Em cerimônia sem pompa, Dinamarca dá adeus a Margrethe 2ª
Publicado 13 de janeiro de 2024Última atualização 14 de janeiro de 2024Apesar das temperaturas congelantes, em torno de 0° C, centenas de pessoas se acotovelaram desde as primeiras horas deste domingo (14/01) em frente ao Palácio de Christiansborg para assistir à cerimônia de proclamação do novo monarca dinamarquês.
A Dinamarca encerrou o reinado de 52 anos de Margrethe 2ª, a monarca mais longeva no trono, que abdicou em favor de seu filho mais velho, o príncipe herdeiro Frederik, de 55 anos.
Desde que o país nórdico se tornou uma monarquia hereditária em 1660, nenhum rei ou rainha abdicou, sendo que o último precedente data de 1146, quando Erich 3° deixou o trono para se retirar para um mosteiro.
O anúncio inesperado feito pela monarca em seu tradicional discurso de Ano Novo – ela não contou aos filhos até três dias antes, conforme confirmado pela Casa Real – pegou o país de surpresa, embora a decisão tenha recebido amplo apoio.
A rainha, que reiterou várias vezes que seu cargo era "vitalício", justificou sua aposentadoria recorrendo à sua idade (83 anos), aos problemas decorrentes de uma complicada operação nas costas e à necessidade de abrir caminho para a nova geração.
A escolha da data não é coincidência: em 14 de janeiro de 1972, a então princesa herdeira foi proclamada rainha da sacada do Palácio de Christiansborg, após a morte horas antes de seu pai, Frederik 9°.
Cerimônia sóbria, sem convidados estrangeiros
O esquema foi o mesmo seguido nas quatro sucessões anteriores desde a mudança para a monarquia constitucional em 1849, embora em duas delas tenham sido transferidos para o complexo do palácio de Amalienborg, pois Christiansborg estava sendo restaurado após um incêndio.
Às 14h (horário local) foi realizado um conselho de Estado no qual Margrethe 2ª assinou, diante dos integrantes do governo, sua declaração de abdicação – a primeira na Dinamarca em 900 anos. No momento em que isso ocorreu, a mudança no trono se consumou.
A proclamação ocorreu às 15h, quando o novo rei foi proclamado pela primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, na sacada de Christiansborg. Após as palavras da chefe de governo, o então Frederik 10° fez um breve discurso, e três disparos de 27 salvas são feitos de uma fortaleza militar no porto.
Antes da proclamação, e depois que a sucessão entrar em vigor, Frederik e a nova rainha Mary deram uma pequena recepção com a presença de Frederiksen e dos presidentes da Groenlândia e das Ilhas Faroe, territórios autônomos dinamarqueses, entre outros.
Não houve convidados reais de outros países na cerimônia, de acordo com a tradição dinamarquesa, que também não inclui coroação. Mas Frederik esteve acompanhado de seu irmão mais novo, o príncipe Joachim, sem a esposa e os filhos, que, como ele, moram em Washington, e sua irmã mais velha, Mary.
Passeio de carruagem por Copenhague
Milhares de dinamarqueses se reuniram na capital dinamarquesa, Copenhague, para acompanhar o evento histórico, com muitos hotéis com reservas esgotadas dias antes. Já no início da semana quase não havia mais passagens de avião ou trem para a cidade.
A rainha Margrethe e a família real são muito populares no país. Segundo uma sondagem 82% dos dinamarqueses também acreditam que o filho dela será um bom rei.
Milhares de dinamarqueses foram à praça Kongens Nytorv, no centro de Copenhague, na noite de sexta-feira, apesar das temperaturas abaixo de zero, para assistir a um concerto ao ar livre em homenagem à rainha, que agradeceu no final em um discurso em vídeo.
A polícia pediu que as pessoas usem neste domingo o transporte público ou caminhem para se locomover pelo centro de Copenhague, e não aconselharam nem mesmo a usar bicicletas, o meio de transporte mais comum na Dinamarca, devido ao fechamento do tráfego e à expectativa de que muitas pessoas estejam nas ruas, inclusive nas ciclovias.
Frederik e Mary saíram primeiro de Amalienborg para Christiansborg de carro, enquanto Margrethe 2ª saiu dois minutos depois de outro dos palácios do complexo de carruagem; em seu retorno, os novos reis viajaram de carruagem e a rainha, de carro.
O programa de eventos também inclui uma recepção no Parlamento dinamarquês na segunda-feira e um serviço religioso no dia 21 de janeiro na catedral de Aarhus, a segunda cidade do país.
O governo dinamarquês anunciou nesta sexta-feira sua intenção de aumentar o subsídio da Casa Real, assim como o financiamento para a manutenção e reforma dos castelos reais.
md (EFE, AFP)