Erdogan suspende processo de paz com curdos
28 de julho de 2015O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciou nesta terça-feira (28/07) que o processo de paz com a minoria curda está oficialmente interrompido. Segundo ele, os contínuos ataques contra alvos turcos minam a unidade e a integridade nacional do país.
"Não é possível continuar [o processo de paz] com aqueles que pretendem atingir a nossa unidade e fraternidade nacional", disse Erdogan, numa coletiva de imprensa antes de sua partida à China, se referindo ao proscrito Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
O partido já havia dito que os bombardeios deixam o processo de paz sem sentido, mas evitou decretar formalmente a suspensão das negociações. E, nesta terça-feira, um líder pró-curdos da oposição turca afirmou que o braço armado do PKK planejou convocar um desarmamento, mas o processo foi bloqueado por Erdogan.
Além disso, o presidente turco disse que políticos com ligações com "grupos terroristas" – como o PKK é classificado pelo governo de Ancara e por organizações como a Otan e a União Europeia – não deveriam contar com imunidade parlamentar.
A Turquia lançou negociações em 2012 para tentar acabar com uma insurgência do PKK, que, em grande parte, luta na área predominantemente curda do sudeste do país. Os conflitos, que começaram em 1984, já deixaram cerca de 40 mil mortos.
Um frágil cessar-fogo estava em vigor desde março de 2013, mas a Turquia lançou ataques aéreos depois de policiais e soldados terem sido mortos em ações atribuídas ao braço armado do PKK.
Além disso, Erdogan também afirmou que uma "zona de segurança" no norte da Síria, cuja criação está em discussão entre os governos de Ancara e Washington, abriria o caminho para o retorno de 1,7 milhão de refugiados sírios, atualmente abrigados na Turquia.
"A liberação destas regiões e a criação de uma zona segura preparará o terreno para que 1,7 milhão de cidadãos possam retornar para casa", afirmou Erdogan a jornalistas no aeroporto de Ancara.
ONU e Otan criticam bombardeios
Na segunda-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, já havia expressado preocupação sobre os ataques aéreos turcos contra alvos do PKK. Ele afirmou esperar por uma suspensão imediata dos bombardeios e por um diálogo construtivo, de modo que uma solução pacífica possa ser alcançada.
No comunicado, o secretário-geral pediu a todos os envolvidos que não "voltem a um conflito mortal, que já causou tanto sofrimento às pessoas na Turquia no passado".
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também advertiu o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, de que os ataques aéreos contra o PKK ameaçariam o processo de paz com os curdos.
Em entrevista à emissora norueguesa NRK, Stoltenberg disse que a Turquia tem o direito de se defender contra ataques terroristas, mas que, no entanto, as medidas devem ser "proporcionais". Anteriormente, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e a chefe da política externa da União Europeia, Frederica Mogherini, haviam expressado opiniões semelhantes.
Reunião especial da Otan
A ministra da Defesa da Alemanha, Ursula von der Leyen, espera que a sessão especial da Otan sobre a situação tensa na Turquia, que ocorre nesta terça-feira (28/07), dê sinais claros ao país.
De acordo com a ministra, no encontro em Bruxelas, os embaixadores dos 28 Estados-membros da Otan "vão expor três direções claramente formuladas", entre as quais uma pleiteia que "todas as operações devam ser apropriadas e também balanceadas".
Por outro lado, tendo em visto a organização radical "Estado Islâmico" (EI), Von der Leyen afirmou que a Otan vai também assegurar compreensão e solidariedade à Turquia. No entanto, disse a ministra, o processo de paz com o PKK não poderia ser comprometido.
"É importante que os 28 parceiros da Otan continuem formulando muito claramente este objetivo político em comum", disse a ministra alemã.
Os ataques contra posições do PKK continuaram também no início desta semana. Davutoglu disse à emissora turca ATV, na segunda-feira, que o Exército turco continuará com os bombardeios até que o partido curdo deixe as armas. Segundo ele, armas e democracia "não são compatíveis".
"Zona livre do EI"
Ancara e Washington decidiram pela criação de uma zona no norte da Síria, da qual o EI deve ser expulso. A medida visa a proporcionar uma maior segurança e estabilidade na fronteira entre Turquia e Síria, afirmou um alto funcionário do governo americano à agência de notícias AFP.
Os detalhes da "área livre do EI" para o norte da Síria ainda precisam ser esclarecidos. Porém, ele ressaltou que não se trata de uma execução conjunta de uma zona fechada para o tráfego aéreo, tal como solicitado pela Turquia. Em vez disso, Ancara deverá apoiar na Síria os "aliados no terreno", que combatem os extremistas do EI.
De acordo com o jornal turco Hürriyet, o primeiro-ministro Davutoglu acordou sobre a utilização de tropas terrestres na Síria. Porém, rebeldes moderados, que lutam contra o EI, precisam também receber apoio militar pelo ar.
PV/dpa/afp/rtr/ap