Extremismo de direita
10 de fevereiro de 2007DW-WORLD: O número de crimes de fundo xenófobo e radical de direita atingiu o ápice dos últimos seis anos. Como o senhor explica isso?
Wilhelm Heitmeyer: O ativismo aumentou em determinados lugares e, por outro lado, a sensibilidade da população mudou. Um outro importante aspecto é que certas posturas são encaradas com normalidade e acabam servindo de legitimação para a violência. Por isso, é fundamental não dissociar os atos de violência do clima social. Sobretudo no Leste Alemão, a resistência a este tipo de violência se tornou mais discreta.
E porque esse tipo de postura se observa principalmente no Leste Alemão?
Em nosso estudo, constatamos que o êxodo populacional, sobretudo nas pequenas comunidades e cidades, tem um grande peso, pois atinge sobretudo os jovens com boa formação. A isso se juntam posturas consensuais entre a população. Não que a violência não provoque nenhuma reação, mas as reações se tornam possivelmente mais discretas. Isso é comprovado. Nas regiões em decadência econômica, a tendência de desvalorizar grupos mais fracos é maior do que em regiões prósperas. Não é à toa que o Partido Nacional Democrata da Alemanha (NPD) conclama por maior ativismo nas regiões carentes.
O passado da antiga Alemanha Oriental é relevante nas tentativas de explicar o desnível entre Leste e Oeste?
Certamente existe uma relação entre posturas autoritárias e a depreciação de estrangeiros. Por outro lado, os mais jovens já cresceram numa Alemanha mais aberta. É preciso observar com cuidado se isso não vem do medo dessa nova sociedade. Tudo indica que há uma rejeição de conquistas democráticas. Para muitos, a aceitação da democracia ainda é questionável. Isso está relacionado ao drástico declínio econômico de alguns anos atrás. No Oeste, o aprendizado da democracia, após a Segunda Guerra, foi acompanhado de conjuntura econômica.
A atual conjuntura econômica pode melhorar a atmosfera social no que diz respeito a tendências xenófobas?
Isso é uma grande interrogação. Essa conjuntura não é distribuída por igual. Pode até mesmo surtir o efeito contrário, se os habitantes de regiões carentes constatarem que a conjuntura está passando de novo ao largo deles.
Será que algumas pessoas projetam sua própria insatisfação nos estrangeiros? Ou então, a que atribuir o clima xenófobo?
Aqui é preciso fazer uma distinção. Por um lado, inúmeras pessoas são levadas pelo medo da desintegração. Quando isso se junta a uma falta de orientação, então as animosidades podem se voltar contra determinados grupos. Ou seja: depreciar os outros para se autovalorizar. É preciso distinguir entre a postura individual e a de grupos ativistas que usam isso como legitimação. Atos de violência são cometidos sobretudo por jovens. Mas a predisposição para a animosidade se esconde atrás das cortinas, entre os mais velhos. São eles que dão a legitimação. Isso costuma ser subestimado; a sociedade não reage a isso.
O que o Estado pode fazer diante do aumento de delitos motivados por extremismo de direita e xenofobia?
Em primeiro lugar, o Estado tem que operar junto com a polícia e a Justiça. Mas repressão também fomenta inovação. Os grupos radicais de direita passam a criar suas próprias estruturas privadas, limitando as possibilidades de intervenção do Estado. Mas não são apenas o Estado e a política que devem se responsabilizar pelo estado da sociedade. Isso também cabe ao empresariado e a imprensa, toca a coragem civil e vai até os movimentos sociais dispostos a protestar nas ruas. Não só o Estado deveria agir.
Wilhelm Heitmeyer (62), é catedrático de Pedagogia na Universidade de Bielefeld, especializado em questões de socialização. Desde 1982, ele se dedica à pesquisa de extremismo de direita, violência, xenofobia, conflitos étnico-culturais, desintegração social e segregação de grupos específicos. Em 1996, Heitmeyer fundou o Instituto de Pesquisa Interdisciplinar de Conflito e Violência, e dirige-o desde então.