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Diretor: farmacêutica deu R$ 717 mil para promover kit covid

11 de agosto de 2021

CPI da Pandemia ouviu diretor da Vitamedic, cujo lucro com a ivermectina aumentou 2.900% em 2020. Comissão decide propor indiciamento de Bolsonaro por charlatanismo e curandeirismo, por promover drogas ineficazes.

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Jailton Batista, de máscara. Ele usa terno escuro e gravata vermelha. Ele usa óculos.
Batista disse ser incapaz de avaliar o impacto das declarações de Bolsonaro sobre a procura da ivermectinaFoto: Jefferson Rudy/Agência Senado

A CPI da Pandemia ouviu nesta quarta-feira (11/08) o depoimento de Jailton Batista, diretor-executivo da farmacêutica Vitamedic, que teve um aumento de 2.900% no lucro da venda da ivermectina em 2020.

Senadores acusam a empresa de lucrar às custas de milhares de vidas perdidas para a covid-19. De acordo com relatórios enviados à CPI, apenas as vendas da ivermectina saltaram de 24,6 milhões de comprimidos em 2019 para 297,5 milhões em 2020 – um crescimento superior a 1.105%. O preço médio da caixa com 500 comprimidos subiu de R$ 73,87 para R$ 240,90, um incremento de 226%.

O medicamento é um vermífugo e antiparasitário que integra o chamado "kit covid", amplamente difundido pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores como parte de um "tratamento precoce" contra a doença, mesmo sem comprovação científica. No Brasil, a Vitamedic é um dos principais produtores da droga, também vendida por outros laboratórios, como Abbott, Legrand e Neo Química.

A empresa, bem como Bolsonaro e seus apoiadores, seguiram recomendando o medicamento mesmo após a Merk, primeira fabricante da ivermectina, informar em comunicado que não há evidência de que o produto funcione contra a covid-19. A Vitamedic chegou a gastar mais de R$ 700 mil para promover o kit comprovadamente ineficaz contra a covid-19.

Segundo o diretor-executivo da empresa, a Vitamedic teve faturamento de R$ 200 milhões em 2019, R$ 540 milhões em 2020 e R$ 300 milhões entre janeiro e julho de 2021. 

De acordo com dados apresentados à CPI, somente com a ivermectina, a Vitamedic faturou R$ 15,7 milhões em 2019, número que passou a R$ 470 milhões em 2020 – um aumento de 2.900%.

Patrocínio a manifesto de médicos

Em seu depoimento, Batista confirmou também que a farmacêutica gastou R$ 717 mil para patrocinar médicos a recomendarem a invermectina. Além disso, a empresa assumiu os custos de divulgação de um manifesto da Associação Médicos pela Vida, publicado em jornais em 16 de fevereiro, promovendo "medicamentos contra covid-19" que não tinham comprovação científica.

Omar Aziz lembrou que o manifesto foi publicado após o caos sanitário em Manaus no início do ano. "Nem isso sensibilizou o laboratório. Visou lucro mancomunado com médicos. Se isso não é crime, não tem nenhum crime para investigar."

Batista defendeu a empresa, alegando que ela não tinha como interferir no conteúdo do informe publicitário elaborado pela Associação Médicos pela Vida.

Bolsonaro como garoto-propaganda

Durante a sessão da CPI, foram exibidos diversos vídeos em que Bolsonaro promove a ivermectina. No entanto, Batista disse ser incapaz de avaliar o impacto dessas declarações sobre a procura pelo remédio.

"Antes que houvesse alguns pronunciamentos, desde a eclosão da pandemia, quando os primeiros estudos in vitro apontaram que a ivermectina tinha alguma ação, isso desencadeou o interesse pelo produto. Ele passou a ter visibilidade maior. Mas não temos como medir o que impactou a fala do presidente no nosso negócio", afirmou Batista.

A partir da afirmação do senador Rogério Carvalho (PT-SE) de que Bolsonaro foi o grande "garoto-propaganda" da ivermectina, articulando-se com a Vitamedic para maior venda do medicamento, Batista disse que, se o presidente fez propaganda, foi espontaneamente.

O senador solicitou à CPI que encaminhe uma denúncia à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a Vitamedic, por prescrever medicamento sem eficácia contra a covid-19 e por curandeirismo, infração de medida sanitária, advocacia administrativa, corrupção ativa e passiva e publicidade enganosa.

Presidente indiciado por charlatanismo

Durante o intervalo do depoimento de Batista, a cúpula da CPI decidiu ainda que vai propor o indiciamento de Bolsonaro por charlatanismo, curandeirismo e propaganda enganosa.

A medida foi discutida durante um almoço entre o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), o vice, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL).

Segundo os senadores, o depoimento de Batista traz mais elementos que comprovam que Bolsonaro agiu para promover medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid-19, o que colocou em risco a população brasileira.

Segundo revelou a imprensa brasileira, a proposta de indiciamentodo do presidente deve fazer parte do relatório final da CPI, a ser apresentado pelo relator Renan Calheiros.

Em entrevista ao blog de Valdo Cruz, no G1, Randolfe Rodrigues disse que a decisão desta quarta-feira não exclui o pedido de indiciamento por outros tipos de crimes.

Originalmente, a CPI aprovou a convocação do dono da Vitamedic, José Alves Filho, para prestar mais esclarecimentos. Mas, em ofício enviado à comissão, Alves argumentou que, como acionista da Vitamedic, poderia responder apenas sobre "investimentos fabris e novas aquisições". Ele sugeriu que a CPI tomasse o depoimento de Batista, a quem caberia "a administração das rotinas diárias" da empresa.

Acareação entre Onyx e Miranda

Também nesta quarta-feira, a CPI aprovou requerimento protocolado por Randolfe para acareação entre o atual ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, e o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), devido às contradições das declarações de ambos em relação ao caso Covaxin, de suspeita de irregularidades na compra de vacina indiana. Miranda denunciou corrupção nas negociações da Covaxin no âmbito do Ministério da Saúde, enquanto Onyx negou as acusações.

le (Agência Senado, ots)