Festas ao ar livre retomam o espaço público em São Paulo
2 de dezembro de 2014Festas de graça e em locais públicos, com boa música, bebida barata e um público verdadeiramente diversificado. O que soa como uma utopia tem se tornado realidade na maior cidade da América do Sul.
O documentário #link:http://vimeo.com/112955569:O que é nosso – Reclaiming the jungle#, realizado por Murilo Yamanaka, Allyson Alapont e pelo neozelandês Jerry Clode, é um retrato da cena das festas de rua que começaram a tomar conta de São Paulo. Esses eventos vêm se tornando não são só uma opção de diversão, mas também uma oportunidade de vivenciar a cidade por outros ângulos.
"Festas de rua no Brasil são geralmente associadas ao carnaval. O país tem uma forte modernização pop em sua música popular. A cena das festas de rua é uma forma de cultura pós-moderna, que mistura disco brasileira dos anos 1970, com samba e novidades da música eletrônica mundial. Isso é muito São Paulo", diz Clode em entrevista à DW Brasil.
Nascido em criado na Nova Zelândia, onde as festas acontecem em meio à natureza, Clode é semiótico e especialista em BRICS e já morou na China e na Índia. Há um ano em São Paulo, ele começou a frequentar as festas de rua gratuitas no centro da cidade, onde conheceu Yamanaka e Alapont.
"Essas festas me fizeram questionar o preço da vida noturna em São Paulo. O lucro em cima da nossa diversão é absurdo. Somos muito explorados. Comecei a conhecer mais a cidade, caminhar a pé, não ficar só em lugares fechados ou usar o carro. Quem vai nas festas é uma galera que quer uma cidade melhor", diz Yamanaka.
Reavendo a selva de pedra
Uma das figuras chaves desse movimento é Thomas Haferlach. Há cinco anos, o alemão residente em São Paulo começou uma festa gratuita em um boteco na movimentada Rua Augusta, como alternativa para quem estava cansado das baladas paulistanas tradicionais, com longas filas e preços exorbitantes.
Nasceu assim a Voodoohop, um coletivo artístico que começou a promover festas itinerantes pela cidade e foi um dos precursores das pistas de dança nas rua do centro. Além da música, o grupo também abre espaço para outros tipos de manifestações artísticas, como performances e projeções.
"Há uma divisão social e cultural muito grande na cidade, além de uma ideia errada de espaço público. Selecionamos coletivos que fazem festas mais independentes. O pessoal da Voodoohop já organizou uma festa até na cracolândia", conta Clode.
Com o tempo, outros núcleos foram diversificando o formato e o local dessas festas gratuitas. Além de praças e ruas, elas também acontecem em túneis, debaixo de pontes e em prédios abandonados, o que associa os eventos com movimentos de ocupação urbana e contra a especulação imobiliária.
"A Voodoohop é um pessoal meio neo-hippie, mais louco. A Metanol tem um som eletrônico alternativo, um pouco de vanguarda. A Freebeats é bem popular. O Carlos Capslock tem uma personalidade alternativa. Usamos a palavra underground, mas é um movimento de rua", explica o neozelandês.
Por serem gratuitas, o público das festas é diversificado. Hipsters, hippies e playboys dançam lado a lado. "Os moradores de rua são os primeiros a chegar e fazem as performances mais loucas na pista de dança", diz Yamanaka.
"Neocontracultura" na noite paulistana
O filme foi idealizado, produzido e dirigido pelo trio, que não tinha experiência com cinema e bancou sozinho a realização do projeto.
"Tínhamos um conceito geral, mas filmamos cenas que achávamos que seriam legais. O Allyson dizia que se não tivéssemos um plano certo, o documentário não seria interessante. Todos nós captamos imagens de maneiras diferentes e depois fomos construindo a narrativa", explica Clode.
O filme é um retrato atual da capital paulista com suas contradições políticas e sociais, seu elitismo e o crescimento de uma espécie de "neocontracultura" dentro da vibrante e nem sempre democrática vida noturna.