Em dialeto hamburguês, diz-se "Bom dia" sempre
1 de julho de 2016O dia já começa com um enfático Moin, Moin. De fato, isso soa como "bom dia" (Guten Morgen), lembrando a saudação em baixo alemão Morgen!, abreviada como Morn (próximo ao anglo-saxão morning) ou Moin. Mas Moin, Moin se diz de manhã, à tarde e à noite...
Na verdade, a expressão é derivada de mooi (bom, bonito), uma palavra usada no baixo alemão, holandês, flamengo e frísio. Moin Dag (Guten Tag) é "boa tarde"; a repetição Moin Moin é para enfatizar.
Apesar da familiaridade da expressão, o hamburguês não é de muitas intimidades, pelo menos de início. Mesmo dentro da Alemanha, ele tem a fama de ser reservado e formal. Mas depois de uma troca de palavras inicial no alemão clássico, não é incomum ele começar a falar em dialeto.
Tentando falar difícil
Afinal, a língua original de Hamburgo não é o alemão clássico, mas sim o chamado Plattdeutsch (baixo-alemão). Na época hanseática, os dialetos de Hamburgo e Lübeck eram a língua franca do norte da Europa, entendida da Inglaterra à Rússia. Até a Idade Moderna, o Plattdeutsch era a língua oficial de Hamburgo, falada em inúmeras variantes dialetais.
Mas o Platt de Hamburgo nem sempre é Platt de Hamburgo. N mooien Dag wünsch ik (Einen guten Tag wünsche ich = Desejo um bom dia) é uma frase em Missingsch.
Missingsch é uma mistura de alemão clássico e baixo-alemão; em outras palavras, uma espécie de tentativa fracassada do nativo de Hamburgo ou de Danzig (hoje Gdansk, Polônia) falar o alemão padrão.
Esperando no jardim
Missingsch não vem de "Mischung" (mistura), mas sim de Meissnisch ou Meissnerisch, ou seja, a língua escrita adotada por diferentes principados antes da unificação da Alemanha. Esta padronização foi feita após as chancelarias terem desistido pouco a pouco do latim como idioma oficial para documentos escritos. Trata-se da chamada "língua de chancelaria de Meissner", para qual Lutero traduziu a Bíblia.
Por Hamburgo passa uma linha imaginária determinada pelo Alster. Este rio, que atravessa a cidade e forma um lago no centro, funciona como uma fronteira sociolinguística.
Os habitantes do bairro rico de Blankenese, cuja vida tem um charme aquático por causa da proximidade do Rio Elba, "esperam no jardim" (warchten im Garchten = warten im Garten), quando combinam de se encontrar com alguém. Já os moradores do bairro de Barmbeck, do outro lado, esperam no jardim de outro jeito: Sie waaten im Gaaten.
Engolindo o L e o R
Mas mais importante que a separação leste e oeste dentro de Hamburgo é a chamada linha de Benrath, de Aachen, no oeste, a Frankfurt do Oder, no leste. Ao norte desta fronteira, se fala o Plattdeutsch, e, ao sul, o alemão padrão. No sul, "gato" é Katze; no norte, é Kat (o que deixa reconhecer mais uma vez a proximidade do anglo-saxão).
Dialeto para cá e para lá, em Hamburgo também se fala o alemão clássico, é claro, apesar de algumas peculiaridades. Muitos hamburgueses separam nitidamente o "s" de outras consoantes, em palavras como S-tein ("pedra") ou S-patz ("pardal"). Eles também costumam engolir o "r" e o "l", falando Miich em vez de Milch ("leite") e Kiiche em vez de Kirche ("igreja").