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Entenda o conflito em torno de Jerusalém

5 de dezembro de 2017

Se transferir embaixada dos EUA para cidade, Trump rompe com convenção internacional amplamente aceita e coloca em risco futura solução de paz para conflito israelo-palestino.

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Vista do Monte das Oliveiras sobre Jerusalém e a cúpula dourada do Domo da Rocha
Vista do Monte das Oliveiras sobre Jerusalém e a cúpula dourada do Domo da RochaFoto: picture alliance/dpa/R.Holschneider

A Liga Árabe deixou a situação clara: se o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconhecer Jerusalém como capital de Israel ou transferir a embaixada americana de Tel Aviv para a cidade disputada, poderá haver uma inflamação de "fanatismo e violência" na região.

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"Essa decisão acabaria com o papel dos Estados Unidos como mediador confiável entre os palestinos e as forças de ocupação [israelenses]", disse o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abdul Gheit, nesta terça-feira (05/12) no Cairo, durante reunião de emergência do bloco árabe.

Leia mais: Árabes advertem EUA sobre levar embaixada para Jerusalém

Gheit lamentou que "alguns não vejam os perigos para a estabilidade no Oriente Médio e no mundo inteiro" trazidos por esse passo, devido ao qual o Hamas, grupo terrorista palestino que controla a Faixa de Gaza, ameaça iniciar uma nova Intifada [levante popular dos palestinos da Cisjordânia contra Israel]. "Isso não serve à paz e à estabilidade. Pelo contrário, estimula o fanatismo e a violência", afirmou.

O possível reconhecimento de Jerusalém como capital ou a transferência da embaixada americana seriam um rompimento de convenções internacionais, analisa o especialista Alexander Brakel, diretor do escritório da Fundação Konrad Adenauer em Jerusalém. "Com essa decisão, os EUA se afastariam de um consenso amplamente válido na comunidade internacional", afirma.

Segundo Brakel, a maior parte dos países respeita essa convenção e mantém suas representações diplomáticas em Tel Aviv e imediações e não em Jerusalém. "A decisão também excluiria ou anteciparia a questão sobre o futuro status de Jerusalém numa futura solução de paz para o conflito israelo-palestino", continua Brakel.

Imagem mostra embaixada dos EUA em Tel-Aviv
A embaixada dos Estados Unidos em Tel-AvivFoto: Getty Images/AFP/J. Guez

Cidade na Terra e no céu

A disputa por Jerusalém se dá em diversos contextos: político, cultural e religioso. O historiador Simon Sebag Montefiore descreve o status mítico da cidade afirmando que Jerusalém "é a pátria do Deus único, a capital de dois povos, o santuário de três religiões e a única cidade que existe tanto na Terra como no céu: a inigualável beleza da cidade terrestre não é nada em comparação com o esplendor da celestial".

Também por causa disso, as disputas pela cidade – tanto as militares quanto as em torno de seu significado – são tão ferozes. Jerusalém não é apenas uma cidade excepcional do ponto de vista histórico, mas também do religioso e simbólico, mesmo no século 21.

Após o primeiro conflito árabe-israelense (1947-49), a Cisjordânia e Jerusalém Oriental ficaram sob o domínio da Jordânia, e a parte ocidental da cidade ficou sob o domínio de Israel. Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, os israelenses reconquistaram Jerusalém Oriental – que, na época, era praticamente toda habitada por palestinos –, uniram-na à parte ocidental da cidade, ocupada por judeus, em 1980 e declararam Jerusalém a capital indivisível de Israel.

Desde então, os desentendimentos em torno da cidade voltaram a se agravar. O conflito pelos locais sagrados na Cidade Antiga – o Domo da Rocha, um dos edifícios mais sagrados do islã, do lado muçulmano, e o Muro das Lamentações, do lado israelense – é protagonizado de forma decidida e sempre segundo a lógica de que o triunfo de um lado é a derrota do outro.

Capital reivindicada pelos dois lados

Isso ficou evidente quando, em setembro de 2000, o ex-premiê israelense Ariel Sharon visitou o Monte do Templo, administrado pelos árabes, na Cidade Antiga de Jerusalém. Um ano antes, as negociações de paz de Camp David, intermediadas pelo ex-presidente americano Bill Clinton, haviam fracassado.

Palestinos andam diante de forças de segurança israelenses na entrada do Monte do Templo, em julho de 2017
Forças de segurança israelenses restringiram acesso ao Monte do Templo, em julhoFoto: Reuters/R. Zvulun

A visita de Sharon bastou para dar vazão à raiva palestina: logo voaram as primeiras pedras, que desencadearam a segunda Intifada – uma revolta em todos os territórios palestinos que durou quatro anos. Motivos religiosos e políticos se tornaram praticamente indissociáveis.

Os ânimos também estão exaltados no atual debate impulsionado por Trump sobre o futura status de Jerusalém. "A questão da soberania sobre o próprio – ou, no caso dos palestinos – futuro Estado desempenha um papel importante aqui", explica Brakel.

Jerusalém, afinal, foi reivindicada como capital pelos dois lados do conflito. "Por isso, uma mudança na questão envolvendo Jerusalém será uma declaração clara sobre a dimensão de um Estado. A questão política e a questão simbólico-religiosa se mesclam aqui."

Com sua decisão, Trump corre o risco de, no mínimo, colocar em risco a paz duramente mantida entre israelenses e palestinos. Segundo Brakel, a reação do mundo árabe a um possível reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel está em aberto.

Os protestos em julho deste ano, quando Israel restringiu o acesso ao Monte do Templo após um ataque mortal a dois policiais, podem dar uma ideia do que estaria por vir. Além disso, os bairros fora da Cidade Antiga em Jerusalém Oriental praticamente não tem significado para a maior parte dos israelenses, que quase nunca vão a esses locais, afirma o analista. O status dessas áreas não estaria em debate. "Complicada mesmo é a questão da futura situação do Monte do Templo e do Muro das Lamentações", avalia Brakel.

Kersten Knipp
Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.