Era Peter Löscher está perto do fim na Siemens
30 de julho de 2013O executivo Peter Löscher, há seis anos presidente-executivo da Siemens, deverá deixar o cargo nesta quarta-feira (31/07). O conselho de supervisão da empresa anunciou no sábado, em breve comunicado, que decidirá sobre a medida em reunião nesta quarta.
Os motivos seriam os repetidos resultados financeiros abaixo do esperado de uma das maiores multinacionais alemãs. A gota d'água para o conselho de administração foi quando Löscher, na semana passada, corrigiu para baixo a meta de lucros para 2014.
Inicialmente, o executivo de 55 anos chegou a impor uma condição para sua saída: que o presidente do conselho de administração, Gerhard Cromme, também deixasse o cargo.
Nesse meio tempo, Löscher desistiu da exigência, até porque ele não estava mesmo em condições de fazê-la. "É o conselho de administração que nomeia a diretoria", como explicou a advogada especializada em direito econômico Daniela Bergdolt, em entrevista à rede de TV alemã ARD, e não o contrário. "Quando a diretoria impõe exigências ao conselho de administração, evidencia sua ignorância em relação à real situação jurídica."
Mas é precisamente esse tipo de exigência que parece exemplificar o estilo de liderança e de comunicação de Löscher, que conduziu a empresa sediada em Munique por altos e baixos nos últimos anos.
Austríaco deveria fazer faxina
Em 2007, foi Cromme quem trouxe Löscher para a Siemens, na condição de primeiro presidente executivo não oriundo dos quadros da empresa. Na época, a Siemens estava numa profunda crise, mergulhada no maior escândalo de corrupção da história econômica alemã.
Ares frescos vindos de fora pareciam ser a solução ideal para os problemas internos. O executivo austríaco, egresso do laboratório farmacêutico americano Merck, foi levado à Alemanha para pôr ordem na casa.
Inteligente e cosmopolita, Löscher era visto como o homem certo para tirar o conglomerado da crise. Ele estudara economia em Viena, Hong Kong e Harvard, antes de fazer carreira em empresas farmacêuticas internacionais, como Hoechst, Aventis e Merck.
Sua experiência internacional e seu profundo conhecimento do mercado norte-americano fizeram com que ele se tornasse uma esperança para a Siemens e um homem de confiança para os parceiros internacionais. Vindo de fora, ele deveria quebrar velhas estruturas internas, sem se deixar influenciar por panelinhas de longa data.
Má sorte e prejuízos
Depois de um gerenciamento bem-sucedido da crise, nos anos de 2008 e 2009, Löscher começou um período de manchetes negativas. Com previsões de crescimento excessivamente ambiciosas, ele parecia trocar os pés pelas mãos.
"É claro que queremos atingir os altos objetivos que estabelecemos para nós mesmos", é uma das muitas frases típicas de Löscher. Ele costumava dizer que sempre busca "um lugar no topo" em relação à concorrência, pois "a área mediana simplesmente não basta para a Siemens".
Mas ele não conseguiu cumprir suas promessas. Ao longo de sua gestão, as ações da Siemens perderam cerca de 20% do valor. No primeiro semestre de 2011, Löscher anunciava uma meta de faturamento de 100 bilhões de euros, com uma margem de lucro de 12%, para, posteriormente, decepcionar, ficando mais uma vez aquém de suas previsões.
O rival mais importante no mercado mundial, a General Electric, chegou à marca dos 12%, enquanto a Siemens tinha que se contentar com módicos 7%, pouco mais da metade da concorrência. Observadores acusam Löscher de ter avaliado mal o desenvolvimento econômico dos mercados.
A Siemens errou a mão também nos investimentos em energias renováveis feitos nos últimos anos. A divisão de energia solar do grupo teve que ser totalmente encerrada, e a onerosa aquisição da empresa israelense de energia solar Solel se revelou um erro.
Já a empresa ferroviária alemã Deutsche Bahn espera até hoje a entrega de novos trens de alta velocidade encomendados à Siemens e prometidos para 2011. A entrega está atrasada por defeitos eletrônicos. "Nos últimos meses, não tivemos em projetos isolados o sucesso que nós e os nossos clientes imaginávamos", admitiu Löscher na última reunião de acionistas.
Estratégia errada
Bergdolt avalia como desastrosos os constantes recuos de Löscher, que frequentemente era obrigado a voltar atrás de metas anunciadas. "Nisso está, com certeza, o motivo para a demissão", afirma.
Além disso, ela sublinha que Löscher continuou sendo visto como um estranho no ninho, nunca se tornando um "siemensiano", como os funcionários de longa data são conhecidos coloquialmente na empresa.
Isso fez o seu apoio interno cair rapidamente. Além disso, com seu programa de corte de custos Siemens 2014, Löscher determinou cortes de postos de trabalho, provocando definitivamente a animosidade dos funcionários. "Löscher não conseguiu implementar projetos e unir as pessoas ao seu lado", resume Bergdolt.
"Conspiração infame"
O próprio Löscher vê sua demissão como "uma conspiração infame", como teria confidenciado a pessoas mais próximas, de acordo com o jornal Süddeutsche Zeitung, também de Munique.
O executivo Joe Kaeser, tido como o mais provável sucessor, seria considerado por Löscher como o mentor da suposta intriga para retirá-lo do cargo. O atual diretor financeiro da Siemens, de 56 anos, havia colaborado na estipulação da meta de 12% para a margem de lucro – e, ao mesmo tempo, apresentá-la ao conselho de administração como uma estratégia de risco.
Kaeser já teria a maioria do conselho de administração ao seu lado. Sua confirmação no cargo, nesta quarta-feira, seria uma mera formalidade.
Analistas, entretanto, duvidam que ele seja realmente o nome certo para polir a imagem da empresa. "Já na maneira como se dá a sucessão podemos ver que não há um plano de longo prazo", constata o economista Christoph Kaserer, em entrevista à rede de televisão ARD, referindo-se à troca da diretoria da empresa, aparentemente realizada em apenas três dias. "A Siemens não tem apenas problemas internos, mas também um problema com seu conselho de administração", conclui Kaserer.