Darwin e o darwinismo social
10 de fevereiro de 2009O barbudo senhor inglês teria ficado surpreso se alguém o confrontasse com a suspeita de que, no século 20, sua Teoria da Evolução seria a justificativa para crimes horrendos. Pois Charles Robert Darwin jamais foi um racista, afirma Matthias Glaubrecht, diretor do departamento de pesquisa do Museu Etnológico de Berlim.
"Ele era um homem típico da era vitoriana, ocupado consigo mesmo, sua família, sua propriedade rural. Era bastante apolítico. O fato de os nacional-socialistas evocarem sua teoria para impor uma visão política lhe causaria muita estranheza."
Para Glaubrecht, é incompreensível a persistência da ideia de que as pesquisas científicas de Darwin teriam dado impulso a médicos e teóricos racistas do nazismo. Trata-se de um total mal-entendido da teoria com a qual ele descreveu o fenômeno natural da mutação evolutiva. "Ele apresentou a teoria de uma seleção na natureza, mas não com uma meta determinada, voltada para a pureza de uma certa raça."
"Spencerismo" seria mais exato
A Teoria da Evolução é, portanto, uma constatação cientificamente fundada, passível de comprovação, através de fatos e da confrontação com outras teorias, afirma Glaubrecht. Enfim, o melhor que se pode desejar de uma teoria. Entretanto, Glaubrecht se incomoda com o termo "darwinismo".
"Não queremos associá-la a um nome; por exemplo, em relação à Teoria Quântica, não se fala em 'planckismo', nem a Teoria da Relatividade é 'einsteinismo'."
Inapropriado seria também relacionar o conceito "darwinismo social" a Darwin. "Luta pela sobrevivência", "direito do mais forte" jamais foram palavras de Charles Darwin, mas sim conceitos manipulados por outros. Não foi o biólogo nascido em 1809, mas sim o sociólogo inglês Herbert Spencer a aplicar as leis da evolução à sociedade humana. É dele que parte a noção de survival of the fittest – sobrevivência do mais bem adaptado. Glaubrecht tira a conclusão lógica:
"Justamente o darwinismo social é algo que se deveria chamar – se é que precisamos fazê-lo – de 'spencerismo'. Pois não tem absolutamente nada a ver com Darwin."
Racismo socialmente aceitável
No século 19 discutiam-se, em diversos círculos, noções racistas e antissemíticas. Cursava o mito dos "arianos" superiores: o ódio contra tudo o que fosse diferente e um nacionalismo pronunciado se disseminavam pela Europa.
As obras do francês Arthur de Gobineau e do publicista britânico Houston Stewart Chamberlain eram muito lidas. Seu tema era a superioridade da "raça branca", que criaria uma cultura mais elevada, enquanto outros povos, supostamente inferiores, tinham como única finalidade a servidão. A mistura das duas "raças" devia ser considerada decadente e perniciosa.
A partir do darwinismo social desenvolve-se a assim chamada eugenia, uma ideologia extremamente desumana, cujo fundador foi justamente um primo de Charles Darwin, o matemático Francis Galton. Seus adeptos propunham aperfeiçoar o material genético humano através da criação direcionada, como a praticada com os animais domésticos. Consequentemente, apenas as pessoas "racialmente mais valiosas" deveriam se reproduzir.
Solo preparado para o nazismo
Em 1905 é fundada no Reich alemão uma "Sociedade de Higiene Racial"; em 1920 um jurista alemão e um psiquiatra redigem um ensaio sobre o "extermínio da vida indigna de viver".
A doutrina racial, supostamente fundamentada na biologia, toma impulso. Exige-se agora uma política de seleção, o extermínio dos judeus, a luta pela autopreservação e novos espaços vitais para a "raça dominante".
Quando Adolf Hitler e os nacional-socialistas subiram ao poder em 1933, o solo para sua política assassina já estava preparado. A Charles Darwin não cabe a menor responsabilidade pelos crimes nazistas.