Crise no Egito
29 de janeiro de 2011Em reação aos violentos distúrbios dos últimos dias, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, decretou neste sábado (29/01) novo toque de recolher para todo o país. Segundo emissoras árabes de TV, até as 8h de domingo os egípcios não poderão permanecer nas ruas.
Apesar da proibição de manifestações, centenas de milhares de pessoas protestaram nesta sexta-feira contra Mubarak, há 30 anos no poder. Em confrontação com as forças de segurança, pelo menos 30 pessoas morreram no Cairo. Um funcionário de um hospital da capital egípcia informou que 30 corpos teriam sido levados para a clínica onde trabalha durante a sexta-feira, entre eles, os de duas crianças.
Segunda a emissora de TV Al Jazeera, em Alexandria pelo menos 20 pessoas morreram durante os protestos de sexta-feira. Neste sábado, os protestos continuaram no Cairo. No quinto dia de manifestações, milhares de pessoas se reúnem em praças da capital.
Quase cem mortos
O gabinete de governo egípcio anunciou sua renúncia neste sábado, por ordens de Hosni Mubarak. No entanto, a dissolução não conseguiu acalmar os ânimos da população. "Nós queremos que Mubarak vá embora, não somente seu gabinete de governo", disse um manifestante. "Não iremos parar de protestar até que ele parta."
Desde sexta-feira, a emissora Al Jazeera contabilizou que pelo menos 95 pessoas morreram em todo o país. No Cairo, Alexandria e Suez, as batalhas de rua entre manifestantes e forças de segurança deixaram mil feridos, informou a emissora árabe. Para tentar conter os protestos, o governo egípcio bloqueou na sexta-feria importantes meios de comunicação, como internet e telefonia celular.
Os protestos também foram acompanhados por saques e depredações. Segundo testemunhas, lojas foram saqueadas, restaurantes e caixas automáticos depredados e carros foram queimados.
Prejuízo para setor energético e de turismo
Nesse meio tempo, teme-se que uma escalada dos protestos contra Hosni Mubarak tenha conseqüências negativas para o setor energético. Entre os maiores riscos, estão deficiências no transporte de petróleo através do Canal de Suez, como também nas exportações de gás liquefeito do Egito.
Segundo informações de autoridades norte-americanas, o fechamento do Canal de Suez, como também do oleoduto que liga Suez ao Mediterrâneo, significaria um desvio de 9.600 km para os navios, os quais teriam que contornar a África pelo Cabo da Boa Esperança.
O setor de refinarias do Egito é o maior do continente africano. Em 2009, o país exportou 18 bilhões de metros cúbicos de gás natural. Mais da metade desse total teve a Europa como destino.
Os violentos protestos também ameaçam o setor de turismo. Neste sábado, soldados egípcios em tanques blindados fecharam o acesso dos turistas ao complexo de pirâmides na planície de Gizé.
Em face dos protestos violentos, o Ministério alemão das Relações Exteriores, em seu website, desaconselhou viagens ao país árabe. Grandes operadores alemães de turismo oferecem a possibilidade de trocas gratuitas àqueles com viagens já marcadas para o Egito.
Reações estrangeiras
Após participar das manifestações na sexta-feira, o Prêmio Nobel da Paz Mohamed El Baradei, que voltara a seu país para apoiar o movimento contra Mubarak, foi colocado em prisão domiciliar pelas autoridades egípcias.
Justificando a dura reação das forças de segurança diante dos protestos, Mubarak declarou que as manifestações seriam "parte de um grande plano para abalar a estabilidade e a legitimidade do sistema político".
Em Washington, o presidente norte-americano, Barack Obama, instou Mubarak a implementar suas promessas de reformas. "Eu lhe disse que ele tem a responsabilidade de dar significado às próprias palavras", informou Obama.
Assim como Obama, a premiê alemã, Angela Merkel, e o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exigiram o fim da violência e defenderam a liberdade de expressão e informação.O Irã avaliou os protestos no Egito como uma "onda de despertar islâmico".
CA/rtr/afp/dapd/dpa
Revisão: Augusto Valente