Energia Termosolar
13 de junho de 2008Enquanto o sol brilhar, o mundo não terá problemas de energia, ao menos teoricamente. Seis horas de sol nas regiões desérticas do mundo são suficientes para suprir a demanda energética anual do mundo todo. Há mais de 20 anos, cientistas sonham em usar o sol escaldante do deserto como fonte de energia.
Propostas concretas de como aproveitar o calor não faltam. Em 2003, o Clube de Roma apresentou o programa Desertec, que prevê que países do Oriente Médio e do norte da África produzam energia elétrica a partir de fontes alternativas, por exemplo em usinas termosolares e parques eólicos, a princípio para seus próprios mercados. A partir de 2020, essa energia produzida poderia ser exportada também para a Europa.
Transporte não seria problema
Segundo estimativas do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), cerca de 400 bilhões de euros teriam que ser investidos até 2050 para cobrir 15% do abastecimento energético da Europa através de usinas termosolares. "Parece muito, mas até lá os custos de investimento e manutenção de tais usinas, medidos em kilowatts por hora, seriam mais baixos que os de usinas movidas a combustíveis fósseis", explica Hans Müller-Steinhagen, do Instituto de Termodinâmica Técnica, associado ao DLR e sediado em Stuttgart.
Segundo ele, o transporte dessa energia para a Europa não representaria problema algum do ponto de vista técnico. A energia solar seria transportada através do mar Mediterrâneo não em corrente alternada, mas em corrente contínua. Com isso, as perdas durante o percurso seriam muito menores que com cabos comuns de alta tensão.
Também à noite
Nas usinas termosolares, ao contrário das fotovoltaicas, a energia solar não é convertida diretamente em energia elétrica, mas primeiramente em calor. Para tanto, utiliza-se uma tecnologia de calhas parabólicas. Amplos espelhos parabólicos captam os raios do sol num tubo de absorção, no qual um óleo térmico é aquecido a até 400ºC, produzindo vapor d'água que movimenta as turbinas para produzir energia elétrica.
A vantagem em relação a usinas fotovoltaicas é que, com o auxílio de acumuladores especiais de calor, as unidades termosolares também podem funcionar durante a noite, aumentando consideravelmente seu desempenho. Uma usina com 40 quilômetros quadrados de área bastaria para suprir toda a demanda energética da Alemanha.
Espanha lidera produção
Atualmente, a energia termosolar vive um boom, com 80 projetos de construção de usinas no mundo todo, conta Lars Waldmann, da empresa alemã Schott Solar, líder mundial na fabricação de tubos de absorção. Os maiores mercados são os Estados Unidos e principalmente a Espanha, onde há hoje cerca de 30 projetos de construção de unidades termosolares.
O maior projeto do mundo, com três usinas termosolares, fica próximo à cidade de Granada, no sul dos país. Planeja-se que a primeira delas entre em funcionamento ainda neste ano e abasteça 200 mil pessoas com energia elétrica. "A Espanha possui uma infra-estrutura excelente de energia termosolar", diz Waldmann. O propagação da tecnologia deu-se em virtude dos subsídios concedidos de até 20 cents de euro por kilowatt/hora.
Primeiro projeto no norte da África
Uma política de incentivos semelhante não existe no norte da África. No entanto, Waldmann reconhece que a região possui um grande potencial termosolar. Planos concretos estão sendo negociados no Marrocos, embora a construção ainda não tenha começado, diz Waldmann.
Além do Marrocos, também Argélia, Líbia e Egito mostraram interesse na tecnologia, e as primeras usinas estão sendo construídas, segundo Müller-Steinhagen. "Para esses países, este é um mercado de futuro. Eles garantem seu próprio abastecimento e depois podem passar a exportar. Além disso, é possível combinar a produção de energia termosolar com a dessalinização da água do mar", explica o especialista.
No entanto, ainda há um grande obstáculo. A construção de tais usinas depende de enormes investimentos iniciais, que não podem ser levantados apenas por esses países. "É como se construíssem uma usina a carvão e ao mesmo tivessem que comprar o carvão para os 25 anos seguintes", diz Müller-Steinhagen.
Para Winfried Speitkamp, especialista em assuntos africanos da Universidade de Giessen e coorganizador de um grupo de trabalho interdisciplinar sobre parcerias solares no continente, ainda é preciso esclarecer tanto questões políticas quanto econômicas.
Principalmente a planejada aliança de paises mediterrâneos teria que desenvolver uma linha comum, levando em considerações aspectos sociais e culturais. "Assim que se convencerem da idéia de que é possível ganhar dinheiro com energia solar, poderiam surgir conflitos", explica. Nesse caso, não há diferença entre sol e petróleo, alerta.