DW Antena apresenta: sons de outono
17 de outubro de 2006Os dois hemisférios do globo têm temperamentos absolutamente diferentes e não há nada mais distante do outono alemão que a primavera brasileira. Mas, para os brasileiros que se expõem à nova estação, é tão perdoável quanto inevitável que certas sensações venham à tona.
Passarinhos têm sua trilha sonora cotidiana garantida pelo som das folhas secas ao vento. Nós temos a vantagem de poder escolher o que ouvir, já que as pessoas reagem dos modos mais distintos à queda do termômetro. De sonhadores e melancólicos a emotivos e agressivos, a coluna deste mês dá dicas de como sobreviver à chegada do frio.
Para sonhadores: Console
Em certas pessoas, o outono tem um efeito onírico. Eles se deixam levar pelas amplas paisagens, pela variação das tonalidades na vegetação, pela mudança no ritmo do dia. Se você é um deles, então deixe-se enveredar pelas paisagens sonoras eletrônicas do recém-lançado álbum do Console.
Formado em uma pequena cidade nos confins da Baviera, o Console é uma banda de um homem só, Martin Gretschmann, que alguns devem conhecer através da banda Notwist, um de seus projetos paralelos.
Mono é o sexto álbum da banda, que já está há mais de dez anos na ativa. Após experimentar com remixes e guitarras, eles parecem ter voltado aos primórdios, quando se distinguiam por um som ambient de qualidade.
Ao todo, são 11 faixas, entre elas um cover de Brian Eno e outro do Sonic Youth, todas elas desprovidas de batidas. Será disso que os sonhos são feitos? Quem puder, procure um banco em frente a um lago, escondido atrás de árvores altas. Se não der, ache pelo menos um parque.
Para melancólicos: Maximilian Hecker
Há também os que sentem o coração apertado de tanta melancolia. Para esses, uma boa opção é sentar num café com vista para a rua, tomar um chocolate quente com pó de canela e ouvir no MP3 player o novo disco de Maximilian Hecker, I'll be a virgin, I'll be a mountain.
Hecker é uma espécie de dandy alemão – de terno e gravata, sozinho no palco com seu teclado, às vezes uma guitarra ou piano, sua voz em falsete enchendo a sala. Certa vez, ele disse que acharia melhor ser famoso na Índia que na Alemanha, o que lhe confere um charme colonial.
A imprensa alemã adora relembrar os tempos em que ele - diz a lenda - cantava solitário no Hackescher Markt, no centro de Berlim, onde foi descoberto em 2001, pouco antes de gravar seu primeiro álbum. Melhor lugar para escutar: escolha um café sossegado em uma rua movimentada. Ou espere chover e pegue um ônibus.
Para emotivos: Berlin Hilton
Para os que ficam emotivos com a chegada do frio e sentem a urgente necessidade de estar no meio de muita gente, nada melhor que uma boa festa. Atualmente, uma das melhores opções para escutar música boa e ver gente bonita e/ou que se acha bonita surgiu a partir da idéia de um brasileiro, o poeta Ricardo Domeneck, que por trás dos pick-ups atende por DJ Kate Boss.
Mas a festa não é só uma festa: "é também intervenção cultural, uma plataforma para artistas pop e ao mesmo tempo experimentais de Berlim", explica Ricardo. No pequeno palco, já tocaram T.Rauschmiere, mount sims e até os brasileiros do Tetine. Até o fim do ano, Planningtorock e o diretor Bruce Labruce devem mostrar as caras por lá.
Leia na próxima página: o que fazer no outono quando se tende à agressividade, à inquietação ou apenas a ficar em casa? Lançamentos de Mouse On Mars, Sid LeRock e Einstürzende Neubauten.
Para agressivos: Mouse on Mars
Já outros se deixam levar pelo ânimo geral e ficam irritados, nervosos, até agressivos. Nesse caso, é melhor ouvir alguma coisa que ajude a desabafar. O novo álbum dos já veteranos do Mouse On Mars, por exemplo, exagerou um pouco na agressividade e acabou dividindo a opinião da crítica.
Ao todo, Varcharz contém nove faixas (acredite, mesmo se seu aparelho de som disser que há mais de 20, pois "One Day, Not Today" se estende por doze faixas). Jan St.Werner e Andi Thoma parecem voltar ao estilo "desconstrutivista" de músicos como Aphex Twin e Squarepusher, com batidas rápidas e quebradas e muito ruído. Evite usar transporte coletivo ao ouvir o disco.
Para inquietos: Sid LeRock
Quem acumula energia extra com a queda do termômetro encontrará a trilha sonora ideal no novo álbum de Sid LeRock. Ninguém compõe linhas de baixo mais empolgantes e excitantes do que ele. Sheldon Sidney Sid LeRock nasceu em uma pequena e longínqua província canadense e agüentou muitos invernos antes de chegar a Colônia, hoje sua segunda casa.
Seu primeiro álbum, Written in Lipstick, foi um verdadeiro marco para quem curte rockno, mistura de rock e tecno, com linhas de baixo dançantes e empolgantes, mas embalagem de rock. O recém-lançado Keep it simple, man dá continuidade ao estilo que já é quase marca registrada de Sid LeRock. Melhor apreciável na sauna, se seu aparelho suportar.
Para caseiros: um dia a casa cai
Mas há quem simplesmente desista de sair e prefira ficar em casa tomando irish coffee e assistindo à TV. Ou quem fique chato, de mau humor, insuportável e é melhor que fique em casa. Para estes, uma boa dica é o novo DVD dos lendários Einstürzende Neubauten.
Diz-se que o nome daquela oficina musical, onde qualquer ferramenta virava instrumento, foi criado a partir de um incidente na Casa das Culturas do Mundo, em Berlim, cujo teto desmoronou. Daí nasceram os "prédios novos que desabam".
Nas ativa desde 1980, eles agora lançam seu primeiro DVD ao vivo. São 16 faixas e material extra de um show histórico que a banda fez em novembro de 2004 no Palácio da República, prédio que abrigava o Parlamento da Alemanha comunista, antes que tivesse início seu atual processo de demolição. O título é simples: Palast der Republik.
A banda prometeu colocar um trailer no YouTube para degustação, afinal o lançamento está previsto por enquanto apenas no mercado europeu.
Esta coluna deseja uma ótima primavera e um excelente outono, respectivamente!