Em Davos, Zelenski pede "sanções máximas" contra a Rússia
23 de maio de 2022O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pediu nesta segunda-feira (23/05) "sanções máximas" contra a Rússia. Durante um discurso transmitido na abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o líder ucraniano foi ovacionado pelos participantes do evento, que neste ano vetou a participação russa devido à guerra.
Zelenski insistiu que, para parar a agressão de Moscou, as sanções precisam ir além das que já foram impostas por países ocidentais e devem incluir o embargo ao petróleo russo, o bloqueio de todos os bancos do país e a suspensão de todos os negócios com a Rússia.
"É assim que sanções devem ser: máximas. Só assim a Rússia e qualquer outro potencial agressor, que queira promover uma guerra brutal contra seu vizinho, saberão claramente as consequências imediatas de seus atos", afirmou Zelenski.
Ele também defendeu a retirada completa de empresas estrangeiras do território russo, a fim de evitar o apoio à guerra, e convidou essas companhias para se mudarem para a Ucrânia. Além disso, afirmou que o país precisa de uma ajuda mínima de 5 bilhões de dólares por mês.
Além das sanções, Zelenski reiterou a necessidade de a Ucrânia receber mais armas: "Se tivéssemos recebido tudo o que pedimos de uma só vez, ainda em fevereiro, o resultado seria que dezenas de milhares de vidas teriam sido salvas. É por isso que a Ucrânia precisa de todos os armamentos que pedimos, e não somente dos que nos foram entregues".
O G7, grupo de países formado pelas sete maiores economias do mundo, já havia acordado na sexta-feira um repasse de quase 20 bilhões de dólares em ajuda financeira à Ucrânia. O Congresso dos Estados Unidos também havia aprovado um pacote de 40 bilhões. Sábado, durante visita à Coreia do Sul, o presidente Joe Biden sancionou o projeto.
"Esta guerra é um ponto de virada e vai reconfigurar nossos campos políticos e econômicos nos próximos anos", disse Klaus Schwab, um dos fundadores do Fórum Econômico Mundial.
Fome é uma as preocupações
Para os políticos e empresários que participam do fórum, há uma série de tópicos sobre a mesa: guerra na Ucrânia, preços dos combustíveis, mudanças climáticas, a pandemia de covid-19 e a escassez de alimentoscausada pelo conflito na Europa.
Ovacionado após sua fala, Zelenski também lembrou que a Rússia está dificultando a exportação de alimentos, como trigo e óleo de girassol, na medida em que bloqueia portos e rouba suprimentos, segundo o governo ucraniano, o que tem trazido insegurança alimentar a países de continentes e regiões distintas, como África, Oriente Médio e partes da Ásia.
O diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, David Beasley, pediu a reabertura dos portos ucranianos, lembrando que o país produz o suficiente para "alimentar 400 milhões de pessoas".
Segundo disse Beasley, se a cadeia ucraniana de suprimentos seguir fora do mercado, o mundo poderá conviver com "um inferno na Terra" nos próximos de 10 a 12 messes. Ele também alertou que há, atualmente, pelo menos 49 milhões de pessoas sofrendo com a fome em 43 países, em diferentes regiões, entre eles, Iêmen, Líbano, Mali, Burkina Faso, Egito, Congo, Guatemala e El Salvador.
"O mundo enfrenta uma grave crise. É necessário agir, o mundo precisa de vocês", disse Beasley, ao fazer um pedido a bilionários para que ajudem financeiramente a prevenir uma catástrofe alimentar.
Rússia fora desta edição
O Fórum Econômico Mundial voltou a ocorrer presencialmente depois de um hiato de mais de dois anos devido à pandemia de coronavírus. No ano passado, o evento foi totalmente online. Este ano, foi adiado para maio também por causa da pandemia, já que normalmente ocorre no mês de janeiro.
Políticos e empresários russos não foram convidados para esta edição. A chamada Casa da Rússia, historicamente utilizada para promover o país durante o Fórum Econômico Mundial, foi rebatizada por críticos de Casa de Crimes de Guerra da Rússia. O local mostra fotografias de crueldades das quais o país é acusado de perpetrar em solo ucraniano.
O prefeito de Bucha, Anatoliy Fedoruk, irá discursar no evento. A cidade, próxima a Kiev, foi palco de cenas que chocaram o mundo. Após o exército russo deixar a região, surgiu um rastro de destruição e mortes, com dezenas de corpos espalhados por ruas, muitos deles com as mãos amarradas e enterrados em valas comuns.
gb/cn (AP, AFP, Lusa)