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Dilma vai à Europa discutir compra de caças e crise europeia

Fernando Caulyt10 de dezembro de 2012

Encontros diplomáticos em Paris e Moscou devem influenciar decisão brasileira sobre compra de caças para a Força Aérea Brasileira. Por razões geopolíticas, até aviões russos podem voltar à disputa comercial.

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Foto: dapd

A presidente Dilma Rousseff tem pela frente uma extensa agenda na Europa a partir desta terça-feira (11/12) em Paris e Moscou. As visitas de Estado devem ajudar a presidente brasileira a escolher o novo avião caça que vai substituir os F-103 Mirage III da Força Aérea Brasileira (FAB) – decisão que deve sair até o final deste ano.

Outros assuntos, porém, vão também entrar na pauta. Em Paris, Dilma discute a crise financeira internacional e deve fechar acordos nas áreas de energia, satélites e transporte.

Em Moscou, o embargo russo à carne brasileira e a cooperação no âmbito dos Brics – que inclui também Índia, China e África do Sul – devem predominar na agenda.

Novos caças para o Brasil

A última edição da revista Istoé revelou que documentos da Aeronáutica dão preferência ao caça norte-americano F18 Super Hornet – produzido pela Boeing – e a tendência é que a presidente atenda aos anseios dos militares. Entre os principais concorrentes estão o modelo francês Rafale e o sueco Gripen NG.

A renovação da frota da FAB é discutida desde 2000, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao tomar posse, Lula iniciou um novo processo – chamado de FX-2 – excluindo o caça russo Sukhoi e tendo como finalistas as propostas da França, da Suécia e dos Estados Unidos.

De acordo com a Istoé, o relatório mostra que os 36 aviões da Boeing custariam 5,4 bilhões de dólares, quase a metade dos 8,2 bilhões de dólares orçados para o Rafale. O Gripen NG é o mais barato (4,3 bilhões de dólares), porém nunca foi testado em combate na versão oferecida.

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O presidente francês François Hollande vai receber Dilma Rousseff com revista de tropasFoto: Reuters

Mas ainda é cedo para uma decisão. A partir dos encontros diplomáticos na França e na Rússia, a compra do avião pode tomar um caráter geopolítico em vez de ser uma decisão pelo melhor produto. Até mesmo o caça russo Sukhoi – até então "carta fora do baralho" – pode ser escolhido por Dilma.

O cônsul para assuntos econômicos da Embaixada da França em São Paulo, Stéphane Mousset, lembrou que o país já tem acordo similar com o Brasil relacionado a helicópteros e submarinos "com a transferência de tecnologia".

Gilberto Ramos, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Rússia, disse que a Rússia tem muito a oferecer com um acordo de venda dos Sukhoi, pois "os outros mercados onde são fabricadas as aeronaves já estão consolidados para o Brasil", e a Rússia poderia oferecer uma contrapartida interessante. Um acordo envolvendo a brasileira Embraer não estaria descartado.

Agenda em Paris

Na capital francesa, a presidente brasileira vai ser recebida nesta terça-feira com revista de tropas pelo presidente francês François Hollande e desfile oficial em veículo aberto e escoltado por cavalos. É o segundo encontro de Dilma com Hollande, eleito em maio deste ano. Dilma vai se encontrar ainda com o presidente da Assembleia Nacional, Claude Bartolone.

No mesmo dia a presidente brasileira deve discursar no Fórum pelo Progresso Social: o crescimento como saída da crise, organizado pela Fundação Jean-Jaurès e pelo Instituto Lula. Nessa oportunidade, ela deve se encontrar com o ex-presidente Lula. O dia vai terminar com um jantar oferecido pelo presidente Hollande.

Na quarta-feira, Dilma participa do seminário Brasil-França: desafios e oportunidades de uma parceria estratégica na sede do Mouvement des Entreprises de France (MEDEF) – organização patronal francesa –, onde se encontrará também com participantes do programa de bolsas do governo federal Ciência sem Fronteiras.

A visita permitirá o aprofundamento da parceria estratégica entre os dois países. "Temos áreas de interesse comum. Temos grandes projetos no Brasil dos quais a França pode participar, como por exemplo, nas áreas de transportes – com o trem-bala e projetos de metrô –, setor esportivo e de satélites", frisou Mousset.

Agenda em Moscou

Dilma vai chegar a Moscou na noite da quarta-feira. A pauta contém assuntos da parceria estratégica entre os dois países, como cooperação econômica, geopolítica internacional e segurança.

De acordo com a pauta preliminar divulgada pelo Itamaraty, a presidente brasileira vai se reunir na quinta-feira com o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev, às 17h. Na sexta-feira ela participa do II Fórum Empresarial Brasil-Rússia: Fortalecendo a parceria estratégica, com empresários dos dois países, e vai se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin.

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Medvedev deverá discutir com Dilma sobre o embargo à carne brasileiraFoto: Reuters

Dilma deve tentar chegar a um acordo quanto ao embargo russo à carne exportada por frigoríficos brasileiros, incluindo todos do Rio Grande do Sul, Paraná e do Mato Grosso. Parte do embargo já foi suspensa no final de novembro, porém ainda depende da habilitação de cada empresa para a retomada das exportações.

"Mesmo com o embargo, a Rússia continua sendo nosso maior comprador de carne bovina e o segundo maior para a carne suína", frisou Ramos.

Para o professor de ciências políticas da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Nascimento, é importante o encontro de dois países que fazem parte dos Brics. Por outro lado, Nascimento alerta que o governo russo tem tomado decisões geopolíticas contrárias aos interesses dos Estados Unidos, o que pode prejudicar o Brasil.

"O governo brasileiro deve ter cautela diplomática para não transparecer que o Brasil estaria se aproximando da Rússia no sentido de tomar posições conjuntas contra os Estados Unidos", concluiu.