Duplo déficit dos EUA e dólar baixo preocupam G-20
22 de novembro de 2004As principais nações industrializadas e emergentes (Grupo dos 20) esperam estabilizar a economia mundial, através de um programa de crescimento e solidificação das finanças estatais. Com esta decisão encerrou-se neste domingo (21/11), após três dias, em Berlim, o encontro anual dos ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do G-20.
Cada região recebeu uma lista de tarefas específicas. As da América Latina visam sobretudo reformas estruturais abrangentes, no sentido de uma política orçamentária sólida. Isto significa para o Brasil intensificar os investimentos em infra-estrutura; assim como a reestruturação do setor bancário argentino e, no México, gastos públicos mais generosos na área social e de infra-estrutura.
EUA preocupam
Segundo o G-20, a Alemanha tem que completar sua reforma tributária, além de implementar as do mercado de trabalho e dos sistemas de saúde e aposentadoria. Como um todo, a União Européia precisará encarar maiores reformas dos mercados de trabalho, consolidação das contas públicas e do seguro-aposentadoria. Para os países asiáticos emergentes, uma maior flexibilidade cambial foi considerada de especial importância.
Os Estados Unidos constituem no momento a maior preocupação do G-20. O secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, prometeu, a médio prazo, reduzir à metade o déficit orçamentário de seu país, a fim de evitar turbulências cambiais abruptas. Na véspera do encontro na Alemanha, durante a cúpula da Cooperação da Ásia-Pacífico (APEC), em Santiago do Chile, o presidente George W. Bush também se pronunciara por um dólar forte.
Contra a lavagem de dinheiro e o terrorismo financiado
Antes da reunião em Berlim, o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, criticara o elevado déficit duplo dos EUA – do orçamento público e da balança de transações correntes – como "indiscutível" causa da queda do dólar. Referindo-se à "preocupante" desvalorização da moeda americana em relação ao euro, Schröder disse que "é questionável exigir dos europeus reformas estruturais, sem antes levar em conta as próprias carências econômicas".
Juntos, os países do G-20 pretendem adotar no futuro os padrões da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para intercâmbio de informações fiscais. Com exceção da Argentina, todos os participantes assinaram um código de comportamento voluntário para remanejamento justo de dívidas, em caso de crise de insolvência.
O grêmio elogiou ainda o ingresso, em breve, da China no Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Capitais (FATF), que também combate o financiamento do terrorismo. "A Índia deveria seguir logo esse exemplo", declarou o ministro alemão das Finanças, Hans Eichel, que coordenou o encontro.
Eichel otimista
Segundo Eichel, "o G-20 venceu a prova do tempo". O grupo deseja desenvolver em conjunto uma estrutura global para maior estabilidade e crescimento sustentável: "A economia mundial encontra-se em firme trajetória de crescimento, o impulso se amplia", declarou o ministro alemão, para quem os mercados financeiros estão em boa forma. Ele prevê, porém, que o crescimento diminuirá um pouco em 2005, sendo que o maior risco é representado pelos preços do petróleo.
Fundado em 1999, o Grupo dos 20 compõe-se, além das sete maiores potências industriais (G-7) e da União Européia, de: Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, China, Coréia, Índia, Indonésia, México, Rússia e Turquia. No próximo ano, a China terá a presidência do G-20; em 2006, a Austrália.