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Enterro de segunda classe

Neusa Soliz4 de março de 2003

A última tentativa de unir sindicatos e empregadores em torno do combate ao desemprego falhou. A "Aliança para o Trabalho morreu" – titulam os jornais. A iniciativa caberá agora a Gerhard Schröder.

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Representantes dos sindicatos, M. Sommer (e) e dos empregadores, D. Hundt (direita) com Schröder (ao fundo, à direita)Foto: AP

Preocupado com o aumento do desemprego para mais de 4,5 milhões e a necessidade de reformas no mercado de trabalho, o chefe de governo alemão, Gerhard Schröder, convocou líderes sindicais e representantes patronais para um encontro, nesta segunda-feira (03/03) na chancelaria, em Berlim. Se no passado, tais reuniões sob o manto da "Aliança para o Trabalho" trouxeram resultados, nada mais difícil do que um consenso atualmente, com as frentes endurecidas.

As posições estão muito distantes, constatou Schröder, que apresentará um pacote de reformas do mercado de trabalho, na próxima sexta-feira (14/03). "Levamos a sério a opinião dos representantes. Se eles defendem interesses particulares, nossa tarefa é definir o que é do interesse geral. Não pretendo negociar", procurou mostrar firmeza o chanceler, que ouvirá separadamente a Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB ), a Confederação das Indústrias Alemãs (BDI) e as demais organizações patronais.

Entre a tradição e o colapso

O enterro da Aliança para o Trabalho é o fim, pelo menos por agora, de um consenso que já se transformara numa espécie de tradição política na Alemanha. E Schröder sabe que cabe ao governo agir, mesmo porque não há tempo a perder. O sistema alemão de previdência está à beira do colapso, devido à explosão de custos e ao envelhecimento da população. Contribuições mais elevadas sobrecarregariam mais ainda os custos sociais do trabalho, que já representam um pesado ônus para as empresas, juntamente com os altos salários. Tudo isso diminui sua capacidade de concorrência. Por outro lado, espera-se um crescimento econômico de 1%, no máximo, este ano, e é bastante grande o risco de a Alemanha ultrapassar novamente o limite de 3% fixado pelo Pacto de Estabilidade para o déficit orçamentário, depois de registrar 3,8% em 2002.

Nesta terça-feira, o day after, empresários e sindicalistas trocaram acusações, cada parte responsabilizando a outra por ter levado a aliança ao túmulo. "O que os sindicatos querem é mais Estado, pacotes que levariam a enormes dívidas. Mas isso não é possível, não dá para financiar. O que nós dizemos é: tirem as amarras, desregulem o mercado de trabalho! Reformem a previdência! É claro que isso significa restrições, que os sindicatos não querem aceitar", diz Michael Rogowski, presidente da BDI.

Frentes definidas

Michael Sommer, presidente da Confederação Sindical Alemã, dá a sua visão do problema: "Nós propusemos programas para ativar a conjuntura, programas de investimentos, garantia de vagas de aprendizagem nas empresas até propostas de reforma no setor de saúde. Mas os empregadores não discutiram nada disso, insistindo nas suas velhas reivindicações. Eles querem aproveitar a crise para continuar cortando empregos e benefícios sociais", expôs.

Sommer não aceita o argumento dos empresários, de que poderiam ser criados mais empregos se diminuíssem os impecilhos legais para a dispensa de funcionários. Ele só quer discutir o assunto se houver uma proposta aceitável sobre indenizações. Na sua opinião, o Estado deve investir mais, a fim de impulsionar o desenvolvimento econômico – uma receita da qual a iniciativa privada não quer nem ouvir falar.

A vez de Schröder

É como se ambas as partes não quisessem reconhecer os sinais do tempo: a globalização, a necessidade de integração num mundo sem fronteiras, mudanças tecnológicas e o envelhecimento da população alemã (a chamada pirâmide inversa, com a "ponta", dos idiosos, maior do que a base). Tudo isso determina o marco geral dentro do qual haverá que buscar soluções. E isso só é possível rompendo-se estruturas rígidas de pensamento.

De pouco adiantam os apelos da indústria a Schröder, para que faça as necessárias reformas. Como seu Partido Social Democrático perdeu as últimas eleições estaduais e municipais, o chanceler federal fará tudo para não desagradar muito trabalhadores e sindicalistas, os tradicionais adeptos da social-democracia alemã. Mas de pouco adiantarão os apelos vindos deste lado, para que o governo financie programas de investimentos: os cofres estão vazios.