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Diretor do Inpe é exonerado após embate com Bolsonaro

2 de agosto de 2019

Ricardo Galvão diz que crítica que fez a presidente gerou constrangimento e que ministro da Ciência e Tecnologia confia no Inpe. Governo alega erros em relatório que apontou explosão da devastação da Amazônia.

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Imagens de satélite mostram avanço do desmatamento entre novembro de 2018 e março de 2019
Imagens de satélite mostram avanço do desmatamento entre novembro de 2018 e março de 2019Foto: Map Biomas Alerta

Em meio à crise gerada pela contrariedade do governo com a divulgação de dados do desmatamento da Floresta Amazônica, o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, decidiu exonerar nesta sexta-feira (02/08) o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão.

A decisão foi anunciada pelo próprio Galvão, depois de uma reunião de quase duas horas com o ministro em Brasília. O diretor afirmou que a saída tem relação com as críticas que fez em relação ao presidente Jair Bolsonaro, que, na avaliação do governo, teriam criado constrangimento.

"Minha fala sobre o presidente gerou constrangimento, então eu serei exonerado", disse Galvão.

Logo após a divulgação dos dados que revelaram um aumento de 88% do desmatamento da Floresta Amazônica em junho em relação ao mesmo mês de 2018, Bolsonaro acusou o diretor do Inpe de mentir e de agir "a serviço de uma ONG". Em resposta, Galvão rebateu as críticas defendendo o trabalho do instituto.

"Ele [Bolsonaro] já disse que os dados do Inpe não estavam corretos segundo a avaliação dele, como se ele tivesse qualidade ou qualificação de fazer análise de dados", disse Galvão para a imprensa após as criticas iniciais do presidente. Ele também disse que não pretendia se demitir como supostamente estaria esperando o presidente após as acusações públicas.

Em entrevista ao Jornal Nacional, Galvão voltou a criticar as declarações do presidente. "Ele [Bolsonaro] tem um comportamento como se tivesse falando num botequim. Isso me assustou muito. Ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, e não foi só eu", disse.

Bolsonaro voltou então a atacar Galvão na quinta-feira e ameaçá-lo de demissão durante uma coletiva de imprensa, que foi convocada pelo Ministério do Meio Ambiente para contestar novamente a metodologia do Inpe. O presidente disse que os números teriam sido "espancados" para atingir o país e chamou de "irresponsabilidade" a divulgação dos dados.

Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, apresentou mapas para supostamente mostrar que os dados do Inpe seriam "sensacionalistas" e "não condizentes com a realidade", alegando que 31% dos registros das maiores áreas desmatadas contabilizadas em junho último teriam ocorrido, na verdade, em meses passados.

O ministro de Ciência e Tecnologia, que é responsável pelo Inpe, não participou da coletiva. Após anunciar que seria exonerado, Galvão defendeu Pontes, afirmando que o ministro é uma pessoa de "alta capacidade técnica" e que confia na solidez dos dados do instituto.

"Ele concorda inteiramente com os dados do Inpe, ele sabe como são os dados do Inpe. Foi só uma questão simples de comunicação que houve e que nós esperamos corrigir. Nós temos que aprender com os erros e temos que corrigir no futuro", afirmou Galvão.

O diretor do Inpe disse ainda que se preocupava que suas críticas em relação a Bolsonaro fossem respingar no Inpe, mas teve a garantia de que isso não acontecerá. "O ministro conversou comigo de um jeito muito cortês, e o que me deixou muito feliz foi a preservação do Inpe", acrescentou.

Graduado em engenharia de telecomunicações pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em física de plasmas aplicada pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), Galvão foi nomeado diretor do Inpe em 2016, pelo então ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab. Antes de assumir o comando da instituição, o pesquisador foi professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Sociedade Brasileira de Física, além de ser membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

O mandato para o cargo de diretor do Inpe é de quatro anos, no entanto, o regimento do instituto prevê a substituição em caso de perda de confiança.

CN/ots

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