Em Portugal, Dilma se diz preocupada com a crise europeia
10 de junho de 2013Ao final de uma visita de dois dias a Lisboa, a presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira (10/06) estar preocupada com a crise financeira na Europa, que afeta a economia global. "Nós temos uma preocupação muito grande com a situação social e com o desemprego", ressaltou, após um encontro com o presidente português, Aníbal Cavaco Silva.
"Expressei ao presidente o meu desejo de que estejam mais próximos os momentos que vão levar a uma retomada do crescimento [...] e a uma melhoria da situação para populações europeias", completou.
A presidente ressaltou, ainda, que o Brasil tem interesse em ampliar as relações comerciais e os investimentos, elevando o "patamar de relacionamento" entre os dois países.
Já Cavaco Silva pediu que os empresários brasileiros invistam mais em Portugal. "Muitas empresas portuguesas investem no Brasil, e nós desejamos que mais empresas brasileiras olhem para Portugal, para as potencialidades de investimento, para as possibilidades de desenvolver relações comerciais mais intensas", afirmou o chefe de Estado, no Palácio de Belém.
Acordos e privatizações portuguesas
Logo depois, a líder brasileira se encontrou com o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho. Na pauta da reunião, esteve o processo de privatização das estatais portuguesas. Portugal está em recessão há quase três anos, e os portugueses têm especial interesse por investimentos brasileiros no programa de privatização das estatais. Há expectativa de que no segundo semestre seja retomada a venda da companhia aérea TAP e que Lisboa anuncie a venda dos correios, de uma companhia fornecedora de água e de um estaleiro.
Segundo afirmou em Portugal o ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderá financiar as empresas brasileiras que queiram participar do programa português de privatização nos setores de aviação, saneamento, correios e portos.
“Nós vamos assistir as empresas interessadas e vamos participar, mas primeiro tem que haver manifestação de interesse”, lembrou, ao falar com a imprensa no domingo, na chegada à capital portuguesa da comitiva brasileira.
Segundo o presidente da Câmara de Comércio Luso-Brasileira, os portugueses têm interesse especial, por exemplo, na compra da companhia aérea TAP por uma empresa sul-americana, por causa das rotas entre Portugal e o Atlântico Sul. Hoje, Lisboa é a principal porta de entrada de brasileiros na Europa.
Reconhecimento de diplomas
Entre os acordos assinados durante a visita de Dilma Rousseff a Portugal está um que prevê o reconhecimento recíproco dos cursos de arquitetura e engenharia, permitindo que profissionais portugueses dessas áreas possam trabalhar no Brasil e vice-versa. Portugal e Brasil também assinaram acordos de cooperação nas áreas de biotecnologia e nanotecnologia.
Em sua segunda visita oficial a Portugal, que coincide com o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a presidente brasileira participou, ainda, na cerimônia de entrega do Prêmio Camões ao escritor moçambicano Mia Couto, no Palácio de Queluz.
Depois da cerimônia, Dilma Rousseff participou de um jantar oferecido pelo presidente português, Cavaco Silva, antes de embarcar de volta ao Brasil.
Encontros com a oposição
O primeiro compromisso da presidente brasileira em Portugal foi no domingo, dia em que ela chegou a Lisboa. Ela teve um encontro com o líder da oposição portuguesa, o secretário-geral do Partido Socialista (PS), Antônio José Seguro. A reunião tratou das relações entre Brasil e Portugal e de investimentos.
Dilma Rousseff se encontrou, ainda, na manhã desta segunda-feira com o ex-presidente de Portugal Mário Soares. O político, de 88 anos, criticou as políticas econômicas de austeridade para se combater a crise e disse concordar com a presidente brasileira neste assunto.
“Somos camaradas, temos um pensamento muito próximo", disse. "Somos ambos de esquerda e temos um pensamento muito claro do que se passa e concordamos praticamente em tudo. Sou contra as políticas de austeridade como toda gente de esquerda tem que ser.”
Segundo Mário Soares, a crise na Europa tende a acabar “na medida em que a Alemanha [principal economia do continente] percebe que também vai entrar em crise se não acabar a austeridade”, disse, ao se referir à queda das exportações alemãs para países do sul da Europa.
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