Economistas questionam eficácia do rebaixamento de juros na zona do euro
2 de maio de 2013No combate à recessão, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu nesta quinta-feira (02/05) fazer o dinheiro ficar ainda mais barato na zona do euro. A partir de agora, os bancos comerciais que façam empréstimos junto à instituição estarão sujeitos a uma taxa de juros de apenas 0,5%, a mais baixa desde a introdução da moeda comum, em 1999.
A expectativa do BCE é que o setor financeiro disponibilize esse dinheiro a empresas e consumidores, na forma de créditos. O corte era amplamente esperado. Em abril, durante uma reunião do Conselho do BCE em Bratislava, o presidente da autoridade monetária, o italiano Mari Draghi, antecipara que ela estava pronta para agir.
No entanto, os especialistas estão céticos de que o BCE consiga resolver os problemas na zona do euro com a medida.
"Considero a decisão problemática. A taxa básica de juros de fato já estava em torno de zero. E as taxas baixas também retiram a pressão sobre os países de periferia para que realizem reformas", disse à DW Jörg Krämer, economista-chefe do Commerzbank.
Na teoria, uma redução da taxa básica pode impulsionar a economia. No entanto, diz Krämer, o que aflige a conjuntura da zona do euro, no momento, não são juros excessivamente altos, e sim que países como a Itália não enfrentem realmente seus problemas. "E a crise de endividamento estatal não resolvida é o principal fator que impede a recuperação da economia na Europa", afirma o analista.
Em especial nos países europeus em crise, a economia não se reaquece como se esperava. Tanto a Grécia como Itália, Portugal e Espanha sofrem sob a carga das duras medidas de austeridade e do desemprego elevado. A taxa de desemprego de 12,1% é a maior desde a criação da zona do euro.
Necessidade de outras medidas
Para Andreas Rees, economista-chefe para assuntos alemães do grupo UniCreditResearch, a situação não é surpresa. "O que presenciamos no momento, em alguns países da zona do euro, é que o assim chamado mecanismo de transmissão monetária está abalado", opina.
Uma parte das reduções de juros dos últimos dois anos, afirma Rees, sequer chegou até a economia real, ou seja, às empresas e unidades familiares. No momento, as empresas da Irlanda e da Itália pagam juros superiores a 4% por créditos de curto prazo. Na Espanha, mais de 5%, e na Grécia e em Portugal, bem mais de 6%. Isso, quando os créditos não lhes são sumariamente negados.
"Assim, é o caso de questionar se o BCE não pode empreender algo mais, além do corte de juros – por exemplo, no que toca à disponibilidade de créditos para empresas de pequeno e médio porte", sugere Rees.
De acordo com a maioria dos economistas, as taxas de juros reduzidas não servem para muita coisa, porém no momento não são prejudiciais: afinal, a taxa de inflação na zona do euro circula em torno de 1,2%. A taxa de juros também é usada como instrumento para controlar a inflação – juros mais altos desestimulam o consumo, enquanto juros mais baixos o encorajam, ao facilitar, por exemplo, o parcelamento de compras. O consumo exagerado, contudo, pode também forçar a alta de preços, gerando inflação.
Por outro lado, os economistas também sabem que os problemas da economia real não se resolvem com a impressão de mais cédulas. "Nós não precisamos de uma camuflagem dos problemas. Os países de periferia, em especial a Itália, é que devem começar finalmente a adotar as reformas necessárias", insiste Jörg Krämer. Pois só assim, afirma, os países da união monetária conseguirão sair de forma duradoura da crise e só assim a economia poderá reagir positivamente às taxas básicas de juros tão baixas, com mais crescimento.