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Drones trazem nova era e riscos nos combates armados

Hannah Fuchs
30 de abril de 2022

Veículos aéreos não tripulados podem espionar e bombardear alvos inimigos sem qualquer risco direto para os combatentes. Ucrânia investe pesado neles para defender-se da invasão russa. Mas drones trazem desafios éticos.

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Soldado lança drone do tipo Switschblade
Switchblade cabe numa mochila e é mais flexível do que um míssilFoto: AeroVironment/abaca/picture alliance

Os Estados Unidos desenvolveram um novo tipo de drone que corresponde às exigências das Forças Armadas da Ucrânia e que será otimizado para se adequar ainda mais. "Em conversas com os ucranianos sobre suas necessidades, nossa opinião foi que esse sistema especial seria muito apropriado, sobretudo para o leste do país", informou o porta-voz do Pentágono John Kirby.

O desenvolvimento da Phoenix Ghost já começara antes da guerra russa na Ucrânia, a intenção agora é impulsioná-lo para que se adapte ainda melhor à situação real. Mais de 120 unidades serão fornecidas no âmbito de um novo pacote de ajuda militar de Washington de 800 milhões de dólares.

Segundo Kirby, a operação dos veículos aéreos não tripulados exigirá treinamento mínimo. Eles foram desenvolvidos pela empresa americana de armamentos Aevex Aerospace, em cooperação com a Força Aérea do país.

Poder das drones suicidas

Ainda não se sabe muito sobre as especificações da Phoenix Ghost, nem há imagens dela. Sabe-se, porém, que se assemelha às drones Switchblade da AeroVironment, empregadas por unidades especiais americanas no Afeganistão a partir de 2012. Estas são bem conhecidas: pequenas o suficiente para caber numa mochila, pertencem à categoria de loitering munition (munição vagante).

Também denominadas "drones kamikazes" ou "drones suicidas", por se destruírem ao atingir o alvo, trata-se de armas de controle remoto. Inicialmente lançadas sem destino específico, sobrevoam durante um bom tempo a área em questão ("vagam"), até o operador em terra definir o alvo e atacá-lo com elas. Certos modelos possuem ainda sensores para detectar, classificar e atingir o objeto inimigo de modo autônomo.

"É uma combinação de míssil e drone, explica Arthur Holland Michel, autor e membro associado do Conselho de Ética em Assuntos Internacionais, sediado em Barcelona. A categoria, também denominada loitering weapon, é relativamente nova, só ficando conhecida na guerra de Nagorno-Karabakh, no Cáucaso, em 2020, quando o Azerbaijão a mobilizou em grande quantidade.

Há diversas variantes de drones Switchblade ("canivete" em inglês): o modelo menor, pesando 2,5 quilos, tem alcance de dez quilômetros e autonomia para 15 minutos no ar. O maior pesa 15 quilos, alcança 40 quilômetros e pode pairar durante 40 minutos.

Michel aponta suas vantagens: diferente das drones maiores, não é necessário pista de voo nem infraestrutura para lançá-las. "E, ao contrário de um míssil, tem-se tempo para identificar o alvo, formar uma ideia da situação e então disparar o projétil da drone de modo literalmente manual ou através de detecção de alvo. Desse modo, combinam-se as funcionalidades de ambos os sistemas de armas."

As drones destinadas à Ucrânia têm especificações um tanto diferentes, como explicou Kirby. O tenente-general reformado David Deptula, decano do Instituto Mitchell de Estados Aeroespaciais e membro da presidência da companhia Aevex Aerospace, forneceu mais algumas informações ao portal Politico, embora até o momento não confirmadas.

Segundo ele, a Phoenix Ghost também seria uma drone descartável, mas com uma autonomia consideravelmente maior, de seis horas. Além disso, seu lançamento vertical economiza espaço, e sensores infravermelhos permitem operações noturnas. A arma seria eficaz contra "alvos terrestres blindados de médio porte", afirmou Deptula.

Drone do tipo Switchbladeno chão
Switchblade 300 pesa apenas 2,5 quilos e faz jus ao nome "canivete"Foto: Cpl. Alexis Moradian/AP/picture alliance

Frota internacional de drones da Ucrânia

Entre as drones maiores mencionadas por Michel, também está sendo empregada na Ucrânia a turca Bayraktar TB2, de combate e reconhecimento, com 6,5 metros de comprimento, envergadura de 12 metros e 420 quilos. Desenvolvida pela empresa Baykar em 2014, seu nome significa "porta-estandarte" em turco.

Inteiramente autônoma, ela pode permanecer no ar por 24 horas ininterruptas, a uma altitude máxima de 7.300 metros, velocidade de 220 Km/h e alcance de 150 quilômetros. No modo automático, ela é capaz de decolar sem auxílio de um coordenador em terra, voar até o alvo programado, espioná-lo, retornar e pousar.

Em missões de espionagem, o exército ucraniano já utiliza a drone Vector, da firma Quantum Systems, sediada no estado alemão da Baviera. Segundo a rede jornalística Redaktions-Netzwerk Deutschland (RND), o cônsul da Ucrânia em Munique estabeleceu o contato, e até o fechamento do contrato de fornecimento passaram-se apenas cinco dias. Pouco depois, três combatentes ucranianos já enviavam sua selfie ao lado do veículo.

A Vector custa por volta de 180 mil euros, pagos pessoalmente por multimilionários ucranianos, como "doação ao Comando Territorial para a Defesa de Dnipro", prossegue o artigo da RND. Ela não é uma arma propriamente dita, não sendo capaz de lançar bombas, embora uma conexão digital permita acoplá-la a um sistema armamentista.

Ainda assim, ela é muito cobiçada por suas capacidades avançadas de voo (duas horas) e transferência de vídeo (alta definição em tempo real, a distâncias de até 15 quilômetros). Os ucranianos a empregariam para otimizar a mobilização de sua artilharia, por exemplo, contra tanques russos que se aproximem. Além de poder ser montada sem ferramentas, a Vector não necessita pista de voo pois, apesar de ter três metros de envergadura, decola verticalmente.

Segundo o Ministério da Defesa do Japão, também o país forneceu drones a pedido da Ucrânia, assim como máscaras e vestes protetoras. Contudo os soldados do país invadido pela Rússia também operam drones nacionais, sendo a mais difundida a Leleka-100 ("cegonha" em ucraniano). Pesando cinco quilos, ela é fabricada pela Deviro, sediada em Dnipro, no centro do país.

Por sua vez, a Rússia aparentemente aposta menos em drones. A mais utilizada é a Orlan-10 ("águia" em russo), para reconhecimento e vigilância, fabricada pelo Centro de Tecnologia Especial de São Petersburgo. Com apenas 3,10 metros de envergadura, ela alcança até 100 quilômetros e serve também para precisar melhor disparos de artilharia, sendo dotada de câmeras para fotos aéreas, de vídeo e térmicas.

Drone Bayraktar TB2 em pista de voo
Drones Bayraktar TB2, de fabricação turca. também estão sendo empregadas na guerra na UcrâniaFoto: Mykola Lararenko/AA/picture alliance

Terra de ninguém ética?

Paralelamente aos avanços tecnológicos, o emprego de drones abre uma série de desafios éticos e riscos, em decorrência da autonomia crescente dos sistemas armamentistas, ressalta Arthur Holland Michel em seu canal no Twitter.

Por exemplo: os usuários possuem suficiente visão da situação para decidir sobre o emprego de violência? As armas fornecem possibilidades de controle para garantir que as ofensivas sejam efetuadas com cautela? Elas são suscetíveis a ataques e manipulações por hackers, capazes de resultar em acidentes e danos não intencionais?

Se o sistema provocar danos não intencionais, há canais definidos através dos quais indivíduos específicos possam ser responsabilizados? Como eliminar riscos e manter padrões de segurança? Como proteger os civis?

"A cada função autônoma adicional integrada nessas armas, considerações como estas se multiplicam. Assim, eu incentivo os envolvidos a se concentrarem nas funções automatizadas individuais dos sistemas e nos riscos passíveis de ocorrer, caso elas falhem", adverte o especialista em ética internacional.

O desenvolvimento de sistemas armamentistas por controle remoto ou automáticos progride vertiginosamente, mas as apreensões permanecem. Guerra autônomas de drones são um cenário de horror ético.