De poemas a despedidas
13 de setembro de 2003Em Weimar, cidade em que viveram Goethe e Schiller, acontece neste sábado (13) a final do concurso que irá laurear o "superpoeta" da Alemanha. O dia não foi escolhido arbitrariamente: o 13 de setembro é o "Dia do Idioma Alemão", data celebrada pela terceira vez por uma curiosa Associação do Idioma Alemão (VDS).
Cerca de 3 mil poetas amadores participaram da competição, enviando 5 mil poemas. Um juri selecionou os 25 melhores para a final, com escolha por aclamação. Berço do classicismo alemão, Weimar já festejou no final de agosto o 254º aniversário de Goethe com um concerto open air do roqueiro Udo Lindenberg, que não deixa de ser um poeta dos tempos modernos.
Abaixo o inglês!
O poema vencedor do concurso será leiloado na internet, anuncia a VDS em sua página na rede. Ali pode-ser ler também que a associação foi fundada em 1997 e hoje conta com 16 mil filiados espalhados em mais de 30 países. Seus objetivos, porém, têm um toque nacionalista indisfarçável: "lutamos pelo respeito próprio e a dignidade de todas as pessoas que têm alemão por língua materna e procuramos deter a mescla do alemão com o inglês".
Abaixo o "denglisch", portanto, esse idioma híbrido que de alemão só tem o "d" de deutsch. O site traz tantos anglicismos, que a lista mais parece um dicionário. Por que usar o termo inglês monitor em vez do alemão Bildschirm, pergunta a associação, mesmo reconhecendo que as palavras do inglês são mais curtas e marcantes.
Independente do concurso em Weimar, a poesia ganha espaço entre os jovens. Tornou-se comum organizar declamação de poemas modernos em bares e lugares onde a poesia não costuma circular. Noitadas, aliás, geralmente chamadas de poetry slum, para horror dos puristas do idioma alemão.
A despedida dos grandes autores
No início de setembro aconteceu também a Festa dos Poetas, em Erlangen, na Baviera. Realizada um mês antes de ter início a Feira do Livro de Frankfurt, a maior do mundo, a festa atraiu 40 escritores e críticos literários e não apenas poetas propriamente ditos. Sua abertura coube ao brilhante Alexander Kluge, que leu trechos de seu novo livro "A brecha que o diabo deixa" (Die Lücke, die der Teufel lässt).
Um de seus pontos altos foi a presença do escritor Walter Kempowski (74), que acaba de lançar "Últimas saudações" (Letzte Grüsse), que o incansável cronista da história alemã entende como " uma despedida dos meus leitores", embora não pretenda abandonar a literatura. Alemão oriental e acusado de espionagem, Kempowski chegou a ser condenado, em 1948, a 25 anos de prisão por um tribunal militar soviético, sendo libertado, porém em 1956. Kempowski sofreu um derrame há dez anos.
Os poemas ilustrados de G. Grass
O Nobel de Literatura Günter Grass, que já passou dos 75, também entoa cânticos de despedida. "Últimas danças" (Letzte Tänze) é o título de sua nova obra, desta vez de poesias. Ilustrado com seus próprios desenhos e litogravuras, o livro é na verdade uma autobiografia íntima em forma de versos, em que o escritor fala com humor sobre tudo o que lhe parece importante na sua vida.
Poemas em que se manifesta o Grass que adora dançar, o amante fervoroso e feliz pai de família, o colecionador de cogumelos e observador da natureza, mas também o Grass político que condena duramente os EUA por despejar bombas de fragmentação no Iraque.