Negócios da China
12 de abril de 2011Em visita à China, a presidente da República, Dilma Rousseff, defendeu "uma nova fase" na relação comercial entre os dois países e instou a segunda maior economia do mundo a comprar mais do que apenas aço e soja do Brasil.
Dilma e o presidente chinês, Hu Jintao, assinaram nesta terça-feira (12/04), em Pequim, uma declaração conjunta na qual se comprometem a continuar promovendo o desenvolvimento das relações bilaterais e a estender a cooperação para novas áreas, como energia, aviação e infraestrutura. O Brasil quer aumentar o volume de produtos industrializados exportados para a China.
Segundo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, dois dias de visita já renderam investimentos da China no Brasil no valor de 1 bilhão de dólares. Entre os negócios fechados está a compra de 35 jatos comerciais E 190 da Embraer para duas companhias aéreas chinesas: a China Southern Airlines e a Hebei Airlines. O valor estimado do negócio é de 1,4 bilhão de dólares.
Dilma também anunciou um projeto de investimento no Brasil de 12 bilhões de dólares pela empresa taiwanesa Foxcomm, que produz o iPhone, da Apple, e diversos outros produtos eletrônicos. "Eles estão propondo uma parceria. Eles vieram para nós e disseram que querem investir no Brasil", relatou a presidente, acrescentando que a empresa deseja produzir telas para computadores no Brasil.
Segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, a Foxconn e a Apple podem começar a produzir o tablet iPad no Brasil em novembro.
"As exportações brasileiras ainda estão excessivamente concentradas em produtos de soja, minério de ferro, petróleo e celulose. Isso é bom, mas não é o bastante", disse a presidente no segundo dia de sua visita oficial. "Esperamos inaugurar um novo tipo de investimentos na área industrial", ressaltou.
Fabricantes brasileiros reclamam que a baixa cotação da moeda chinesa, o yuan, prejudica a competitividade e coloca os produtos made in China em vantagem sobre os fabricados do Brasil. No entanto, segundo Pimentel, o tema não foi abordado durante o encontro com Jintao.
Concorrência do trem-bala
De acordo com a declaração bilateral assinada nesta terça, a China está disposta a "incentivar suas empresas a ampliar a importação de produtos brasileiros de maior valor agregado (não apenas matérias-primas)". Ainda segundo o documento de dez páginas e com 29 pontos, o Brasil vai se empenhar em tratar de forma rápida a questão do reconhecimento da China como economia de mercado.
A China também se comprometeu a enviar ao Brasil no primeiro semestre deste ano uma missão empresarial para promover a diversificação do comércio bilateral e o investimento recíproco.
Dilma convocou as empresas chinesas a participarem da concorrência para a construção do trem de alta velocidade que vai ligar o Rio de Janeiro a Campinas. A linha de aproximadamente 500 quilômetros está inicialmente orçada em 33 bilhões de dólares.
China: maior parceiro comercial
Nos últimos anos a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil, superando os Estados Unidos, e tornou-se o maior investidor do país sul-americano. Em dez anos, as importações brasileiras de produtos vindos da China passaram de 1,2 bilhão de dólares para 25,6 bilhões de dólares. As exportações brasileiras para a China atingiram 30,7 bilhões de dólares em 2010 – um crescimento de 60% com relação ao ano anterior. Commodities como soja e minério de ferro correspondem a 68% desse total.
Os chineses preferiram não se comprometer com relação a um apoio explícito ao pleito brasileiro de obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Na declaração bilateral, a China afirma apenas "compreender e apoiar" a aspiração brasileira de vir a desempenhar um papel mais proeminente nas Nações Unidas.
A presidente Dilma está no país para uma visita oficial de seis dias. Nesta quarta-feira, a presidente da República deve se encontrar com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao. Ela participará do encontro do Bric (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na quinta-feira, na ilha chinesa de Hainan.
MS/dpa/lusa/afp/rtr
Revisão: Alexandre Schossler