Eleições
22 de novembro de 2006Nesta quarta-feira (22/11), dia das eleições na Holanda, enquetes apontam para um equilíbrio entre o conservador CDA (Partido Democrata Cristão), do atual premiê Jan Peter Balkenende, e o Partido Trabalhista. Membros das duas facções ainda lutam pelos votos dos indecisos de última hora. Analistas políticos acreditam que os resultados possam levar a uma coligação dos dois partidos de perfil distinto.
Temas como a política de imigração e a integração de estrangeiros, que dominaram campanhas eleitorais anteriores, desempenham um papel secundário neste pleito. Mesmo assim, uma coligação entre os conservadores e o Partido Trabalhista poderia resultar em uma certa abertura em relação aos estrangeiros.
Pouco antes das eleições, a atual ministra da Imigração, Rita Verdonk, anunciou a proibição no espaço público do uso de burkas e outros véus que encobrem o rosto, usados por algumas muçulmanas no país. Ao mesmo tempo, o Partido Trabalhista anunciou que pretende legalizar a situação de milhares de estrangeiros que vivem ilegalmente na Holanda. O candidato do partido, Wouter Bos, acusou o premiê Balkenende de dar curso a uma "política social cruel".
Harry Potter
Há poucos meses, as previsões eram de que Balkenende sairia como o grande perdedor das eleições na Holanda e seria derrotado em grande estilo por Wouter Bos, do PvdA (Partido Trabalhista). De perfil jovem e carismático, Bos era visto como o oposto de Balkenende, sendo visto como exatamente aquilo que faltava ao governo em Haia.
No entanto, poucos dias antes das eleições, as enquetes passaram a apontar em outra direção, deixando de prever a vitória de Bos (43 anos) frente a Balkenende (53 anos, democrata-cristão e conhecido no país como Harry Potter , devido a seu corte cabelo, óculos e perfil "jovial demais" para um político acima dos 50).
Desde o fim da coligação de governo de centro-direita no país, no último ano, Balkenende governa com o apoio de apenas uma minoria no Parlamento. Os ventos, porém, foram favoráveis ao democrata-cristão: a economia cresceu e o desemprego caiu, tendo chegado ao índice de 5%.
Idosos vistos como problema
A coligação de centro-direita, enquanto durou, impediu a implementação da aposentadoria precoce e reduziu o auxílio aos desempregados. Aspectos que fizeram a chanceler federal alemã, Angela Merkel, chamar a vizinha Holanda de "exemplo a ser seguido". O modelo, porém, tem seus pontos fracos, entre estes a ampliação do abismo entre ricos e pobres no país – um aspecto usado por Bos para levar mais votos nas urnas.
"As pessoas mais idosas têm cada vez mais a sensação de que são apenas um problema de despesas para a comunidade. Quero mudar isso nos próximos anos. Os idosos não devem ser tratados como um peso para a sociedade, mas têm que envelhecer com dignidade", declarou o candidato.
Embora estes propósitos sejam bem vistos por parte dos eleitores, as contradições do programa de governo do Partido Trabalhista são uma pedra no caminho eleitoral, como por exemplo o fato de que a facção pretende primeiro passar a cobrar impostos dos aposentados, para depois reduzir os tributos de forma geral.
Fadados à grande coalizão?
Como se não bastasse o fato de que o Partido Trabalhista tenha sido ultrapassado nas pesquisas pelos democrata-cristãos, ele está na reta final sendo ameaçado também pelos socialistas, com Jan Marijnissen à frente. Acusado de populismo, o ex-maoísta deve roubar uma boa parcela dos votos do Partido Trabalhista.
Nos dias que antecederam o pleito, Bos tentou abertamente abocanhar parte do eleitorado de esquerda, na esperança de impedir um crescimento ainda maior dos socialistas nas urnas. Mas isso significaria apenas um deslocamento de votos dentro do espectro da esquerda.
Mesmo incluindo na contagem o eleitorado do Partido Verde, que possivelmente deve perder de uma a duas das atuais oito cadeiras no Parlamento, as estatísticas não prevêem uma maioria que possibilite uma coligação de esquerda. Diante disso, é provável que a grande coalizão entre Partido Trabalhista e democrata-cristãos acabe sendo a única possibilidade de governo viável.
Todos mais à direita
Os grandes perdedores das eleições na Holanda são, contudo, os liberais, que fizeram um nome às custas da defesa de uma política de imigração austera e nacionalista, acentuada pelas mortes do cineasta Theo van Gogh e do populista de direita Pim Fortuyn.
O problema é que, nesse ínterim, todos os outros partidos deram uma guinada em direção ao perfil linha-dura, diminuindo sensivelmente a "necessidade" do eleitor de se voltar para uma facção de direita. "Ironia do destino" numa Holanda conhecida e admirada por sua tradição de tolerância e abertura.