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Entre vários desafios, presidente colombiano deve priorizar paz com as Farc

Mirra Banchón (ce)8 de agosto de 2014

Alcançar acordo de paz com os grupos armados que atuam em território colombiano será o grande desafio de Juan Manuel Santos. Observadores ressaltam ainda que combate a urgentes problemas sociais é também crucial.

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Foto: Guillermo Lagaria/AFP/Getty Images

Na longa lista de tarefas pendentes para o segundo mandato do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, a assinatura de acordos de paz com os grupos armados que atuam no país ocupa o primeiro lugar. Nessa missão, porém, ele poderá encontrar algumas dificuldades, preveem observadores.

A pesquisadora Anna Ayuso, do think thank Barcelona Center for International Affairs (Cidob), ressalta que, com o discurso de que seria o único capaz de dar continuidade às negociações de paz em curso no país, Manuel Santos acabou atraindo forças mais à esquerda do que o partido que ele lidera. Graças à essa base, conseguiu vencer as eleições no segundo turno.

Mas agora isso pode se tornar um dos primeiros obstáculos de seu mandato. "Isso implica um apoio político condicionado a reformas que reduzam as desigualdades e, principalmente, resolvam o problema da restituição e da titularidade de terras, uma das chaves históricas do conflito na Colômbia", ressalta Ayuso.

Diferentemente de quatro anos atrás, quando recebeu o governo colombiano das mãos do então presidente Álvaro Uribe – de quem foi herdeiro político e para quem a solução passava por um conflito armado –, Santos hoje tem certo respaldo político que o permite contar com uma maioria no Parlamento. "Entretanto, boa parte do establishment político está contra sua política do diálogo", destaca o analista Alejandro Guarín, do Instituto Alemão para Políticas de Desenvolvimento (DIE, sigla em alemão).

Guarín ressalta que a legitimidade das Farc como interlocutor nas negociações é controversa. "Se, para alguns, as forças revolucionárias materializaram certas desigualdades históricas, para outros o grupo não passa de um bando de terroristas narcotraficantes que não teriam por que se sentar de igual para igual com o Estado."

Vicente Vallies, porta-voz do Escritório Internacional de Direitos Humanos Ação Colômbia (Oidhaco), plataforma de organizações europeias que acompanham de perto o conflito no país, é taxativo. "O maior desafio de Santos será incluir nos diálogos todos os grupos armados e chegar a uma solução para colocar fim ao conflito armado", afirma.

Vallies lembra que os confrontos violentos continuam fazendo muitas vítimas. "É necessário dar garantias aos defensores dos direitos humanos, às pessoas que defendem seu direito à terra, às que se opõem a projetos econômicos que põem em risco seu meio de vida."

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Discurso de continuidade nas negociações de paz com as Farc garantiu vitória do atual presidenteFoto: Getty Images/Luis Robayo/AFP

Reforma agrária

Outra grande missão que aguarda Santos em seu segundo mandato será colocar em prática as reformas agrárias destinadas a reduzir o abismo entre a zona rural e a urbana. "Ele vai enfrentar uma oposição direta dos ruralistas mais conservadores, que apoiam Uribe e têm uma rede patronal profundamente enraizada. A maior oposição à reforma rural vai vir do campo, e não da cidade", avalia Ayuso.

A analista do Cidob não acredita que o presidente colombiano conseguirá resolver completamente o problema fundiário do país ainda neste mandato. Mesmo assim, ela ressalta que a assinatura dos acordos agora será um passo importante para estabelecer as bases de futuras reformas e também para levar o Estado a áreas que permaneceram sob controle das guerrilhas.

Reformas trabalhistas

Se o fim dos conflitos por terras – que já causaram mais de 6 milhões de vítimas, segundos dados oficiais – é uma demanda crucial da Colômbia rural, nas cidades as maiores expectativas da população estão ligadas a políticas sociais e de segurança, afirma Ayuso.

Cerca de 80% da população colombiana vive nas cidades. "E entre 50% e 55% trabalha sob condições informais e vulneráveis", afirma Guarín, que classifica como "inevitáveis" as urgentes reformas trabalhistas, caso realmente haja interesse em se estabelecer uma prosperidade compartilhada no país. "Neste momento, a grande desigualdade que há na Colômbia materializa-se principalmente nas cidades", afirma o analista.

Apoio da comunidade internacional

Entre as metas de Santos à frente do segundo mandato está buscar o apoio da comunidade internacional para as ações na Colômbia. Para a assinatura dos acordos de paz, por exemplo, o suporte dos países que acompanham de perto as negociações será fundamental.

"Além da Noruega, um dos avalistas do processo, a União Europeia também em acompanhado de perto todo o processo com as Farc", lembra Guarín. "Nada do que for discutido em Havana [onde as negociações estão ocorrendo] poderá funcionar se os Estados Unidos e a União Europeia não estiverem dando apoio. Além de darem legitimidade ao processo, sabemos que estão sendo negociadas reivindicações sociais que estavam na lista de espera – ainda que ninguém saiba exatamente o que foi acordado em Havana. E tudo isso vai precisar de dinheiro", aponta.

Outra grande tarefa é acabar com o narcotráfico e seu crucial papel no conflito armado – e envolver a comunidade internacional também nessa discussão. Durante as conversações em Havana entre o governo e as Farc, a organização concordou em romper seus vínculos com o tráfico de drogas e colaborar com um futuro programa de desminagem do território nacional. A tarefa, portanto, excederia os limites da Colômbia.

"Aqui Santos foi progressista e está aproveitando o momento de mudança na percepção internacional para começar a vender a ideia de que o narcotráfico é um problema geral, e que a política de repressão não está funcionando – algo que as Farc sempre disseram", avalia Guarín. "Neste sentido, o establishment está se movendo para a esquerda."

Apesar de concordarem que a gama de pendências é grande para este segundo mandato, os analistas avaliam que o presidente deverá empregar suas forças para conseguir alcançar o acordo de paz. "Considerando que Santos está obsessivo com seu próprio lugar na história, ele vai fazer o possível para assinar um acordo", diz Guarín.