Longo caminho
30 de julho de 2009Para o presidente do Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas (DIW), Klaus Zimmermann, a crise mundial está longe do final, apesar de sinais de recuperação nos Estados Unidos e nos grandes países emergentes, como a China e a Índia. Mas esses sinais ainda não são o final da crise, afirma Zimmermann, principalmente para a Alemanha.
Em 2009, a economia alemã deverá recuar 6,4%, de acordo com a projeção do DIW e, em 2010, crescerá apenas 0,5%. A recuperação não será tão rápida quanto a queda, assegura Zimmermann. O principal motivo é o recuo das exportações.
Para Christian Dreger, especialista em conjuntura do DIW, a zona do euro não tem uma locomotiva que incentive seu crescimento, a exemplo do que a China e a Índia representam para a Ásia.
No caso específico da Alemanha, decisiva é a situação no leste e no centro da Europa. No passado, os países dessa região compraram grande quantidade de mercadorias made in Germany. No entanto, com a crise, as vendas caíram. "Esses países se recuperam de forma bem lenta", avalia Dreger.
A queda na demanda por produtos alemães no Leste Europeu não é o único obstáculo no caminho da Alemanha para sair da crise. Outro ponto importante é que o protecionismo não ganhe terreno. A experiência ensina: o isolamento de alguns países piorou drasticamente a crise mundial dos anos 1930.
Crédito bancário
Também o perigo da falta de crédito não está superado, na opinião do DIW. A concessão de empréstimos para empresas por bancos privados continua parcialmente restrita. Também não há garantia de que o conceito de bad bank adotado pelo governo alemão – baseado na voluntariedade – funcione.
Em casos extremos, o Estado terá que abastecer os bancos com capital próprio para evitar a falta de crédito. Em outras palavras: terá que se intrometer ainda mais no mercado financeiro.
Novos investimentos pontuais por parte do Estado são descartados pelo DIW, que defende um programa conjuntural e de crescimento a médio prazo. Certo também é que os altos gastos com os pacotes conjunturais elevam a dívida do Estado a níveis recordes. O DIW espera que o deficit público alcance 6,4% do PIB em 2010.
Desemprego ainda sob controle
A situação no mercado de trabalho da Alemanha, por enquanto pouco afetado pela crise, pode se alterar rapidamente, adverte o instituto. Por enquanto, os setores mais afetados puderam evitar cortes de funcionários, mesmo que isso encareça a produção.
Isso só está sendo possível porque o governo incentiva programas de redução da jornada de trabalho. "Mas esse recurso está chegando perto do limite", afirma Zimmermann. "Se a crise continuar, haverá um forte crescimento do desemprego."
Para 2010, o DIW prevê uma taxa de desemprego acima de 10% e uma média anual de 4,7 milhões de desempregados. Os setores mais afetados serão as indústrias metalúrgica e automobilística, dois pilares da economia alemã.
Consumo em alta
Apesar do clima ruim da crise, a economia alemã ainda pode contar com um impulsor: o consumo das famílias, que continua em alta. "O impacto da queda na produção atinge principalmente as empresas", afirma o economista Stefan Kooths, também do DIW. A renda familiar está sendo poupada pela crise.
O aumento no valor das aposentadorias e o pagamento de auxílios sociais para desempregados deverá até mesmo melhorar a renda familiar em 2010, prevê Kooths. A disposição dos alemães para o consumo deverá, portanto, continuar.
Autor: Benjamin Braden
Revisão: Rodrigo Rimon