Escritor Rubem Fonseca morre aos 94 anos
16 de abril de 2020O escritor Rubem Fonseca, um dos principais expoentes da literatura brasileira, morreu nesta quarta-feira (15/04) aos 94 anos, após sofrer um infarto no Rio de Janeiro, onde morava. Segundo relatos de familiares à imprensa, ele chegou a ser levado ao Hospital Samaritano, mas não resistiu.
Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 11 de maio de 1925, ele é considerado um dos autores latino-americanos mais influentes do século 20 e renovou a literatura brasileira com sua linguagem direta, que acabaria influenciando várias gerações de escritores.
Entre os vários prêmios recebidos ao longo da carreira, estão o Prêmio Camões, em 2003, concedido a autores que escrevem em língua portuguesa; o antigo Prêmio Juan Rulfo, que recebera no mesmo ano das mãos do colombiano Gabriel García Márquez; e o Prêmio Machado de Assis, em 2015, um dos principais prêmios literários brasileiros.
Ele estreou na literatura em 1963, com o livro de contos Os prisioneiros. Seu extenso trabalho ainda inclui obras como Lúcia McCartney (1967) e Feliz ano novo (1975), também de contos, e os romances O caso Morel (1973), A grande arte (1983) e Agosto (1990). Alguns deles foram adaptados para a televisão ou para o cinema.
O escritor é apontado pela crítica como "o maior contista brasileiro da segunda metade do século 20". Carne crua, seu mais recente livro de contos inéditos, foi editado em 2018.
Marcado por seu estilo ácido, violento, seco e direto, com uma dose de erotismo, o trabalho de Rubem Fonseca atravessou gerações e foi alvo de várias controvérsias ao longo das décadas.
A mais recente foi há poucos meses, quando o governo de Rondônia ordenou a remoção de dezenas de livros clássicos da literatura nacional das escolas públicas por seu conteúdo "inadequado", recuando mais tarde após uma onda de críticas. A lista incluía vários livros de Rubem Fonseca e de outros autores consagrados, como Mário de Andrade, Machado de Assis e Euclides da Cunha.
Nesse sentido, o escritor mineiro sempre admitiu o uso da linguagem "obscena" em suas publicações e defendeu que os escritores não podem "discriminar as palavras".
"Escrevi 30 livros. Todos cheios de palavras obscenas. Nós, escritores, não podemos discriminar as palavras. Não tem sentido um escritor dizer: 'Eu não posso usar isso.' A não ser que você escreva um livro infantil, toda palavra tem que ser usada", afirmou ele ao receber o Prêmio Machado de Assis, entregue pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
Conhecido por sua reclusão, a cerimônia em 2015 foi um dos poucos eventos públicos a que ele compareceu.
Rubem Fonseca também marcou por sua recusa a dar entrevistas. Ele estava na Alemanha em novembro de 1989, durante a queda do Muro de Berlim, quando um repórter de TV brasileiro, no meio da confusão, aproximou-se dele e, ao ver que falava português, pediu uma declaração. Foi sua única declaração para a TV brasileira até então, comemorando a queda do Muro.
O repórter não percebeu que falava com o escritor brasileiro mais famoso – e avesso à imprensa – da época. Rubem Fonseca foi creditado como um transeunte comum.
Escritores e personalidades de várias áreas lamentaram nesta quarta-feira a morte do escritor. O autor português Valter Hugo Mãe compartilhou uma foto ao lado do brasileiro, afirmando estar "desolado" com a morte do amigo.
"Desolado com a notícia da morte de Rubem Fonseca, essa maravilha das letras do mundo. Querido amigo, querido magnífico escritor que tanto me honrou, tanto me inspirou. Adeus, mestre. Obrigado por tudo", escreveu o português.
Por sua vez, o jornalista Zuenir Ventura, amigo de Rubem Fonseca, afirmou que "o Brasil perde um de seus melhores escritores, romancistas, contistas". "E eu perdi um amigo de há mais de 50 anos", lamentou ele, citado pelo jornal Folha de S. Paulo.
EK/afp/efe/lusa/ots
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