Batalha digital
8 de abril de 2010A Deutsche Telekom é uma das três representantes exclusivas do iPhone na Europa desde 2007. Agora, entretanto, a companhia planeja lançar seu próprio serviço para competir diretamente com o reprodutor de áudio iTunes, da Apple.
O presidente da Telekom, René Obermann, batizou sua estratégia de “coompetição”, o princípio que combina cooperação e competição, acrescentando que isso terá um papel vital em um futuro modelo de negócios online.
Obermann não só espera obter dividendos por meio da “coompetição” com a Apple, como também disse que gostaria de cobrar mais de companhias que utilizam a rede da Telekom para oferecer serviços intensivos de dados.
A Google, por exemplo, deverá pagar mais pelos direitos de prioridade para transmitir seus vídeos do YouTube através da rede da Telekom.
"Sem as nossas redes de comunicação e os produtos primários modernos, não haveria transmissão de qualquer serviço online da Google ou da Apple", disse Obermann à agência de notícias Deutsche Presse.
Neutralidade da rede em jogo
Essa estratégia fere o princípio de neutralidade de rede, que garante a separação estrita entre as empresas provedoras de internet e as empresas que oferecem conteúdo. No entanto, pela lógica de Obermann, provedores de internet teriam direito participar dos lucros de certos serviços online por distribuir os respectivos conteúdos através de suas redes.
Na visão de Joe McNamee, da organização Direitos Digitais Europeus, em Bruxelas, a Telekom poderá lucrar com novos assinantes se mantiver o respeito ao princípio da neutralidade de rede.
"As pessoas querem usar a internet sobretudo por causa das inovações e de companhias como a Google, a Microsoft e outras" lembrou McNamee em declaração à Deutsche Welle.
Em todo o mundo, os países estão acatando o conceito de neutralidade de rede. A comissária europeia de Telecomunicações e Tecnologia de Informação, Neelie Kroes, confirmou o comprometimento da Comissão Europeia com a neutralidade de rede. Isso significa que os países-membros deveriam implementar regras correspondentes em nível nacional.
"O problema é que, em nível europeu, a legislação não é particularmente forte, e isso não deixa de ser importante para a implantação em nível nacional. O órgão regulador da Alemanha precisaria tomar atitudes rápidas e efetivas contra a Deutsche Telekom em uma situação como essa. No entanto, diga-se de passagem, o órgão regulador de telecomunicações na Alemanha não é dos mais pró-ativos”, diz McNamee.
Volume de transmissão de dados aumenta rapidamente
Embora a Telekom tenha se recusado a dar entrevista para esta reportagem, a porta-voz Marion Kessing divulgou em comunicado que a companhia apoia a neutralidade de rede e que “há padrões a serem mantidos”. No entanto, acrescentou ela, o volume de transmissão de dados está aumentando rapidamente e esse tipo de tráfego de informações, incluindo jogos e televisão pela internet, não pode tolerar delays como o uso tradicional da internet e o fluxo de e-mails toleram.
Como o fluxo de dados está se intensificando na internet e sobrecarregando a capacidade da rede, empresas como a Telekom têm que encontrar maneiras de oferecer serviços na velocidade requerida e ao mesmo tempo manter os seus lucros.
Obermann disse que a Telekom precisa inovar, mas ao mesmo tempo não pode negligenciar sua base de consumidores regulares. Afinal, a companhia ainda fornece as boas e velhas linhas telefônicas em toda a Alemanha.
“É verdade que a eficiência e a conquista de mercado são importantes no modelo tradicional de negócios online, de modo a se ganhar dinheiro suficiente. Mas o limite entre o modelo tradicional e uma tecnologia de transmissão em rápido crescimento é tênue. Essas são as áreas em que as provedoras de internet mais alertas passaram a investir mais. Reconhecemos essa tendência e já começamos a investir nela. Temos planos ambiciosos para o futuro.”
Autor: Gerhard Schneibel / Cyrus Farivar (ff)
Revisão: Simone Lopes