobre o monstro do lago Ness. Ele colocou observadores com binóculos e câmeras ao redor do lago que fica nas Terras Altas, as Highlands escocesas, para rastrear a lendária criatura. Há testemunhos que Nessie, como foi apelidado o monstro, tenha sido avistado ao menos 21 vezes. Mas os registros, em forma de fotografias e filmes, não são convincentes. Os resultados foram apresentados à Linnean Society of London, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao estudo da história natural. Os associados concluíram que os animais avistados eram muito provavelmente lontras ou até mesmo uma baleia orca.
Maior busca de todos os tempos
Desde o primeiro avistamento, foram feitas mais de 1.156 ocorrências no registro oficial de aparições do monstro do Lago Ness. "No ano passado, deixamos o mundo em polvorosa com uma das maiores buscas por Nessie, com participantes dos Estados Unidos, Canadá, França, Itália, Japão e outros países", diz Paul Nixon, diretor do Centro do Lago Ness. Para marcar o 90º aniversário da primeira busca em grande escala, o centro está organizando uma busca ainda maior, chamada "The Quest” (a busca), que é realizada desta quinta-feira (30/05) até o próximo domingo. O centro está determinado a "descobrir mais sobre o esquivo e misterioso monstro do lago Ness".
Em agosto de 2023, dezenas de entusiastas de Nessie observaram o lago por dois dias, e os Kellys, como muitos outros, permaneceram por horas no lago nas Terras Altas escocesas, às vezes até sob chuva torrencial. "Há muitos relatos de locais", diz Scott Kelly. "Tenho certeza de que algo desconhecido está vivendo no lago." E Steve Feltham, pesquisador de Nessie, acrescentou à agência de notícias DPA: "É uma observação organizada do lago Ness, o que é ótimo. Quanto mais olhos atentos na água, melhor." Ele está procurando o monstro há mais de 30 anos – provavelmente mais tempo do que qualquer outra pessoa.
Câmeras infravermelho foram usadas para encontrar Nessie, pois um monstro marinho irradia calor como qualquer outra criatura viva – pelo menos essa é a hipótese dos pesquisadores. Drones filmaram a superfície da água do lago Ness para registrar até mesmo o menor movimento. Um hidrofone registrou ruídos subaquáticos incomuns na época, e é por isso que a Nasa está contribuindo com sua experiência para a nova busca.
Nessie: um monstro lendário
O avistamento em larga escala está sendo organizado pelo Centro do Lago Ness, em Drumnadrochit, uma cidade na costa oeste do lago. Nessie deve seu nome ao lago Ness, onde supostamente habita há séculos. O primeiro avistamento de uma criatura estranha no lago Ness, situado no norte da Escócia, é atribuído a São Columba, que introduziu o cristianismo na Escócia no século 6º. O monge viajante irlandês Columba de Iona teria encontrado o "monstro aquático" no lago Ness já em 565.
Em um livro, o abade de Iona conta como Columba salvou um homem que havia sido atacado pela fera. "Columba fez o sinal da cruz no ar e invocou o nome de Deus enquanto ordenava à fera: "Nem mais um metro! Não toque nele! Retire-se imediatamente!" Quando o animal ouviu as palavras do santo, fugiu com medo, como se estivesse sendo puxado para longe dali por cordas, embora estivesse apenas a uma curta distância do homem."
Há um registro, 1.100 anos depois do relato do santo, de que Nessie tenha matado três homens, mas, fora isso, o monstro marinho foi sempre retratado como pacífico. Uma conclusão que se pode tirar com esses séculos de registros de aparições é que Nessie tem muitos anos de vida. Isso também significa que o monstro adquiriu experiência suficiente para se livrar de seus caçadores no lago, que tem até 230 metros de profundidade. E eles já estiveram em seu encalço várias vezes – especialmente desde que ele se tornou uma celebridade na era da mídia.
Nessie como sensação midiática
Em 1933, a gerente do hotel Aldie Mackay entrou em um bar e, para a surpresa dos frequentadores, anunciou que havia acabado de ver um "monstro" no lago Ness e que a água do lago estava muito agitada. O jornal regional escocês Inverness Courier, agradecido pela curiosa história da misteriosa criatura, fez uma reportagem que espalhou a lenda rapidamente.
Vários repórteres viajaram de Londres, e um circo chegou a oferecer 20 mil libras para capturar o monstro. Pouco tempo depois, um motociclista descreveu como a criatura atravessou a estrada à sua frente. Relatou que ela se movia para frente com nadadeiras e carregava uma ovelha em sua boca. Assim que chegou ao lago, ela submergiu. Desde então, não deu mais para parar a "Nessiemania".
A prova: uma foto do monstro
Em 19 de abril de 1934, o tabloide Daily Mail publicou a primeira foto de Nessie. O registro, que supostamente veio de um renomado médico londrino e entrou para a história como "a fotografia do cirurgião", mostrava uma espécie de plesiossauro. Uma sensação, e ninguém duvidou da autenticidade da imagem.
O caçador de animais de grande porte Marmaduke Wetherell foi contratado pelo Daily Mail para encontrar o monstro do lago Ness. E ele cumpriu a tarefa: pediu a seu enteado Christian Spurling, um exímio modelista, que construísse o monstro a partir de um submarino de brinquedo, com a cabeça e o pescoço modelados em plástico. O médico, que "tirou a foto", teve grande prazer em participar da farsa – supostamente para dar mais credibilidade à história dele – até que a farsa da foto foi revelada 60 anos depois.
Investigações sistemáticas do lago sem resultados
Isso não impediu que os caçadores de Nessie continuassem a procurar evidências de sua existência. As novas fotos que apareceram, foram verificadas quanto à autenticidade nos laboratórios do Museu de Defesa Britânico e da Nasa, e muitas vezes eram tão boas, que parecia improvável tratarem-se de falsificações.
Em 1972, o lago foi intensamente vasculhado sob a direção do Centro de Investigacao do Lago Ness, que tentou provar a existência dessa criatura pré-histórica – sem sucesso. Em 1987, barcos com sonar foram usados na tentativa de finalmente desvendar o mistério. Durante a Operação Deepscan, 24 barcos percorreram toda a largura do lago, examinando o mundo subaquático do lago de 56 km². O sonar reagiu fortemente a objetos grandes em várias ocasiões, mas Nessie não foi detectado. Em 2019, uma equipe internacional de cientistas tentou catalogar todas as espécies vivas no lago Ness, extraindo eDNA de amostras de água. O DNA ambiental, ou eDNA, utiliza traços orgânicos deixados pelos organismos vivos para identificá-los, fornecendo aos cientistas informações vitais sobre ecossistemas inteiros de uma só vez. O resultado: uma espécie grande não vive no lago, e os animais observados poderiam ser, na melhor das hipóteses, enguias gigantes.
Os que negam e os que acreditam em Nessie
Inúmeras especulações sobre a verdadeira identidade de Nessie foram feitas ao longo dos anos: ele seria um tubarão da Groenlândia, um peixe-gato ou até mesmo um lagarto pré-histórico. Os céticos tentaram explicar os supostos animais observados como focas, peixes voadores, aves aquáticas, cervos nadando, troncos de árvores flutuantes ou miragens.
Mas, apesar de todos os que negam sua existencia, os entusiastas de Nessie não serão dissuadidos de procurar o monstro, mesmo no século 21. "Somos os guardiões dessa história única, investindo não apenas na criação de uma experiência inesquecível para os visitantes, mas também na descoberta dos segredos que estão sob as águas do famoso lago", disse Paul Nixon, diretor administrativo do Centro do Lago Ness, ao Daily Mail.
É claro que tudo isso também pode ser considerado uma estratégia de marketing, pois Nessie atrai muitos turistas para a Escócia. E uma busca em grande escala impulsiona os negócios mais uma vez.
Caso os fãs finalmente encontrem Nessie, o monstro não tem com o que se preocupar. Ele foi colocado sob proteção de espécies pelo Parlamento escocês em 1934. Naquela época, a cervejaria Guinness colocou uma recompensa de 500 mil libras pela cabeça do monstro – e Nessie deve ser preservado para as gerações futuras.