E agora, Alemanha?
19 de setembro de 2005Analistas políticos chamam a ressaca pós-eleições deste domingo (18/09) de uma "noite fenomenal" e apontam para um verdadeiro "terremoto político" no país. As projeções dos resultados indicam que aqueles que foram às urnas – num país onde o voto é facultativo – deixaram claro que há um estremecimento da estabilidade dos grandes partidos.
A questão é irônica: o "não" aos fortes SPD (Partido Social Democrata) e CDU (União Democrata Cristã), através do crescimento dos minoritários, vai levar a Alemanha a ser governada exatamente por uma coalizão desses mesmos grandes. A questão que se coloca no momento é como um governo entre rivais poderá e deverá funcionar. Democrata-cristãos devem se tornar a força maior dentro do Parlamento, porém com uma maioria estreitíssima.
Schröder: "Continuo governando"
O atual chanceler federal, Gerhard Schröder, afirmou que "continuará governando". O premiê conhecido como "chanceler da mídia", por se comportar como um ator experiente frente às câmeras, elogiou a "soberania democrática" do eleitor e se disse "orgulhoso da cultura democrática, que, apesar da manipulação da mídia, não foi estremecida". Por fim, Schröder alfinetou a "arrogância" da CDU, que contava prematuramente nas últimas semanas com uma vitória nas urnas.
Na sede do SPD em Berlim, o clima foi de satisfação. O presidente do partido, Franz Müntefering, se pronunciou com euforia frente aos resultados melhores que os esperados para o SPD, que mantém uma diferença mínima em relação à CDU/CSU.
Merkel como chefe de governo, porém sem maioria?
A atmosfera na sede da CDU, ao contrário, era de decepção disfarçada. A candidata Angela Merkel afirmou que "prevíamos resultados melhores", confirmou que será "a futura chanceler do país", porém, não através de uma maioria de seu partido com os aliados tradicionais do Partido Liberal. Pois, para isso, os resultados das urnas não são suficientes.
Bandeira do neoliberalismo com mais adeptos
O Partido Liberal (FDP), defensor ferrenho de uma política neoliberal e de um desmantelamento do Estado do bem-estar social em prol da economia de mercado, que havia obtido no último pleito 7,4% dos votos, tem segundo o resultado oficial provisório desta segunda-feira (19/09) 9,8%.
É, desta forma, a terceira maior facção dentro do Parlamento alemão, registrando os melhores resultados da história do partido. O presidente da facção, Guido Westerwelle, excluiu, porém, após a divulgação dos resultados, a possibilidade de coalizão com outras facções que não os democrata-cristãos.
O austríaco de extrema-direita Jörg Haider elogiou o crescimento dos Liberais nas urnas, afirmando que o FDP alemão se inspirou no programa de seu partido Aliança para o Futuro da Áustria (BZÖ) e até "o copiou parcialmente". O sucesso dos liberais alemães nas urnas, segundo Haider, "é uma "confirmação para meu partido".
Ex-comunistas em alta
O mesmo acontece com a facção que defende uma plataforma exatamente oposta à dos liberais: o Partido de Esquerda, formado por remanescentes do regime comunista do antigo PDS (Partido do Socialismo Democrático) e coligado com a Aliança para o Trabalho e Justiça Social (WASG), formada por dissidentes da social-democracia do chanceler federal Gerhard Schröder. O partido tem, de acordo com o resultado oficial provisório desta segunda-feira, 8,7% dos votos no país.
O Partido de Esquerda pode ser apontado como o responsável pela ida acentuada dos ex-alemães orientais às urnas. A participação dos chamados Ossis (de Osten, Leste do país) foi sensivelmente maior que nas últimas eleições. E 25% votaram no Partido de Esquerda.
Alguém se alia às "ovelhas negras"?
A maioria absoluta no Parlamento é de 300 cadeiras. De acordo com as últimas projeções, este número não será alcançado através da soma dos votos da CDU/CSU com os liberais. Nem tampouco pelos social-democratas e Verdes juntos. Ou seja, a grande questão que se coloca atualmente na Alemanha é: quem vai se aliar às "ovelhas negras" da política alemã – os membros do Partido de Esquerda.
Encabeçada pela polêmica figura de Gregor Gysi, a facção é vista com má vontade por outros políticos do país, que sentem no partido um odor do regime comunista da antiga Alemanha Oriental. Tão malquisto é o dissidente da social-democracia Oskar Lafontaine, conhecido no país por suas declarações inflamadas e de teor populista.
A despedida do verde Fischer
Uma das poucas certezas desta incerta eleição alemã é o fim da coalizão de governo como ela existiu até agora: nas mãos da social-democracia de Schröder e dos Verdes, com Joschka Fischer de carro-chefe na posição de ministro do Exterior. Fischer sai afirmando que não vê o resultado das urnas como "uma derrota, mas como uma obviedade na democracia".
Na reunião do partido em Berlim, os índices nas urnas foram comemorados com entusiasmo, mesmo que o partido tenha sofrido uma pequena perda em relação ao pleito anterior. Além disso, os Verdes celebram com prazer o fato de que os conservadores democrata-cristãos e liberais não consigam formar a maioria parlamentar como previsto anteriomente.
O partido deve voltar agora à oposição, retomando todo o leque de temas que fazem parte da agenda: energia atômica, desenvolvimento sustentável, fim dos subsídios agrícolas. Para Fischer vão faltar as viagens pelo mundo. Resta saber se o ministro do Exterior cultuado dentro do país vai continuar sendo o número um do partido. Ou não, pois desta vez ele nem mesmo foi eleito pelo mandato direto em seu distrito eleitoral, em Frankfurt.