Mais poder
28 de janeiro de 2011Empresários de ponta presentes ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, demonstram otimismo cauteloso em relação à recuperação global. No entanto, não é tão claro qual o papel do G20 em tornar o sistema financeiro global à prova de crise.
Mas, se as discussões entre a elite econômica podem ser adotadas como indicador, está na hora de os mercados emergentes terem mais voz ativa no processo de tomada de decisões.
Meio cheio, meio vazio
Nouriel Roubini é um dos poucos economistas que previu a crise do crédito, e carrega uma reputação de pessimista crítico. Contudo surpreendeu alguns participantes ao subir ao palco do Fórum, dizendo que o copo global não está apenas meio vazio, mas também meio cheio.
"Há uma recuperação econômica mundial, tanto nas economias desenvolvidas como nas emergentes. Ela é mais forte nos mercados emergentes – esse é o primeiro ponto positivo – e é constante", disse Roubini.
O segundo ponto positivo, defende o economista, é que são menores do que no ano passado tanto os riscos de um mergulho imediato numa nova recessão, nas economias desenvolvidas, quanto os de uma deflação imediata. E, finalmente: são fortes os balanços das empresas líderes nos Estados Unidos e em outras economias avançadas, como as da Europa.
O principal tema do encontro deste ano em Davos é a chamada "nova realidade" – o deslocamento de poder político e econômico das economias industrializadas ocidentais para as potências emergentes do Leste e do Sul.
Influência econômica
O presidente da gigante de IT indiana Wipro, Azim Premji, declarou que, em cinco anos, os mercados emergentes disporão de mais receitas familiares acima dos 10 mil dólares do que os Estados Unidos e a Europa juntos. Assim, as multinacionais tendem a enfocar mais os países como Índia e China, "de onde veem partir o crescimento", acrescentou Premji.
As areias movediças da influência econômica forçam os tomadores de decisões nas finanças e na política a repensar sua visão de mundo. É o que defende Sir Martin Sorrel, diretor executivo da companhia de marketing WPP, baseada em Londres.
"Acho que temos que retirar do dicionário os termos 'em desenvolvimento' e 'emergente'. A China é uma economia de 5 trilhões de dólares – contra 15 trilhões dos Estados Unidos, é verdade –, nos 65 trilhões de dólares mundiais", diz Sorrel.
Aparentemente o grupo Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – já está se tornando coisa do passado: o último grito para os que "mexem os pauzinhos" em Davos é "Civets".
Nova ordem
Quem é fã de animais pode até saber que a civeta (civet, em inglês) é um mamífero pintado, semelhante a um gato, que vive em florestas tropicais da África e da Ásia. Mas na reunião na fria Suíça, "Civets" quer dizer: Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul. Segundo alguns analistas, esses países irão liderar a próxima onda de crescimento.
Aonde essa transição para uma nova ordem econômica levará as economias avançadas? Nouriel Roubini vê quatro grandes desafios.
Um deles é a demografia e o envelhecimento da população, que reduz o potencial de crescimento. "É um problema no Japão, é um problema na Europa", diz Roubini. Outros dois são: a necessidade de reformas estruturais nas economias avançadas, e a necessidade de se investir em educação e infraestrutura, para aumentar a competitividade e produtividade.
Quanto ao quarto desafio, Roubini comenta: "Temos esses problemas do débito estatal – grandes déficits de orçamento, a valorização dos títulos de dívida pública – que podem estar retendo o potencial de crescimento".
Zhu Min é consultor especial do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-vice-presidente do Banco Popular da China. Ele diz que os modelos econômicos precisam de uma revisão, à medida em que os países em desenvolvimento se tornam mais prósperos.
Plataforma de mudança
"Há 1 bilhão de pessoas vivendo nas economias avançadas e 3 bilhões nos mercados emergentes. Se você pergunta a todos os que vivem num país emergente como será o modelo de vida de amanhã, eles respondem 'American life': uma casa grande, um carro grande e um off-road. Mas isso não vai funcionar, pois na verdade não temos recursos que possibilitem tudo isso. O mundo todo tem que trabalhar junto para encontrar um modelo para amanhã", argumenta Zhu.
O Fórum Econômico Mundial quer promover o G20 como plataforma de mudanças. Mas alguns participantes alertam que os líderes nacionais parecem incapazes de chegar a um consenso em assuntos-chave como impostos, regulação e comércio. Seu maior temor é que a estrutura internacional entre em colapso, deixando a todos num mundo "G-zero".
Autor: Sam Edmonds (np)
Revisão: Augusto Valente