Dilma repudia bloqueio a voo de Morales e exige desculpas de europeus
3 de julho de 2013A presidente Dilma Rousseff disse nesta quarta-feira (03/07), em nota, que recebeu com "repúdio e indignação" o fato de alguns países europeus terem impedido o sobrevoo do avião do presidente boliviano, Evo Morales, em seu espaço aéreo. A declaração agrega tensão a um imbróglio diplomático com implicações não só para América Latina, como também para Estados Unidos e Rússia.
Na terça-feira, Portugal, França e Itália negaram autorização de entrada ao avião de Morales, que estava na Rússia e, rumo a La Paz, foi forçado a ser desviado para Viena, pela suspeita de que estaria acobertando uma fuga do ex-consultor da CIA Edward Snowden. O americano é procurado pelos EUA por espionagem, depois de ter tornado públicas atividades secretas de espionagem da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês).
"O governo brasileiro expressa sua indignação e repúdio ao constrangimento imposto ao presidente Evo Morales por alguns países europeus", diz a nota do Planalto. "O noticiado pretexto dessa atitude inaceitável, além de fantasioso, é grave desrespeito ao Direito e às práticas internacionais e às normas civilizadas de convivência entre as nações."
No comunicado, Dilma diz que a medida "acarretou risco de vida" para Morales e, sem citar nomes, exigiu um pedido de desculpas por parte dos países envolvidos. O constrangimento ao presidente, prossegue o texto, atinge não só a Bolívia, mas a "toda a América Latina".
"Causa surpresa e espanto que a postura de certos governos europeus tenha sido adotada ao mesmo momento em que alguns desses mesmos governos denunciavam a espionagem de seus funcionários por parte dos Estados Unidos, chegando a afirmar que essas ações comprometiam um futuro acordo comercial entre este país e a União Europeia", afirma Dilma.
Indignação boliviana
O episódio ameaça ser o estopim de uma crise diplomática com dimensões transatlânticas. O embaixador da Bolívia nas Nações Unidas, Sacha Llorenti Ortiz, comentou à imprensa, em Genebra: "As decisões desses países violaram a legislação internacional. Já estamos tomando medidas para denunciar o caso ao secretário-geral da ONU [...]. Consideramos isso uma agressão."
Mostrando-se indignado, o diplomata não hesitou em acusar diretamente o governo americano. "Trata-se do sequestro do presidente durante uma viagem oficial, após uma conferência de cúpula oficial. [...] Não há qualquer dúvida que se tratou de uma ordem da Casa Branca [...]. Sob nenhuma circunstância um avião diplomático com um presidente a bordo pode ser desviado de sua rota e forçado a aterrissar num país terceiro."
O ministro boliviano da Defesa, Ruben Saavedra, também sugeriu que o Departamento de Estado dos EUA estaria por trás pelo menos da decisão de Lisboa e Paris. "Temos a suspeita de que [Portugal e França] foram usados por poderes estrangeiros, neste caso, os Estados Unidos, como forma de intimidar o Estado boliviano e o presidente Evo Morales."
Guerra de versões
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal admite ter negado o sobrevoo do território nacional e a aterrissagem em Lisboa na segunda-feira à tarde, mas por motivos técnicos. No entanto, a interdição de sobrevoo foi suspensa às 21h10 do mesmo dia, enquanto a aterrissagem seguiu vetada "por considerações técnicas", prosseguiu o órgão.
O governo espanhol nega categoricamente que em qualquer momento tenha interditado ao chefe de Estado boliviano o acesso a seu espaço aéreo, ou mesmo exigido que o avião fosse registrado em Viena.
Já o presidente francês, François Hollande, afirmou nesta quarta-feira, em Berlim, que deu autorização para o avião do presidente boliviano sobrevoar a França logo que soube que Evo Morales estava a bordo.
Segundo um deputado governista, o Parlamento boliviano vai pedir a expulsão dos representantes diplomáticos de França, Portugal e Itália como represália pela interdição de sobrevoo do espaço aéreo ao avião de Morales.
O avião de Evo Morales só pôde levantar voo de Viena por volta do meio-dia (na hora local) desta quarta-feira e, após uma escala para serviços técnicos em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, rumou para La Paz. Já Snowden continuaria num aeroporto de Moscou.
RPR/AV/ap/afp/rtr