Dengue, uma crise sanitária que pode ser evitada
Dengue, uma crise sanitária que pode ser evitada
Vila Jaguara: principal foco de dengue em São Paulo
Encravada entre duas marginais, e duas grandes rodovias em uma área majoritariamente baixa, a Vila Jaguara é atualmente o principal foco de dengue em São Paulo, superando em 28 vezes a taxa de incidência geral da cidade. Casas vazias, acúmulo de lixo em terrenos e vias públicas e falta de conscientização permitiram a expansão da doença na região.
Lixo acumulado: ambiente ideal para o mosquito
Na Vila Jaguara, um terreno fechado concentra lixo, sucata e ferro-velho, propiciando a multiplicação de larvas e mosquitos da dengue. Autoridades sanitárias estudam a aquisição de drones para o mapeamento de áreas desse tipo e o despejo de larvicidas e inseticidas sem a necessidade de intervenção dos proprietários.
Pneus com água parada
Profissionais de uma empresa terceirizada foram contratados para realizar a limpeza de uma das áreas da Vila Jaguara. Funcionários contam que aproximadamente 20 pneus com água parada foram retirados de um pequeno terreno.
Vigilância dos moradores
Antes uma área de descarte de lixo e entulho e possível criadouro de mosquitos, invadida à beira de um córrego, uma viela agora é vigiada de perto por moradores que pretendem zelar pelo espaço. "Todo mundo da rua pegou dengue e a culpa estava em todo aquele material retirado", diz o morador Aramis de Lima.
Temor de contratir novamente a doença
Desde que contraiu dengue, o aposentado Aramis de Lima tem evitado trajetos antes corriqueiros, como o córrego próximo à sua casa, e permanecido mais tempo em sua oficina de brinquedos de madeira. A condição de saúde, associada à idade, o deixam preocupado em contrair novamente a doença, poderia levar à "dengue hemorrágica".
Imóveis vazios e decréscimo populacional
Afastado das oportunidades mais atraentes de estudos e trabalho para a população mais jovem, a centenária Vila Jaguara vem passando por um processo gradual de decréscimo populacional nas últimas décadas. O resultado são imóveis vazios e, muitas vezes, em mau estado de conservação – e que se tornam dor de cabeça para a população que permanece na região.
Efeitos da pandemia
Membro do conselho gestor de saúde local, Edson Maciel lamenta o estado de abandono de muitos imóveis da região onde vive há mais de 40 anos. "Da pandemia para cá, vimos muitos comércios fechando, imóveis fechando, as famílias adoeceram, os mais velhos morreram, os filhos saíram. Sobraram ferros-velhos fechados, que só podem ser abertos com autorização judicial", destaca.
Falta de conscientização
Ao todo, 136 imóveis da pequena região de 2 km2 na Vila Jaguara passaram por algum tipo de atendimento-controle promovido pela unidade de saúde local. Para profissionais de saúde, o descaso indica falta de conscientização da população quanto à reprodução do mosquito "Aedes aegypti", um problema ainda mais crítico em moradores idosos.
Mosquito não conhece fronteiras
Epidemiologista e professor da USP, Paulo Lotufo critica a gestão descentralizada da crise epidêmica. "O mosquito não sabe o que é fronteira, não usa passaporte, não tem visto. Muitos municípios não conseguem fazer o controle, o que acaba afetando cidades vizinhas", explica.