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Enfraquecido, Temer vai ao G20 para controle de danos

4 de julho de 2017

Após anunciar que não iria à reunião do grupo na Alemanha, presidente voltou atrás. Para analista, custo de não comparecimento teria sido alto demais para imagem do governo e do país como ator global.

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Michel Temer
Recente viagem internacional de Temer foi classificada de "vexame"Foto: Reuters/U. Marcelino

Dez meses após estrear nos palcos internacionais como presidente efetivo, Michel Temer vai voltar a dar as caras em uma reunião de cúpula do G20. Depois de inicialmente cancelar a presença no novo encontro, que será realizado em Hamburgo, na Alemanha, nos dias 7 e 8 de julho, Temer voltou atrás e decidiu comparecer.

Tudo isso em meio à turbulência política que colocou seu governo à beira do abismo e perto da votação da reforma trabalhista pelo plenário do Senado, considerada um teste para demonstrar que algo de sua administração ainda funciona. Interlocutores do Planalto afirmam que a ideia é que a participação do presidente demonstre "normalidade administrativa".

Leia mais: Onde Temer se escora para não cair

Oficialmente, o objetivo não parece diferente daquele da primeira reunião do G20 que contou com a presença de Temer, em setembro de 2016, na China. Na ocasião, o presidente utilizou a oportunidade de posar ao lado de outros líderes para passar uma sensação de legitimidade junto ao público brasileiro e vender externamente a ideia de que ele seria capaz de entregar reformas econômicas.

Dessa forma, Temer, apesar de representar um país com a economia em decadência, só parecia ter a ganhar com a primeira reunião do grupo, que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia.

Só que agora, segundo Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a presença do presidente também pode ser encarada como uma tentativa de "controle de danos", tanto externos quanto internos, diante das críticas que surgiram após a informação inicial de que ele não iria ao fórum.

Temer em reunião do G20 na China
Temer em reunião do G20 em setembro de 2016, ao lado de Narendra Modi, Xi Jinping, Vladimir Putin e Jacob ZumaFoto: Reuters/W. Zhao

"O não comparecimento do presidente teria um custo muito elevado e sinalizaria tanto externamente quanto internamente que a instabilidade política atingiu um grau mais explícito", afirma Stuenkel.

"Mesmo que ele vá para comparecer de maneira apagada, ele pelo menos vai conseguir evitar mais uma notícia negativa sobre o país. Se não tivesse feito isso, todas as notícias sobre o G20 teriam sido acompanhadas da informação sobre a não aparição do Brasil. Nesse sentido, foi uma decisão correta. O desgaste não teria sido apenas do seu governo, mas da imagem do Brasil como ator global", diz.

De acordo com o professor, também teria sido grave se o presidente não tivesse comparecido a uma reunião em que o tema principal deve ser a nova postura global dos EUA sob Donald Trump.

"A relação do presidente dos EUA com o mundo representa um dos maiores desafios internacionais das últimas décadas", destaca Stuenkel. "Ao comparecer, Temer pelo menos sinaliza que o Brasil, uma das maiores economias do mundo, não está disposto a abrir mão do seu papel como ator construtivo do sistema internacional e que não quer ficar isolado das discussões que vão ser travadas no encontro."

Gráfico mostra desempenho econômico dos países do G20

Importância superestimada

Ainda segundo Stuenkel, mesmo que o presidente Temer passe um ar de normalidade, é certo que outros líderes do G20 vão encará-lo como um ator enfraquecido.

Não se deve esperar a repetição com o impopular Temer de cenas como a da reunião do G20 de 2009, quando o então presidente Lula foi saudado como "o cara" pelo americano Barack Obama, ou a de 2011, quando Dilma estava em posição de criticar a lentidão da União Europeia (UE) de lidar com a crise da zona do euro. À época desses encontros, a economia brasileira estava a pleno vapor e o país estava em evidência com a aproximação da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos.

"É certo que estreantes no G20, como o presidente francês, Emmanuel Macron, recebam da sua embaixada em Brasília um relatório sobre Temer, que vai descrever a luta pela sobrevivência política e desafios [do líder brasileiro]", diz.

Stuenkel, no entanto, faz uma ressalva sobre a provável presença diminuída de Temer no G20. "Encarar a questão dessa forma é superestimar a importância do governo. O Brasil não é o único país do G20 que enfrenta uma crise política. A importância do presidente não é tão grande assim. Ninguém do G20 cortou relações com o Brasil por causa da instabilidade interna", afirma.

"Todos sabem que o Brasil é importante demais e que Temer vai deixar o poder algum dia. Até lá, os líderes vão procurá-lo, não porque querem formar laços com o presidente, mas porque sabem que o Brasil é um ator importante e que as parcerias entre países são de longo prazo", conclui.

Fazem parte do G20: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos e a União Europeia. A reunião também vai contar com chefes de várias organizações internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Na semana retrasada, o presidente já havia utilizado uma agenda externa na Noruega e na Rússia para passar uma ideia de "normalidade administrativa". O primeiro giro internacional de Temer pós-dê lação da JBS, no entanto, acabou sendo classificado pela imprensa brasileira de "vexame".

Na Rússia, o presidente teve encontros burocráticos com o presidente Vladimir Putin e não assinou nenhum acordo relevante. Na Noruega, teve que encarar recriminações do governo local sobre a falta de ação no combate ao desmatamento da Amazônia. Além disso, Temer cometeu gafes, como se referir à Noruega como Suécia.