Documentários brasileiros são destaque no festival DOK Leipzig
28 de outubro de 2013Começou nesta segunda-feira (28/10) o DOK Leipzig, um dos mais importantes festivais de documentários do mundo. O evento, que desde 1955 é realizado anualmente na cidade alemã, foi o primeiro festival de cinema independente da antiga Alemanha Oriental e, durante a Guerra Fria, um dos poucos espaços de intercâmbio entre os cineastas das duas Alemanhas.
A edição deste ano inclui 88 filmes de 34 países, que competem em cinco categorias. Países com larga tradição em documentários, como França, Polônia e Reino Unido, têm forte presença na seleção, que também inclui, por exemplo, produções de Bolívia, Nepal e Síria.
Uma característica comum a muitos dos selecionados é não abordar diretamente um problema político, mas retratar o impacto dele por meio de um olhar preciso sobre a vida das pessoas.
Em 1995 foi criada uma competição para filmes de animação. Em 2004, o festival introduziu uma programação para a indústria, estabelecendo uma rede de contatos e uma plataforma para profissionais da área.
Além das produções em competição, o DOK Leipzig também apresenta 346 filmes divididos em várias seções, entre documentários e animação. Neste ano, o festival se tornou o primeiro a criar um prêmio para o melhor documentário em animação.
Ao lado de um extenso panorama da produção mundial de documentários, o DOK Leipzig também abre espaço para retrospectivas e programas especiais, que abordam temas atuais e incentivam o debate sobre tendências do gênero.
Os documentários brasileiros, destaque na mostra Focus, têm presença marcante na edição deste ano. "O DOK Leipzig é o mais antigo festival de documentários do mundo. Ele é hoje um dos principais eventos dedicados à produção não ficcional. Um foco como o deste ano aumenta a visibilidade internacional da produção brasileira, da mesma forma como ajuda a compreendê-la melhor", diz o crítico de cinema Amir Labaki, membro do júri na edição deste ano e criador do É Tudo Verdade, o primeiro festival dedicado ao gênero na América do Sul.
Nova era para os documentários
O documentário é um gênero de menor sucesso entre o grande público e, por muito tempo, ficou preso a um formato quase televisivo. No entanto, o novo milênio trouxe uma nova força criativa para os filmes documentais. "Na última década, superou-se o estigma do documentário como um gênero didático e chato", diz Labaki.
Nomes como o de Michael Moore saíram do circuito dos festivais para ganhar destaque em todo o mundo. O diretor ganhou a Palma de Ouro em Cannes por Fahrenheit 9/11, e o filme se tornou o documentário mais bem-sucedido de todos os tempo, faturando mais de 110 milhões de dólares. O cineasta americano participou do DOK Leipzig em 1989.
Esse novo panorama refletiu-se também na produção brasileira, que contribuiu para a diversificação não só dos temas, mas também da abordagem artística e estética. Labaki foi um dos responsáveis por essa mudança – o festival É Tudo Verdade cumpriu um papel essencial nesse processo.
"A imagem do documentário nacional se renovou, criando uma nova empatia. Mas o documentário brasileiro segue sendo um gênero muito menos sujeito às exigências do mercado. Logo, é um território mais livre para a investigação formal", explica Labaki.
Notas do país do futuro
Em Leipzig, os documentários brasileiros mostram uma nova geração com uma forte identidade estética, que reflete sobre o passado e o presente, mas aponta suas câmeras para o futuro. Para o crítico, a curadoria de Paulo de Carvalho espelha tanto a renovação estilística quanto geracional no documentário brasileiro: "Ele conseguiu isso ao selecionar títulos com marcada preocupação formal, muitas vezes em aberto diálogo com a ficção e a animação."
A mostra Focus é composta por sete documentários (cinco longas e dois curtas) e três filmes de animação, que refletem temas marcantes na história do Brasil, como o colonialismo, a ditadura e as tensões sociais, mas também celebram a diversidade cultural brasileira.
A seleção traz, em sua maioria, trabalhos de jovens diretores, que contam histórias de pessoas em busca de uma vida melhor, lidando com o passado e os atuais problemas do país. Gabriel Mascaro define o seu filme Domésticas como um experimento, em que sete jovens passaram sete dias registrando a vida das empregadas que trabalham em suas próprias casas. A diretora Maria Ramos mostra, em Morro dos Prazeres, a ação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) numa favela carioca.
A busca por sua própria identidade está presente, de diferentes formas, em dois dos filmes do programa. Em Diários de uma Busca, a diretora Flávia Castro recria a jornada de seus pais em sua difícil luta política durante a ditadura e seus anos no exílio. Já o documentarista Sérgio Borges acompanha a rotina de três pessoas que vivem nos subúrbios de Belo Horizonte em O Céu Sobre seus Ombros. Com imagens inéditas e entrevistas com artistas, Marcelo Machado conta a história do tropicalismo em Tropicália.
Entre as animações, os destaque é o longa Uma História de Amor e Fúria, dirigido por Luiz Bolognesi. O filme, de visual marcante, tenta fazer um panorama dos mais de 500 anos da história do Brasil. Entre amores e guerras, Abeguar é um guerreiro imortal que viaja pelo tempo, da época da colonização até o futuro, onde o Rio de Janeiro é uma das cidades mais seguras do mundo.
O programa ainda inclui quatro curtas: os documentais Mauro em Caiena, de Leonardo Mouramateus; e Pátio, de Aly Muritiba; e as animaçõesLinear, de Amir Admoni, e Dossiê Rê Bordosa, de Cesar Cabral.
O DOK Leipzig prossegue até o próximo domingo (03/11).