Elke Erb, a grande dama da poesia alemã contemporânea
27 de fevereiro de 2013Espécie de matriarca da cena poética berlinense contemporânea, Elke Erb nasceu numa pequena cidade da Renânia do Norte, mas passou parte da infância e adolescência na República Democrática Alemã (Alemanha Oriental), para onde seu pai, o crítico literário Ewald Erb, decidira emigrar em 1949. Ela se formou em Germanísitica, Eslavística, História e Pedagogia na Universidade de Halle.
Também conhecida como tradutora do russo, inglês e georgiano, Elke Erb verteu para o alemão escritores de gerações diversas, como Alexander Pushkin, Marina Tsvetáieva, Anna Akhmátova, Velimir Khlébnikov, Oleg Yuriev e Olga Martynova. Sua vida como escritora na Alemanha Oriental encontrou os obstáculos comuns a todos os que se recusaram a uniformizar-se de acordo com a estética do regime, e ela foi vigiada pela polícia secreta Stasi, do mesmo modo que Peter Huchel e outros poetas e escritores.
Erb costuma combinar contos, poemas e ensaios num mesmo volume. Estreou em 1975, com Gutachten. Poesie und Prosa (Avaliações. Poesia e prosa), ao qual seguiram-se, até a queda do Muro de Berlim, Einer schreit: Nicht! Geschichten und Gedichte (Alguém grita: Não! Histórias e poemas, 1976), Trost. Gedichte und Prosa (Consolo. Poemas e Prosa, 1978), Vexierbild (Ilusão de ótica, 1983), e Kastanienallee. Texte und Kommentare (1987), cujo título evoca uma avenida berlinense.
Detalhe realista e experimentalismo linguístico
Elke Erb seguiu vivendo no leste da capital alemã após 1989, e hoje tem papel importante para as gerações mais jovens de poetas, como editora e por seu próprio trabalho poético. A exemplo de outros poetas que iniciaram e conduziram grande parte de seu trabalho sob a vigilância dos controles estéticos de um Estado comunista, há na obra de Elke Erb uma ênfase sobre o concreto e material e uma visão aguçada sobre a vida cotidiana.
A essas características, porém, ela une um trabalho sintático pessoal, com ironia bastante particular. Por vezes, recorre até mesmo a uma linguagem quase infantil, num trabalho sonoro e semântico que remete à poesia do absurdo do inglês Edward Lear, ou, em alemão, a Christian Morgenstern e o dadaísta Hans Arp.
Os experimentos sintáticos de Elke Erb demonstram afinidades com o trabalho das escritoras norte-americanas ligadas à revista L=A=N=G=U=A=G=E, e ela encontrou em Rosmarie Waldrop uma tradutora e interlocutora congenial. Em 1995 a editora Burning Deck Books, de Waldrop, lançou Mountains in Berlin, uma antologia de poemas de Elke Erb traduzidos para o inglês.
Grande dama da poesia
Nos últimos anos, a autora alemã publicou basicamente coletâneas de poemas, vários pela importante editora de Urs Engeler, entre os quais: die crux(2003), Gänsesommer (2005), Sonanz. 5-Minuten-Notate (2008), assim como Freunde hin, Freunde her (2005). Em 2012 foi convidada a integrar a Academia de Artes de Berlim.
Numa resenha do livro Sonanz, Tom Pohlman discute como Erb oscila entre gêneros literários distintos. Ele menciona o mal-estar de pertencer a um gênero delimitado – comum entre os poetas contemporâneos, mas que os une por um interesse quase científico no funcionamento da linguagem. A esse grupo, Pohlman subscreve Elke Erb, assim como os franceses Francis Ponge e Philippe Jaccottet, ou a dinamarquesa Inger Christensen, entre outros. Mas é possível também incluir aqui a própria Rosmarie Waldrop, tradutora de Erb nos Estados Unidos, ou Hilda Hilst, do Brasil, ainda que de maneiras distintas.
Com a chegada de mais uma geração de poetas na língua alemã nestes últimos anos e o respeito que também têm dedicado ao trabalho de Elke Erb, parece cada vez mais clara e certa sua ascensão à posição de uma das Grandes Damas da poesia germânica contemporânea, ao lado de Ulla Hahn e Friederike Mayröcker, entre outras.
Autor: Ricardo Domeneck
Revisão: Augusto Valente