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Egito

30 de dezembro de 2011

Festejados após queda de Mubarak, militares perdem a confiança dos egípcios. Repressão a protestos e prisões de manifestantes fazem com que promessas do governo de transição sejam vistas com cada vez mais ceticismo.

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Egyptian army soldiers arrest a female protester during clashes at Tahrir Square in Cairo December 17, 2011. Soldiers beat demonstrators with batons in Cairo's Tahrir Square on Saturday in a second day of clashes that have killed nine people and wounded more than 300, marring the first free election most Egyptians can remember. REUTERS/Stringer (EGYPT - Tags: CIVIL UNREST POLITICS TPX IMAGES OF THE DAY)
Repressão a protestos: práticas similares à da era MubarakFoto: Reuters

"O povo e os militares – uma mão", gritaram os manifestantes em 12 de Fevereiro, cheios de euforia, quando foi anunciada na televisão a queda de Hosni Mubarak e a transferência do poder aos militares. Antes disso, eles tinham protestado por 18 dias na Praça Tahrir, contribuindo, assim, para o fim dos 30 anos de governo Mubarak, apesar de tiroteios, canhões de água e gás lacrimogêneo. Os militares se abstiveram em grande parte daqueles 18 dias, ganhando, por isso, a confiança dos revoltosos. Alguns soldados foram mesmo festejados como heróis. Mas apenas um mês depois da derrubada de Mubarak, o jogo virou.

"No mais tardar desde o dia 9 de março, o povo começou a perceber que os militares o povo não são 'uma mão' e que os militares fazem intrigas e são cúmplices do antigo regime", diz o editor e ativista pela democracia Mohamad Hashem . O dia 9 de março foi mesmo uma data em que a situação mudou, na opinião dele. “Os métodos não são diferentes dos praticados anteriormente", acrescenta, com voz rouca. "Os militares começaram a sequestrar manifestantes na Praça Tahrir e nas ruas adjacentes - entre eles figuras simbólicas da nossa revolução - e a torturá-los", conta. Naquele dia, a polícia militar atuou com violência contra os manifestantes na Praça Tahrir. Houve detenções e espancamentos. Manifestantes mulheres foram examinadas por soldados para constatação de sua virgindade, em um procedimento humilhante.

“Nesse dia, muitos egípcios se deram conta de que as Forças Armadas não são nada mais que um fantoche do velho regime de Mubarak", relata Hashem, "Eles estão a serviço da corrupção e da repressão”, afirma. "Infelizmente, as pessoas só notaram isso muito tarde." Apenas um mês depois, houve novos confrontos, desta vez com os mortos. E a confiança foi finalmente quebrada.

ARCHIV - Der ägyptische Verteidigungsminister Hussein Tantawi in Kairo (Archivfoto vom 22.11.2003). Die Ära Mubarak ist zu Ende. Der ägyptische Vizepräsident Omar Suleiman erklärte am Freitag im staatlichen Fernsehen, Mubarak sei zurückgetreten und habe die Führung des Landes in die Hände der Streitkräfte gelegt. EPA/STRINGER +++(c) dpa - Bildfunk+++
Hussein Tantawi, líder do Conselho MilitarFoto: picture alliance / dpa

Colchões e medicamentos

O escritório de Mohamad Hashem, um apartamento perto da Praça Tahrir, se tornou um ponto de encontro de intelectuais egípcios. Em um dos quatro quartos, cobertores e colchões são armazenados, para serem usados ​​durante a noite por manifestantes da Praça Tahrir. Em outro quarto, há medicamentos e curativos, para fornecer aos feridos atendimento de primeiros socorros. Tudo foi obtido com doações, lembra Hashem. “Nunca se sabe quando soldados e policiais vão atirar nos manifestantes novamente e temos que estar preparados”, diz. No entanto, a pressão sobre os revoltosos ganha outras dimensões. Recentemente, batidas policiais realizadas em organizações não governamentais estrangeiras, como a fundação alemã Konrad Adenauer, foram alvo de severas críticas.

Em um sofá vermelho disposto em torno da mesa do editor se reúnem egípcios famosos ao lado de jovens revolucionários. Escritores, poetas e atores estão entre eles. Há um debate constante sobre o futuro da revolução. A decepção com os militares é grande. "Infelizmente, o Conselho Militar tem impedido os soldados egípcios, de realizarem sua verdadeira função, que é defender o país", diz Mohamad Hashem. "Em vez disso, os militares estão atuando com toda força contra os cidadãos. Isto é muito triste. O Conselho Militar não pode representar nem os egípcios nem o Exército egípcio."

Manutenção da velha ordem

Der ägyptische Publizist Mohamed Hashem geht am Dienstag (15.11.2011) über eine Strasse in Darmstadt. Für seinen Einsatz in der arabischen Protestbewegung erhält der 53-jährige am Dienstagabend von der Schriftstellervereinigung PEN den "Hermann-Kesten-Preis". Foto: Boris Roessler dpa/lhe +++(c) dpa - Bildfunk+++
Editor e ativista egípcio Mohamed HashemFoto: picture-alliance/dpa

Mohamad Hashem fica com olhar triste e cansado quando profere essas palavras. Ganhador do prêmio alemão Hermann Kesten por seus serviços prestados a escritores perseguidos, ele ajudava autores dissidentes a publicar seus livros já durante a era Mubarak. Com a revolução, ele ganhou esperanças de uma nova era. Mas a "traição" do Conselho Militar em relação à revolução faz com que ele sinta raiva. Ele vê os militares como "ajudantes do antigo regime" que estão tentando manter a velha ordem. "Eles continuam com os velhos mecanismos de corrupção, como anteriormente, só que de forma pior." Hashem faz uma pausa, dá um trago no cigarro. "Imagine, há mais de 16 mil ativistas que foram presos após a revolução e se encontram encarcerados nas prisões militares."

Um deles é o estudante de informática Loai Nagati. O rapaz, de 21 anos, foi preso após as revoltas de 19 de novembro, nas quais 41 pessoas foram mortas pela polícia e pelas forças militares. Loai Nagati esteve preso oito dias, foi humilhado e espancado. Ele afirma que não tem confiança alguma nos militares. "Entre as reivindicações da nossa revolução estavam liberdade e justiça social. Desde então não vimos nada disso. Tudo está como era antes da revolução. Tanto no âmbito social quanto político e econômico", diz Loai Nagati.

Cerca de 70 mortes

O Conselho Militar governa o Egito há cerca de um ano. Originalmente, eram previstos apenas oito meses de período de transição, até que um governo civil tomasse posse. Desde então, houve cerca de 70 mortes, segundo estimativas de organizações de direitos humanos. Mohamad Hashem acredita que as ações brutais dos militares façam parte de uma estratégia bem pensada. “O Conselho Militar provoca a pessoas, ele tenta causar confusão", diz Hashem "A intenção do Conselho Militar é causar um caos permanente, de modo que as pessoas fiquem com medo e permaneçam em casa. Essa é a única maneira de o Conselho Militar manter seu poder. "

Egyptian protesters clash with riot police during clashes near Tahrir Square in Cairo, Sunday, Dec. 18, 2011. Egypt's military sought to isolate pro-democracy activists protesting against their rule, depicting them as conspirators and vandals, as troops and protesters clashed for a third straight day, pelting each other with stones near parliament in the heart of the capital. (AP Photo/Nasser Nasser)
Mortes e prisões são comuns nos protestosFoto: dapd

Ao manter o poder político, os militares conseguem proteger seus interesses econômicos. Mais de 40% da economia egípcia são controlados pelos militares, embora não haja números exatos. O orçamento do gigantesco aparato militar é estritamente confidencial e até agora não podia ser discutido no Parlamento. Os militares tentam por todos os meios, que esta regra permaneça e querem assegurar o maior grau de influência possível para o futuro.

"Não destruam nossa revolução"

"Voltem aos quarteis, não destruam a nossa revolução!", gritavam os manifestantes nas últimas semanas, também durante as eleições parlamentares, na qual a Irmandade Muçulmana e o partido dos salafistas, grupo politicamente ainda mais radical, estão obtendo a maioria dos votos. Ativistas da democracia como Mohammad Hashem acusam as forças islâmicas de não terem respondido com rigor suficiente à repressão dos militares. Algumas figuras de destaque até mesmo se colocaram incisivamente a favor do Conselho Militar e contra os manifestantes. Ativistas como Mohamad Hashem acreditam que os islamistas e os militares almejam uma partilha de poder amigável.

Ativistas da democracia não estão dispostos a aceitar que isso aconteça. “Os generais consideravam a revolução um jogo infantil perturbador que deveria chegar a um fim", afirma Loai Nagati. “Seja através do espancamento de manifestantes ou da eliminação de ativistas", afirma. Ele tem a certeza de que a população não se intimidará com a repressão. "Esta revolução nasceu do povo como um todo. Não há um líder que eles possam simplesmente eliminar."

Autor: Khalia El Kaoutit (md)