Dezenas de milhares vão à parada do orgulho LGBTQ em Berlim
24 de julho de 2021Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de Berlim neste sábado (24/07) em defesa dos direitos LGBTQ, na celebração anual do Christopher Street Day. Estiveram reunidos cerca de 35 mil participantes, segundo a polícia, quase o dobro do esperado pelos organizadores.
Com cinco caminhões de som e muitos foliões estampando as cores do arco-íris, símbolo LGBTQ, a parada passou por pontos importantes da cidade, como o Portão de Brandemburgo e a Coluna da Vitória. No caminho, em apoio à marcha, a embaixada dos Estados Unidos hasteava uma bandeira de arco-íris abaixo da bandeira americana.
O ato ocorreu sob regras rígidas de higiene devido à pandemia de covid-19. O distanciamento foi difícil de ser garantido, mas os participantes eram lembrados a todo momento da obrigatoriedade do uso de máscaras. Os organizadores também pediram que fosse evitado o consumo de álcool. Ao jornal Tagesspiegel, um porta-voz da polícia disse que os manifestantes "em sua maioria respeitaram as regras de higiene".
A parada teve início com um discurso do secretário de Cultura de Berlim, Klaus Lederer, que defendeu tornar a capital alemã uma "zona de liberdade queer", em resposta às ameaças aos direitos LGBTQ promovidas pelos governos das vizinhas Hungria e Polônia.
"Zonas livres de LGBTQs" foram declaradas em partes do território polonês, enquanto a Hungria recentemente aprovou uma lei que proíbe a "promoção" da homossexualidade e da redefinição de gênero entre menores de 18 anos. Os dois países são regidos por governos de ultradireita, cujas políticas levantaram questões sobre o respeito ao Estado de direito. Lederer afirmou que a situação nesses Estados-membros da União Europeia "provoca arrepios".
Em seu discurso de abertura da marcha, o secretário berlinense, que é do partido A Esquerda, também observou que a pandemia foi particularmente difícil para alguns LGBTQs, uma vez que abrigos que atendem a gays, lésbicas, bissexuais e transexuais desamparados foram fechados. Ele reconheceu que "ainda há muito trabalho a ser feito".
O prefeito da capital alemã, Michael Müller, do Partido Social-Democrata (SPD), também pediu solidariedade aos LGBTQs perseguidos. Embora a Berlim de hoje seja "cosmopolita e liberal", o pensamento e ação homofóbicos são um problema mesmo na "capital europeia do arco-íris", declarou o prefeito. "Temos que nos opor a isso juntos."
Müller reconheceu ainda que, em muitos outros países do mundo, e mesmo na Europa, a situação dos LGBTQs é muito mais difícil do que na Alemanha. Portanto, é preciso pensar nessas pessoas que, em sua luta por igualdade e respeito, "são excluídas, perseguidas ou presas".
A parada LGBTQ retornou às ruas da capital alemã após ter sido realizada online em 2020 devido à pandemia. Em meio às regras de distanciamento social, uso obrigatório de máscaras e veto a bebidas alcoólicas, a organização esperava um público de cerca de 20 mil pessoas. A polícia estimou em 35 mil o número de participantes neste sábado, enquanto os organizadores falaram em 80 mil.
As celebrações foram precedidas por um ataque homofóbico cometido contra um casal de homens em um metrô de Berlim na sexta-feira. Segundo a polícia, as vítimas estavam sentadas em um trem quando foram abordadas por um estranho, que os insultou e depois deu vários socos em um dos homens. Outros passageiros intervieram, e o agressor foi detido após tentar fugir.
Também na sexta-feira, durante um culto na igreja de Santa Maria de Berlim (St. Marienkirche), o bispo Christian Stablein pediu perdão aos LGBTQs pelo sofrimento causado a eles pela Igreja Evangélica.
A parada do Christopher Street Day (CSD), como é chamada a marcha do orgulho LGBTQ na Alemanha, remete a um evento ocorrido em 1969 nos Estados Unidos que é considerado um importante marco do movimento pelos direitos LGBTQ.
Em 28 de junho daquele ano, a polícia invadiu o bar Stonewall Inn, localizado na Christopher Street, em Nova York, onde costumavam se reunir gays, lésbicas, transexuais e travestis não brancos. Embora os frequentadores estivessem acostumados às rotineiras perseguições das autoridades policiais, algo inusitado aconteceu naquele dia: eles se defenderam. O conflito acarretou dias de choques violentos entre LGBTQs e a polícia.
ek (AFP, AP, DPA, Efe, ots)