Economia rima com psicologia
21 de julho de 2003Os lamentos sobre a crise são uma constante nas conversas com amigos, nas entrevistas transmitidas pelo rádio ou a televisão, nos artigos estampados nos jornais. Queixar-se da situação parece fazer parte do caráter nacional, a julgar, por exemplo, da avaliação de Stephen Roach, economista-chefe do banco de investimento norte-americano Morgan Stanley. "Os franceses fazem greves, os alemães lamentam-se", afirmou ele certa vez, esboçando em poucas palavras as diferenças entre os dois povos vizinhos.
Motivação x pessimismo
Alguns executivos vêm manifestando a preocupação de que as queixas constantes estão se tornando, elas mesmas, um fator de crise, prejudicando a conjuntura e o próprio prestígio da Alemanha como pólo econômico.
Carl-Peter Forster, presidente da Opel, não tem dúvida de que o recuo nas vendas na Alemanha tem como principal causa a insegurança dos consumidores. A multiplicação das propostas dos políticos — muitas vezes contraditórias — para a solução dos problemas do país faz as pessoas perderem a confiança e segurarem o dinheiro ainda mais, afirma Forster.
"Quem quer melhorar a competitividade da Alemanha como pólo econômico, não pode ficar permanentemente buscando defeitos", reivindicou já há vários meses Wendelin Wiedeking, presidente da Porsche, que defende a necessidade de se transmitir otimismo por meio de atitudes. E também por meio da iniciativa própria: não se pode ficar exigindo só dos demais grupos sociais que se disponham a fazer alguma coisa, diz ele.
Os apelos de Wiedeking já surtiram efeito, pelo menos junto a um grupo de empresários de pequeno e médio porte do norte da Alemanha que iniciaram uma campanha por mais otimismo. Afinal, ninguém vai acender para você a luz lá no fim do túnel e ficar se lamentando não adianta nada, afirmam eles.
Para o conhecido consultor de empresas Roland Berger, a Alemanha de seus sonhos seria um país "mais alegre, mais positivo e mais comunicativo, com mais confiança das pessoas em si próprias, em seu futuro e no futuro do país".
Falar menos em recessão ajuda?
Claro que se ouvem também vozes que alertam para que não se sobrestime o fator psicológico. "No fim do dia, o que importa são sempre fatos econômicos nus e crus", afirma Thomas Hueck, economista do HypoVereinsbank de Munique.
Pelo sim pelo não, o banco, um dos maiores da Alemanha, desenvolve um projeto juntamente com o jornal de economia Handelsblatt, na tentativa de avaliar a correlação entre otimismo e/ou pessimismo e a situação real. Trata-se de um levantamento de quantas vezes a palavra "recessão" é citada na imprensa especializada do país.
Na última recessão, registrada em 1993, a palavra foi contada 1400 vezes por trimestre, índice que caiu para 200 vezes em 1999/2000. Em 2001/2002, ele subiu novamente para 1200. O interessante é que atualmente, apesar de todas as lamentações e do pessimismo, o número está bem abaixo desse nível. Será que é porque a imprensa descobriu outra palavra, com um "d" no começo, para substituir aquela que começa com um "r"? Ou seja: "deflação".