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Dez anos depois, Guerra do Iraque ainda assombra EUA

Christina Bergmann (ca)8 de abril de 2013

Quando derrubaram a estátua de Saddam, em 2003, americanos não imaginavam que conflito custaria mais de 2 trilhões de dólares, 4.500 vidas e arranharia a imagem do país com aliados europeus e, sobretudo, no mundo árabe.

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Foto: AFP/Getty Images

"Pela primeira vez, muitos iraquianos vivem a experiência de poder expressar livremente sua opinião, de poder se organizar politicamente sem obstáculos", declarou o secretário de Estado americano, John Kerry, em recente visita ao Iraque. Porém, acrescentou, "seria falso esconder que ainda há muito a fazer."

Dez anos após a queda do ditador Saddam Hussein, tanto a situação interna no Iraque quanto as relações com os Estados Unidos não estão como os arquitetos da guerra imaginaram em 2003: instituições fracas, violência, violações dos direitos humanos e um fortalecimento do grupo terrorista al-Qaeda caracterizam hoje um país sobre o qual os americanos quase não exercem mais influência.

Para os críticos, a culpa é do governo em Washington – o atual e o anterior. Segundo a ativista Erin Evers, da ONG Human Rights Watch, os americanos deram um mau exemplo em matéria de política de direitos humanos. Ela cita o tratamento degradante dado a presos iraquianos em Abu Ghraib como prova disso.

"Antes de 2002/2003 tínhamos alguma credibilidade no mundo em relação aos direitos humanos", afirma Evers, que diz que agora a situação mudou – e dificulta o combate aos abusos dos direitos humanos pelo governo dos EUA. "Mesmo sob o governo Barack Obama não se viram melhoras. Em 2009, ele decidiu não responsabilizar nenhum dos oficiais superiores [por Abu Ghraib], foi um erro grave."

Acordo fracassado

Oficialmente, 10.500 americanos se encontram em missão no Iraque, grande parte pessoal diplomático e funcionários de empresas particulares, que cuidam da segurança, alimentação e outros apoios administrativos. Até o fim do ano, esse número deve cair para 5.100, um quinto dos quais pertence ao corpo diplomático. Desde o final de 2011, soldados americanos responsáveis pela segurança não se encontram mais no país – as negociações sobre a retirada de tropas fracassaram na questão da imunidade para soldados americanos.

Para o professor de ciências políticas Peter Feaver, da Universidade Duke, a culpa é do governo Obama. "O primeiro-ministro Nouri al-Maliki estava disposto a garantir a imunidade, mas o procurador americano insistiu que ela fosse confirmada pelo Parlamento", explica. Os iraquianos, porém, não acreditaram que seria possível impor a questão perante o Parlamento e, assim, as negociações fracassaram no final.

10 Jahre nach dem Irakkrieg
Situação de segurança no Iraque ainda continua incertaFoto: picture-alliance/Fotoreport

A situação de segurança no país é precária. Há sempre ataques terroristas com mortos. A situação cresce em tensão, principalmente com a promidade das eleições em 18 das 20 províncias do país, marcadas para 20 de abril. E a derrubada de Saddam Hussein, por si só, não melhorou a situação da população do país, diz Erin Evers: "Sim, as pessoas afirmam que sob o regime Saddam era terrível, mas havia somente um inimigo e, distanciando-se da política, era possível manter uma vida relativamente normal."

População dividida

Jim Phillips, da conservadora Fundação Heritage, é de outra opinião. "Se os EUA não tivessem optado pela intervenção há dez anos e Saddam Hussein ainda estivesse no poder, então seria grande a probabilidade de que, nos últimos anos, ainda mais iraquianos tivessem sido mortos, e talvez ainda pudesse ter havido outra guerra."

Em relação à Guerra do Iraque, a população dos EUA está tão dividida quanto os especialistas. Segundo pesquisa de opinião do instituto Pew, 44% dos americanos consideram um erro ter entrado na guerra, e 41% dizem que a decisão foi correta. E, enquanto 46% são da opinião que os EUA alcançaram seus objetivos, 43% afirmaram que o país falhou.

Esse cenário corresponde, em parte, àquele de 2008, quando Barack Obama ganhou as eleições presidenciais, entre outros motivos, devido à sua oposição à Guerra do Iraque. Ele prometeu dar um fim ao conflito e cumpriu sua palavra. Os republicanos, por outro lado, sofreram uma grave deterioração de sua imagem.

"Por décadas, os republicanos ficaram em vantagem quando se tratava da segurança nacional, então eles ganharam votos. Em questões de política interna, como o seguro-saúde, os democratas puderam marcar pontos", diz Fever.

Segundo ele, como consequência da Guerra do Iraque existe agora dentro do Partido Republicano um "debate muito vigoroso" sobre o futuro da política externa americana.

Preço alto

Em comunicado por ocasião dos dez anos da guerra, Obama recorda principalmente as vítimas americanas, os mais de 4.500 homens e mulheres que perderam suas vidas em missão no Iraque, para, em suas palavras, "proporcionar aos iraquianos a possibilidade de, após tantos anos difíceis, determinar o próprio destino."

A declaração por escrito amplamente divulgada diz ainda: "Honramos a coragem e a determinação de mais de 1,5 milhão de membros do Exército dos EUA e civis que, através de diversas missões, escreveram um dos capítulos mais marcantes do serviço militar."

Os americanos pagaram um preço alto pela invasão no Iraque. Primeiramente, há os enormes custos financeiros que, segundo um recente estudo da Universidade Brown, chegam a mais de 2,2 trilhões de dólares. "A imagem dos EUA no mundo árabe tem sofrido e a relação com os aliados na Europa foi desgastada", diz Jim Phillips.

USA Veteranen Heimkehr Flugzeug
Americanos ainda estão divididos quanto à guerraFoto: picture-alliance/dpa

E, ao mesmo tempo, os americanos ficaram mais cuidadosos quanto a operações militares, como mostra a contenção atual em relação à Síria. Segundo Feaver, um veredicto final sobre a guerra ainda não pode ser dado. E também depende de como o Iraque vai se desenvolver. No entanto, Phillips afirma que uma lição já está clara: "Às vezes é mais difícil vencer a paz do que a guerra."