De férias com o chatbot
1 de junho de 2024"Quero andar de bicicleta amanhã e partir de um determinado local. O passeio deve durar no máximo três horas e oferecer às crianças oportunidade para brincar ao longo do caminho. Depois, quero tomar sorvete." Dicas simples, como encontrar uma sorveteria em um percurso desconhecido, se não forem repassadas por um conhecido, por um centro de informações turísticas ou um guia de viagem clássico, ainda são difíceis de se encontrar na internet. "As informações do Google são muitas vezes incompletas ou desatualizadas. Por exemplo, às vezes não dá para saber se a sorveteria está aberta", explica Michael Prange, professor de ciência de dados da Universidade de Kiel.
Guia de viagem inteligente no bolso
Prange está convencido de que a inteligência artificial tornará o planejamento de viagens cada vez mais fácil. Pois no futuro, todos poderão levar seu guia de viagens inteligente no bolso, na forma, por exemplo, de um aplicativo no celular. No entanto, o bom funcionamento desses sistemas inteligentes vai depender muito das informações que eles podem acessar. "Os dados são a base”, diz Prange.
O Centro de Turismo Alemão (DZT), que vende a Alemanha como destino turístico, está se esforçando para criar uma base de dados padronizada para o turismo no país. "As plataformas globais de vendas de viagens e passagens já estão usando IA para encontrar ofertas turísticas adequadas para seus clientes e exibí-las de maneira direcionada", diz Petra Hedorfer, CEO do DZT. No entanto, essas ofertas só podem ser encontradas se os dados forem processados adequadamente.
IA em todas as áreas
Tobias Blask, professor da Universidade de Ciências Aplicadas de Harz, também enfatiza a grande importância da base de dados para aplicativos de IA. "Esse ainda é um campo totalmente subdesenvolvido”, diz ele. As agências de atividades turísticas e os destinos que desejam ser notados precisam pensar em como podem disponibilizar e otimizar seus dados. "Tudo está se desenvolvendo muito rapidamente no momento. A IA influenciará tudo em nossa sociedade."
Para os turistas, isso tem um impacto no planejamento de viagens. Blask prevê uma espécie de "companheiro de viagem para toda a vida" que faz sugestões com base em decisões e interações anteriores. "Se eu planejar uma viagem e puder contar com uma IA que me entende e foi treinada para isso, então, por que ainda preciso de um agente de viagens?" No futuro, quem viaja a trabalho também poderá se beneficiar de aplicativos de IA que cuidam de tudo, do planejamento à remarcação de compromissos e reservas, se algo der errado. "Suponhamos que eu perca o trem”, diz Blask: "Seria muito melhor se um aplicativo se encarregasse de encontrar uma nova conexão e me informasse proativamente."
Chatbots já são padrão no atendimento ao cliente
Os aplicativos de IA no turismo não são, de forma alguma, novos. As cadeias de hotéis, as plataformas de reservas e as companhias aéreas, por exemplo, contam com sistemas de aprendizado de máquina para a determinação de preços há algum tempo. Os chatbots já assumiram as primeiras etapas do atendimento ao cliente como padrão em muitas empresas de turismo antes que um humano se envolva – se é que ainda se envolve, pois o chatbot geralmente resolve o problema. Esse também é o caso da DZT, onde "os chatbots de autoaprendizagem respondem às perguntas dos clientes 24 horas por dia e, assim, liberam os funcionários das tarefas rotineiras. "Atualmente, estamos trabalhando em um projeto piloto para introduzir influenciadores virtuais – figuras criadas artificialmente que devem funcionar como mídia publicitária. Com a ajuda de aplicativos de IA, eles podem atuar como embaixadores para construir pontes entre potenciais viajantes para a Alemanha e oferecer experiências reais de viagem”, informa a DTZ.
"A IA já atua no gerenciamento de destinos em vários lugares do mundo", explica Eric Horster, professor de Turismo Internacional da West Coast University e membro do Instituto Alemão de Pesquisa em Turismo. Na Baía de Lübeck, no Mar Báltico, por exemplo, há placas pela praia projetadas para controlar o número de visitantes e evitar que uma determinada área da orla fique superlotada. O número de pessoas é checado por sensores, que registram o número de visitantes da praia. O clima e o dia da semana também são levados em conta e analisados por meio de algoritmos para prever a utilização futura. Isso não é uma vantagem apenas para os banhistas, mas também para os destinos e seu negócios, que recebem informações importantes sobre o comportamento dos turistas.
Surpresas fazem parte das férias
No entanto, Horster ainda duvida que o "guia de férias inteligente” de bolso mude realmente a maneira como viajamos. "Não tenho certeza se é isso que os turistas realmente querem". Afinal de contas, o turismo também prospera por propiciar contato entre pessoas. É por isso que o bom e velho centro de informações turísticas ainda está em funcionamento. As surpresas, o inesperado, o autêntico também fazem parte das férias. "Será esse o futuro das viagens, saber tudo com antecedência e ter tudo planejado? Faz parte da experiência sair de bicicleta por aí a procurar uma sorveteria aberta."