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Enciclopédias populares conquistam o mercado livreiro

(av)14 de março de 2002

Sem que ninguém percebesse, as obras em verbetes tornaram-se uma epidemia na Alemanha. A vitória da concisão sobre a profundidade?

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O peso da bagagem culturalFoto: AP

Tradicionalmente áridas coletâneas de dados, as enciclopédias populares são agora gabinetes de curiosidades sobre os temas mais inesperados: de vampiros e anjos, a jogadores pé de chumbo, profecias e mortes engraçadas.

Elas cobrem duas funções básicas: fornecer material para polêmicas de festinha – "quatro entre cinco homens não sabem preparar batatas na frigideira" (Enciclopédia das falácias sobre homens e mulheres) – ou apresentar complexos temáticos vastos e sérios, como nutrição, sexo e proteção do meio ambiente, em porções digeríveis, acondicionadas como fascinantes pacotinhos de surpresas.

Gabriele Gassen, responsável pela programação da tradicional editora Brockhaus, de Mannheim, atribui este boom ao "charme especial" do formato "de A a Z": ele transmite uma imagem de abrangência e acesso rápido. Através da televisão e da internet, o leitor moderno aprendeu a saltar de um ponto a outro. Ao contrário de um longo texto corrido, isto é também possível num livro ordenado em verbetes. Enfim, há séculos as enciclopédias permitem justamente isso que está tão em moda: a absorção de conhecimento em pequenos bocados.

O revisor-chefe da Editora Eichborn de Frankfurt, Matthias Bischoff, confirma tal ponto de vista: "O leitor pode entrar e sair do livro à vontade. Além disso, há a surpresa de encontrar novos conceitos." E, para brilhar na sociedade do life style, uma boa dose de cultura inútil vale tanto quanto uma citação de Goethe.

Um veio inesgotável

Com sua Enciclopédia das falácias populares, a Eichborn foi a pioneira do novo setor de sucesso. Este título tantas vezes copiado refuta uma série de equívocos difundidos do mundo da política, economia e medicina. Mas também mitos do dia-a-dia do tipo: "um crepúsculo vermelho significa bom tempo no dia seguinte".

Quando os autores Walter Krämer e Götz Trenkler publicaram a Enciclopédia em meados da década de 90, tratava-se de um livro normal, a idéia de ordenar os diversos temas em ordem alfabética partiu da própria casa editora. Só aí o buquê de concepções enganosas galgou as listas de best-sellers. A versão de bolso já ultrapassou a marca de um milhão de exemplares vendidos.

Nos últimos anos, a editora já publicou mais de 20 títulos do gênero. Assim, a Enciclopédia dos processos físicos enigmáticos explica a embriaguez, a flatulência e a paixão amorosa em termos fisiológicos. A lista total das enciclopédias que circulam atualmente na Alemanha já ultrapassa uma centena.

Segundo Bischoff, as enciclopédias "de autor "são as mais procuradas, ou seja, aquelas onde um perito lança teses originais sobre determinada área do conhecimento. Sempre no formato "de A a Z", é claro. Um exemplo é a publicação de Udo Pollmer e Susanne Warmuth que trata dos pecados nutricionais, examinando detidamente hábitos alimentares, colesterol e vitaminas.

Uma tradição francesa

Parte da atual tendência são igualmente as obras dirigidas especificamente aos aficionados de determinadas áreas. Este é o caso das enciclopédias "das panes cinematográficas" e "dos símbolos de status", ambas da Editora Gustav Kiepenhauer. Ainda outras dedicam-se a fenômenos engraçados, brutais ou exóticos. Nesta categoria, a "da linguagem dos presidiários" (Lexikon Imprint, Berlim) concorre com a "dos maníacos assassinos" (Ullstein, Berlim) ou a "do mau gosto" (Heyne, Munique). Esta última trata de bebidas asquerosas, crueldade imperial e outras questões de relevância comparável.

A qualidade dos exemplares da moda enciclopédica é altamente irregular, porém o filólogo Roland Kaehlbrandt vê uma chance cultural neste boom da forma concisa: "Ao contrário da França, onde os textos curtos possuem uma tradição mais forte, na literatura alemã as obras longas são consideradas de qualidade superior". Realmente, já desde o século 18, diversos artigos da legendária Encyclopédie de Denis Diderot e Jean d'Alembert destacavam-se por sua precisão. Agora, a virtude da concisão ganha importância também na Alemanha.