No Brasil, ministro alemão defende direitos das mulheres
30 de abril de 2019Em sua primeira viagem ao Brasil como ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas teve como primeira parada Salvador, nesta segunda-feira (29/04). Cerca de 50 mulheres o esperavam na cidade para dar largada à Rede de Mulheres entre América Latina, Caribe e Alemanha.
Após discursar sobre a importância da igualdade de gênero em sociedades que buscam justiça e democracia e ouvir um debate com brasileiras sobre os principais obstáculos para garantir o direito das mulheres, Maas seguiu para Brasília.
Na capital federal, o ministro alemão se encontra nesta terça-feira com o presidente Jair Bolsonaro. A agenda oficial divulgada prevê ainda uma reunião com o colega de pasta Ernesto Araújo.
"O Brasil foi no passado um parceiro importante da Alemanha, e nós queremos continuar tendo esse papel no futuro. Para isso, precisamos discutir também os valores que dão base a essa parceria", disse Maas à imprensa alemã em Salvador.
Segundo o ministro, temas como proteção ambiental, mudanças climáticas, florestas, direitos humanos, questões ligadas a minorias e homossexuais estarão na ordem do dia.
Unidas: Rede de Mulheres
A criação da Rede de Mulheres entre América Latina, Caribe e Alemanha, anunciada por Maas, tem como objetivo fortalecer a liderança feminina e aumentar o intercâmbio entre os países.
A iniciativa, liderada pelo Ministério do Exterior da Alemanha, já começou a reunir representantes de vários setores – líderes de movimentos sociais, do movimento negro, feminista, comunidade trans, sociedade civil, pesquisadoras, empreendedoras, artistas.
O ponto de partida em Salvador foi discutir os objetivos da rede, os principais temas que serão abordados, além dos critérios para financiamento de projetos. Até o fim da semana, outros dois workshops irão reunir mulheres em Bogotá, na Colômbia, e na cidade do México, países para os quais Maas viaja depois da passagem pelo Brasil.
Segundo o ministro, a Rede de Mulheres, que recebe o nome de Unidas, faz parte da estratégia da política externa alemã, que tem como um de seus objetivos criar oportunidades iguais para mulheres e homens.
De acordo com Maas, que atualmente preside o Conselho de Segurança da ONU, a participação das mulheres nos setores mais diversos é fundamental, assim como o combate à violência sexual.
Arany Santana, secretária de Cultura da Bahia, descreveu o atual cenário brasileiro como "uma das crises mais urgentes da nossa década", visível no aumento de casos de feminicídio, violação dos direitos e racismo.
"Não haverá saída sem o compromisso absoluto das nações com a equidade de gênero e raça", opinou Santana durante o evento, realizado no Instituto Goethe.
No mesmo prédio, estudantes e militantes de diferentes áreas costumavam se reunir nos tempos da ditadura para discutir política, assistir a filmes estrangeiros e fugir da repressão policial. "Essa casa foi usada como abrigo, como um território protegido", relembrou a secretária.
No campo jurídico, retrocessos dos direitos reprodutivos das mulheres são apontados como as maiores ameaças da era Bolsonaro, segundo Catarina Barbieri, pesquisadora do Núcleo de Direito, Gênero e Identidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.
Para as brasileiras que tentam empreender, a dificuldade de acesso a crédito e a falta de rede de apoio são vistas como grandes desafios.
"A autonomia financeira é fundamental para a independência da mulher. A nossa experiência mostra que, quando ela conquista isso, melhoram também a vida e o bem-estar das pessoas à sua volta, de sua família", detalhou Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, que conta com mais de 500 mil mulheres cadastradas.
Atenta aos depoimentos das brasileiras, a atriz alemã Sibel Kekilli disse que, também no universo artístico europeu, mulheres lidam com desigualdades. "Atrizes que tentaram incluir no contrato um tempo para amamentação, por exemplo, chegaram a perder trabalho", comentou durante o debate.
"A iniciativa do ministro Maas de fundar a Rede de Mulheres é um primeiro passo rumo a uma política externa feminista, que prioriza os direitos das mulheres nas relações entre continentes", avaliou Kristina Lunz, uma das fundadoras do Centro de Política Exterior Feminista (CFFP, na sigla em inglês) e consultora da ministério alemão.
Multilateralismo e agenda global
Em sua visita ao Brasil, acompanhado de uma delegação alemã, Maas deve ressaltar também a importância do multilateralismo na política internacional.
Para o ministro do Exterior brasileiro, Ernesto Araújo, o Brasil deveria adotar medidas mais nacionalistas, sem necessariamente se isolar dos demais países, como afirmou em discurso quando assumiu o ministério. À época, a postura foi avaliada por parlamentares brasileiros como uma ameaça ao multilateralismo.
"Isso é algo que o próprio governo brasileiro tem que decidir", pontua Maas sobre a questão. "Pelo menos, nós nos certificamos de que o país permanece no Acordo de Paris e no Conselho de Direitos Humanos da ONU", afirmou o ministro alemão em Salvador.
Para Maas, nenhum dos desafios atuais – como mudanças climáticas, globalização, migração e digitalização – podem ser vencidos isoladamente. "Precisamos de todos", ressalta o ministro sobre a importância de acordos multilaterais.
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